Os dados divulgados por um levantamento realizado pelo Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde assustam: de 2006 a 2015, o número de brasileiros infectados pelo vírus da AIDS saltou, na faixa etária de 15 a 19 anos, de 2,4 para 6,9 para cada cem mil habitantes.
No caso de jovens com idades entre 20 e 24 anos, o número passou de 15,9 para 33,1; e para homens com idades entre 25 e 29 anos, de 40,9 para 49,5. Estatisticamente, os números revelam algo mais preocupante do que apenas números de grandes projeções: o vírus da AIDS voltou a crescer, principalmente entre os jovens.
Diferentemente da epidemia de HIV que assolou o Brasil na década de 80, a doença tem se alastrado de forma silenciosa entre os jovens. “O medo da morte, as imagens cadavéricas de pessoas que definhavam na segunda ala do hospital Emílio Ribas [localizado na região central da capital paulista] ficaram para trás, mas a doença ainda é grave. Naquela época, todo mundo tinha um amigo ou conhecia alguém que estava muito mal de AIDS”, explica o Dr. Paulo Olzon, infectologista e clínico geral da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Há um consenso de que o fato de a luta contra a doença, nos anos 1980, não ter sido vivida pela geração que hoje tem até 30 anos gera uma sensação de "normalidade". Não que apenas isso justifique o risco e o aumento de detecção, mas entidades e governo afirmam que é preciso mudar as campanhas e o meio de abordagem. Continuamos com essa visão hipócrita de que falar sobre sexo incita os mais jovens, e não damos ferramentas para que eles tomem decisões mais seguras em relação à sexualidade
As gerações mais velhas viram formas graves da Aids e tomaram outras atitudes. A juventude, com esses novos métodos [de tratamento], fica mais tranquila. É preciso achar novas formas de falar com os jovens sobre a infecção. A saúde pública precisa usar as mídias sociais, os aplicativos de encontro. As outras populações estão respondendo bem, a dificuldade é chegar ao jovem.
A prevenção é fundamental
Os jovens estão deixando de usar camisinha. Apesar dos alertas de que o preservativo evita DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) ou gravidez indesejada, diferentes justificativas aparecem e a ausência da camisinha vira hábito.
Para ter uma ideia, uma pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que 9 em cada 10 jovens de 15 a 19 anos sabem que usar camisinha é o melhor jeito de evitar HIV, mas mesmo assim, 6 em cada 10 destes adolescentes não usaram preservativo em alguma relação sexual no último ano.
Nem aqueles que são ainda mais jovens e estão no início da vida sexual dão atenção para o preservativo. A Pense (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar), publicada pelo IBGE, mostrou que em 2015, 33,8% dos adolescentes entre 13 e 17 anos que já tinham começado sua vida sexual não usou camisinha na última transa --o índice é nove pontos percentuais maior do que em 2012.
Quando perguntados, as justificativas para deixar de lado a proteção mesclam a falta de preocupação, de informação e o descuido.
Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira de 15 a 64 anos de idade, realizada em 2008 pelo Ministério da Saúde, revelou alguns fatores que contribuem para o aumento da vulnerabilidade de adolescentes e jovens ao HIV. Entre eles estão com dificuldade no acesso à informação e à formação; o pouco reconhecimento de direitos sexuais e reprodutivos de adolescentes e jovens; os estigmas e preconceitos (de gênero, identidade de gênero, raça/etnia, orientação sexual, geração, viver com HIV/Aids, entre outros); pouco diálogo com as famílias, especialmente, sobre sexualidade; e baixa frequência de adolescentes e jovens nos serviços de saúde.
A forma de se prevenir é através do uso de preservativo durante as relações sexuais. Hoje, não se vê mais campanhas, incentivos governamentais falando sobre o assunto. É preciso que essas informações cheguem aos jovens, que são muito diferentes dos portadores da década de 80, por exemplo. É muito raro morrer de AIDS hoje, mas isso não tira todo o estigma e sofrimento que essa pessoa vai passar durante a sua vida. É um tratamento para o resto da vida.
Deixar de usar camisinha não acarreta apenas na possibilidade de transmitir o vírus HIV, existem diversas DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) que podem prejudicar a tua saúde. Em 2015, a sífilis teve um aumento de 32,7% entre os adultos, chegando a 65.878 casos no Brasil.
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