João Pedro Pereira
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O Governo e as autarquias estão a abrir caminho aos carros autónomos. Neste domingo, eu e o meu colega Luís Villalobos demos aqui conta de sinais de que os decisores públicos em Portugal não querem ficar para trás na adopção desta tecnologia.
Por um lado, Portugal e Espanha assinaram uma carta de intenções para criar corredores de circulação de veículos autónomos (Porto-Vigo e Évora-Mérida). Por outro, Viseu e Cascais (pelo menos) estão a fazer pequenas experiências com veículos sem condutor. Também já tinha sido noticiado que, ainda este ano, serão feitos testes em algumas artérias da periferia de Lisboa.
Mencionar carros autónomos cria na mente de muitos a imagem futurista de automóveis semelhantes aos carros particulares de hoje, mas cujos ocupantes podem tirar os olhos da estrada e aproveitar esse tempo para conviver, trabalhar ou descansar. Com essa imagem futurista em mente é fácil que se siga algum cepticismo: ainda são precisas alterações legislativas; a tecnologia tem de ser comprovadamente segura; e é necessário convencer os consumidores (um automóvel não se compra todos os anos; em Portugal, a idade média da frota supera os 12 anos).
Porém, o caminho não tem de ser linear e a tecnologia está a alimentar outros cenários que podem conviver lado a lado com o de carros autónomos particulares (e que podem chegar mais rapidamente): o de camiões e autocarros sem condutor, e o de frotas autónomas ao dispor de clientes com uma aplicação no telemóvel (a Uber é uma das empresas a investir fortemente nesta tecnologia). E tudo isto não chegará ao mesmo tempo, nem de repente: estão delineados cinco níveis de condução autónoma e será um processo gradual até ao quinto nível, aquele em que os veículos operam sem condutor em todas as circunstâncias.
Se, ainda assim, o cenário de condução autónoma parece ficção científica, peguemos numa efeméride para mostrar como as “revoluções” tecnológicas têm sido rapidamente assimiladas. Não é preciso ir mais longe do que o browser (ou navegador para a web), o programa como o Chrome ou Firefox, no qual, provavelmente, está a ler esta newsletter.
A revista Wired assinalou neste domingo os 25 anos do Mosaic, o primeiro browser a mostrar na mesma página texto e imagens e que ganhou popularidade por poder ser usado com um rato. Eis o deslumbramento com que a revista descrevia o Mosaic em Janeiro de 1994:
“O Mosaic é o aclamado ‘navegador’ gráfico que permite aos utilizadores viajarem pelo mundo da informação electrónica utilizando uma interface de apontar e clicar. A aparência elegante do Mosaic encoraja os utilizadores a carregarem os seus documentos na Net, incluindo fotos a cor, excertos de sons, vídeos e links de hipertexto para outros documentos. Ao seguir os links – clique, e o documento aparece – pode-se viajar pelo mundo online ao longo de caminhos de capricho e intuição.”
Uns cinco anos depois (talvez até menos) todas as incríveis novidades do Mosaic já eram banais. Não deveria, por isso, custar a crer que, dentro de uma década ou duas, seja rotina ver na estrada carros sem volante. Assenta aqui bem uma velha máxima que se aplica à segurança rodoviária: devagar se vai ao longe.
Digno de nota
- Depois da audição de Mark Zuckerberg no Senado, houve quem achasse que o Facebook ia aplicar as regras europeias de protecção de dados a todo o mundo. Zuckerberg, na verdade, tinha dito que talvez usasse algumas dessas regras em algumas geografias, sem especificar mais do que isto. Agora, tomou uma medidapara garantir que os utilizadores fora da Europa (mas que, na sua maioria, se vinculavam aos termos de serviço da sede da empresa na Irlanda) não são abrangidos pelo novo Regulamento Geral de Protecção de Dados.
- O Reddit, lançado em 2005, é um fórum online cujo nome não se ouve com frequência, nem costuma aparecer nas notícias dos jornais. Mas já tem mais utilizadores do que o Twitter e, feitas as contas apenas ao site (excluindo as respectivas aplicações), consegue fazer com que as pessoas lá passem mais tempo do que no Facebook.
- Na Tecnologia do Público, não costumamos fazer testes de produtos. Mas, por vezes, abrimos excepções. Desta feita, o historial conturbado da BlackBerry e o facto de continuar a fazer telemóveis com teclados físicos justificaram a análise. O BlackBerry KeyOne (Black Edition) é para fanáticos de teclados, escreve o Alexandre Martins.
4.0 é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e empreendedorismo. O conteúdo patrocinado nesta newsletter não é responsabilidade do jornalista. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.
Fonte: Público
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