segunda-feira, 7 de maio de 2018

O talentoso sr. Costa

Ninguém de bom senso acredita que a sintonia entre três dos principais rostos do PS tenha sido fruto do acaso.
Celso  Filipe
Celso Filipe 06 de maio de 2018 às 23:00

António Costa quebrou uma regra transversal a todos os primeiros-ministros e que, geralmente, serve de pretexto para contornar assuntos incómodos, a de não se comentar assuntos internos quando se está numa visita ao estrangeiro.

António Costa quebrou essa regra para falar de José Sócrates em duas circunstâncias. A primeira para dizer que a confirmação das suspeitas sobre o ex-primeiro-ministro e o antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, seria uma desonra para a democracia. A segunda para se mostrar surpreendido com a decisão de José Socrates de se desfiliar do PS, justificada pelos comentários de Carlos César (presidente do partido), João Galamba (líder do grupo parlamentar) e do próprio Costa, aos casos de justiça em que está envolvido. 

Ninguém de bom senso acredita que a sintonia entre três dos principais rostos do PS tenha sido fruto do acaso. Antes pelo contrário, tudo aponta para que tenha sido premeditada, de forma a colocar um ponto final à sombra tutelar de José Sócrates e erradicar o socratismo do PS.

António Costa apresentar-se-á, assim, no congresso do partido marcado para o final de Maio, como líder incontestado, querendo unir o partido em torno daquele que é o objectivo prioritário, conquistar a maioria absoluta nas eleições do próximo ano.

Em paralelo, arquiva definitivamente o caso Sócrates na prateleira da justiça, libertando o PS de qualquer responsabilidade política pelos eventuais ilícitos cometidos pelo seu antigo líder. 

Mais do que nunca, Costa poderá clamar: à justiça o que é da justiça, à política o que é da política, e pedir aos eleitores que se concentrem na avaliação do seu Governo.

Neste particular, o actual líder do PS revelou um talento superior ao de Sócrates. Tomou a iniciativa e contou com a impulsividade do antigo primeiro-ministro para fazer o resto do trabalho. O PS pode agora seguir em frente sem ter medo do passado na medida em que acabou por concentrar todos os problemas numa pessoa e na sua acção, José Sócrates. 

O talentoso sr. Costa domesticou o animal feroz e tem agora, politicamente falando, o caminho livre.

Fonte:jornaldenegocios

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