Tudo começou aos oito anos de idade, quando recebeu a sua primeira caixa de magia. Naquele momento, soube que queria ser mágico.
Hoje, vinte e cinco anos depois, Daniel Guedes é um dos mais reconhecidos ilusionistas portugueses. Na sua carreira, o mágico de Matosinhos conta com diversos prémios e inúmeras participações televisivas sendo, atualmente, mágico residente no programa “À Conversa com Ricardo Couto”, no Porto Canal, e mágico oficial da UEFA.
Por gostar de desafios e de se pôr à prova, Daniel decidiu participar na edição deste ano do programa “Got Talent Portugal”, na RTP. E, mais recentemente, presenteou-nos com o espetáculo “52”. A Casa em Movimento (Matosinhos), idealizada pelo arquiteto Manuel Vieira Lopes, foi o local escolhido para Daniel fazer magia non stop durante 52 horas. Assim, das 10h do dia 25 de maio às 14h do dia 27 de maio, Daniel Guedes adotou a Casa em Movimento como sua casa e realizou diversos espetáculos de magia para quem quisesse assistir. Tudo o que o público tinha de fazer era tocar à campainha e, independentemente da hora que fosse, o mágico abria as portas da sua casa e, imediatamente, realizava um truque de magia.
Dois dias depois desta aventura, o Jornal Mira Online encontrou-se com o Daniel que, ainda visivelmente cansado, nos contou como viveu esta experiência.
Daniel, já conseguiste recuperar as horas de sono? (risos)
Ainda não totalmente (risos). Mas hoje já estou bastante melhor. Já passaram três dias. Portanto, isto foi no domingo… Hoje é quarta, certo? (risos)
Ainda estás meio perdido nos dias (risos)
Ainda estou meio baralhado. Mas já estou muito melhor. Segunda-feira foi o dia mais complicado, naturalmente. Agora já estou mais recuperado.
Tinhas algum plano já preparado para conseguir estar 52 horas fechado no mesmo sítio?
Descansei o máximo possível nos dias anteriores e também reservei os dias seguintes para poder estar mais descansado. Acima de tudo, nem é dormir muito nos dias seguintes, é mesmo não ter coisas com que me preocupar.
E mesmo lá dentro, podias sempre tirar uns minutos para descansar…
Sim e tive que o fazer senão não me aguentava (risos).
Tens noção de quantas vezes ouviste a campainha tocar?
Não, foram muitas. E bater à porta. Inclusivamente, houve duas ou três vezes que eu já estava a dormir e tocaram à porta. Eu acordei, fui abrir e fiz magia. Assim, meio ensonado, de pijama… (risos).
E os truques surgiam-te na hora? Tu acordavas e sabias logo o que ias fazer?
Sim. Claro que eu levei um reportório grande para o evento, portanto, levei uma lista de várias dezenas de números para apresentar. Mas no momento é que decidia o que me apetecia fazer, também em função do público.
Conta-nos um bocadinho de como foram esses três dias.
Foi uma experiência muito gira. Recebi a visita de vários amigos. E, basicamente, eu estive disponível durante 52 horas consecutivas para fazer magia. Nos momentos em que não havia público, era quando eu aproveitava para tentar descansar. As manhãs eram um pouco mais calmas, mas as tardes e a noite era sempre a andar (risos). Às vezes tive dificuldades em arranjar tempo para conseguir comer. Mas a experiência excedeu todas as expectativas e estou a ponderar repetir.
Este tipo de iniciativas é sempre interessante porque tu nunca sabes muito bem o que esperar. Houve algum acontecimento que te tivesse marcado particularmente durante essas 52 horas?
Várias coisas. Acima de tudo, deu para rever imensos amigos que já não via há imenso tempo. Por outro lado, as reações do público são sempre o melhor de tudo. Se calhar até mais das crianças. Há reações sempre muito boas e expansivas que torna tudo muito motivante.
2018 é também o ano que marca a participação de Daniel num concurso televiso. O mágico marcou presença no programa “Got Talent Portugal”, na RTP , onde chegou às semi-finais.
Há pouco tempo concorreste ao Got Talent Portugal. O que é que te levou a participar num programa televisivo?
Em primeiro lugar, o desafio. Gosto do espírito da competição e de me pôr à prova. E, portanto, entrei com o objetivo de ganhar e de ser o primeiro mágico a vencer este tipo de programas em Portugal. Em segundo, naturalmente o objetivo de me divulgar e tornar o meu trabalho mais conhecido e esse objetivo foi completamente conseguido.
Como referiste, nunca nenhum mágico ganhou um concurso de talentos. Achas que as pessoas ainda não estão preparadas para dar a vitória a um mágico?
Acho que sim. Isso viu-se nas atuações que chegaram à final. Essencialmente eram, ou da área de música, ou de dança, e isso é o que se verifica ano após ano nestes programas. E acho que, fora dessas áreas, haviam atuações incríveis. Por exemplo, o Bruno Rosa, o NTS,… Se calhar o público, por algum motivo, não se sente atraído para este tipo de talentos e vai sempre parar novamente à dança ou aos cantores que, obviamente, não têm culpa nenhuma disso porque também são muito bons!
É diferente fazer magia na rua e na televisão?
Sim, claro. Quando estamos a fazer magia em televisão, o público são as câmeras. Se é em direto ou se é gravado também é diferente. Às vezes pode ser mais difícil conseguir passar a mensagem. Mas acho que o essencial é o mesmo: surpreender e fazer as pessoas sonhar.
Tu dás muita importância à proximidade com o público e isso viu-se no programa…
Sim, aliás, na primeira vez, envolvi a plateia toda. Distribuí 52 baralhos de cartas. E, na atuação seguinte, também envolvi a plateia toda com uma bola gigante que andou a passear pelo meio do público para fazer a escolha aleatória dos espetadores que eu precisava.
A magia torna-se mais real quando a pões nas mãos das pessoas?
Eu acho que sim. O melhor número não é, necessariamente, aquele número grande em que se faz desaparecer um avião ou uma estátua. Eu acho que o melhor número pode ser aquele que acontece na mão do espetador, porque a pessoa diz “estava na minha mão e desapareceu”. Eu acho que isso tem um potencial e um impacto junto do espetador muito maior.
E o espetador ainda percebe menos de que forma aquilo aconteceu… (risos)
Sim, naturalmente que sim. Mas eu costumo dizer que o espetador também tem de ter o compromisso de se deixar enganar. Tem de se deixar levar. É um acordo. Eu estou aqui para iludir, mas as pessoas também têm de se deixar ser iludidas e não estarem do início ao fim a tentar perceber como é que foi feita a ilusão. Acho que é difícil, mas é melhor para o espetador abstrair-se de como foi feita a ilusão e, por momentos, acreditar que não há mesmo impossíveis e que a magia existe.
Saber como se faz nunca te desiludiu?
O que me motivou no início foi, ao assistir um espetáculo de magia, vivi a magia de tal forma que pensei “mais do que querer saber como é que isto se faz, eu quero provocar aos outros isto que estou a sentir”. Foi isso que me motivou a ser mágico.
Saberes como se faz não tirou a magia à magia…
Não. O segredo não é o principal. Obviamente, sendo mágico, sei como são feitas praticamente todas as ilusões de todos os mágicos do mundo e continuo a gostar de ver um bom espetáculo de magia. Consigo apreciar a parte mais técnica e ver a capacidade de comunicação do artista. No fundo, é como na música: qualquer um de nós conhece a escala de notas. A escala é como se fosse o segredo da música. Mas a sequência com que essas notas são colocadas numa melodia faz com que nós gostemos do que estamos a ouvir. Acho que a magia é a mesma coisa. Conseguimos disfrutar mesmo sabendo o segredo.
E achas que a magia deve ser reinventada? Ou seja, tornar um truque que já foi visto imensas vezes em algo diferente…
Eu tenho essa preocupação. Eu gosto muito de pegar nos clássicos da magia e tentar dar-lhes um toque pessoal e apresentar as coisas à minha maneira.
É essa originalidade que consegue levar um mágico a viver só da magia em Portugal? Porque não é fácil viver apenas da magia no nosso país…
Em Portugal é um bocadinho difícil viver do que quer que seja (risos). Acho que sim. Acho que o sucesso de um artista passa pela originalidade. No caso da magia, acho que passa muito pelo que eu chamo as “artes anexas” à magia. É muito importante a originalidade, a comunicação, a apresentação, a forma como se trata e se fala com o público… A verdade é que eu reparo que as pessoas que veem hoje o meu espetáculo amanhã lembram-se de um ou dois números, no máximo. Mas ficam com a sensação de que foi divertido. É isso que fica na memória das pessoas, não é o truque propriamente dito. Portanto, tudo isto que está à volta da parte mais técnica é tão ou mais importante do que a execução.
Um talento exige sempre muito trabalho. Em média, quanto tempo praticas?
Depende das fases em que estou do espetáculo. Se for num espetáculo que está em fase de criação e de estreia, requer mais trabalho e mais prática. Se for em espetáculos que já estão mais construídos e preparados, é preciso ir fazendo uma revisão da matéria antes de apresentar no espetáculo.
Relativamente a próximos espetáculos, por onde vais estar e o que vais estar a fazer?
Eu vou andar em tour depois do verão, a partir de outubro. Vai chamar-se “52”. Esta coisa das 52 horas (risos). Tem a ver com o número de cartas de um baralho. Vem da minha influência por parte da matemática. Eu gosto muito de números e da simbologia que lhes está associada. Este espetáculo vai ser, sobretudo, sobre magia com cartas. Mas não só. E este evento de 52 horas de magia non stop foi a primeira ação promocional que, como correu mesmo muito bem, estou a pensar repetir. Portanto, andar um pouco pelo país a fazer mais sessões de 52 horas de magia. Esta sexta-feira, dia 1 de junho, vou estar na Casa da Música. Na celebração do Dia Mundial da Criança, vai haver um espetáculo de acesso livre, no exterior da Casa da Música. Eu vou estar a fazer magia, mas vai haver também um espetáculo de marionetas e um malabarista e equilibrista (André Borges). Vai ser um espetáculo desde as 10h até às 16h.
Jornalista Cátia Barbosa/Jornal Mira Online
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