domingo, 1 de julho de 2018

“Falar sobre…” Expofacic (Texto de Gonçalo Magalhães)

A Expofacic é, provavelmente, o evento mais importante para o Município de Cantanhede. Poderemos referir também o Folk pela sua projeção internacional que, de facto, é notória no entanto, o impacte que tem a Expofacic para Cantanhede, nos mais diversos níveis, torna-a algo de especial. Como deverão saber, este ano a feira começa a 26 de Julho (o dia a seguir ao feriado municipal), perdurando por 11 dias até 5 de Agosto, com o encerramento do evento com o tradicional fogo-de-artifício seguido da já veterana atuação dos Xutos e Pontapés.
Não vou ocupar esta oportunidade falando sobre aquilo que uma pequena pesquisa “pela internet fora” poderá resolver. Vou sim, aproveitar a oportunidade da palavra que me é dada para colocar algumas questões e lançar alguns desafios que me parecem razoáveis, não deixando de partilhar convosco a minha opinião sobre o evento.
Antes de mais, cabe-me felicitar toda a Organização da Expofacic e a INOVA-EM em particular por, através de uma postura um tanto Kaizen, ter vindo a aumentar a notoriedade deste certame, tornando-o cada vez maior, mais atrativo e modernizado. Saliento, para a edição deste ano, a inclusão da exposição acerca do Titanic, mas sobretudo, destaco a integração do “Programa Sê-lo Verde” que tem em vista o incentivo à adoção de boas práticas ambientais, inovadoras e com forte impacte ambiental, social e económico nos grandes eventos.

Outro fator que não deixa de ter a minha atenção é a comunicação da Expofacic. Falo de todo o trabalho de marketing, publicidade e comunicação que, de facto, se apresenta bastante dinâmico nesta edição. Realço, por exemplo, não só o trabalho de design gráfico elaborado, como a campanha “1000 motivos, 1 destino”, que me parece bastante atualizada e próxima do consumidor e público-alvo.
ALGUNS DESEJOS:
Haverá sempre algo que melhorar, motivo pelo qual referi no início a filosofia Kaizen. Trata-se de uma filosofia japonesa que defende as práticas de melhoria contínua dos processos de gestão de eventos, neste caso particular.
Uma das coisas que vejo como um custo de oportunidade é o facto de turisticamente, o contributo da feira me parecer escasso para o município ou para a cidade em particular. Passo a explicar: A feira atrai muitos visitantes. Esperam-se mais de 385 mil, no entanto, o impacte fora do perímetro da feira parece-me reduzido. Não vejo que a cidade esteja a usar da melhor forma os visitantes da Expofacic. Gostaria que se refletisse sobre possíveis eventos, dos mais variados tipos, espalhados pela cidade, que motivassem o transeunte a conhecer e a experienciar a cidade de Cantanhede. Talvez fosse interessante, que o visitante pudesse ver como é agradável viver numa cidade centralizada, plana, verde e próxima. Talvez fosse um motor ou fator de atratividade à fixação de moradores. A Expofacic poderia ter, de entre outros, esse papel também. Julgo haver essa responsabilidade de “vender” a cidade de Cantanhede. Caso seja esse o objetivo. A título de exemplo: Imaginemos uma rua da cidade fechada ao trânsito automóvel, com comida de rua, alguma música e animação. Um cenário destes levaria o turista e visitante a circular pela cidade e consequentemente a contribuir para o seu progresso. Estes pequenos eventos poderiam acontecer no período antes da abertura da feira, para que não se desviasse atenções. Penso que seria uma forma de potencializar Cantanhede.
Outra pequena questão que gostaria de ver resolvida e que, julgo, contribuiria para o aumento de vendas dos comerciantes ali instalados, seria uma alteração no sistema de bilhetes de entrada. Um problema que as pessoas, por vezes, enfrentam é que ao circularem pela feira e notarem em algo que possam querer comprar, o seu desejo fica logo comprometido, pois não estão dispostos a andar “carregados” com o que compraram, esperando ainda para o jantar nas tasquinhas para só no fim da noite poderem levar os seus artigos ao carro. Atualmente existem várias soluções: o comerciante pode guardar o artigo até ao fim da noite para depois o cliente o ir levantar, ou o cliente pode dirigir-se ao secretariado para poder sair e voltar a entrar na feira. Embora estes mecanismos existam, considero-os como influenciadores na tomada de decisão de comprar e por isso, inibem a mesma. Um sistema que me parece mais atual e permissivo é o das pulseiras individuais, como as usadas em alguns festivais de música, por exemplo. Desta forma, uma vez que as pessoas comprem e coloquem a pulseira, podem entrar e sair do certame, sempre que lhes convier. Esta sensação de liberdade pode contribuir fortemente para a compra, e não motivava a partilha de bilhetes entre pessoas por entrar e as que já entraram.
UMA PREOCUPAÇÃO
Não deixo aqui de comentar algo que como urbanista me faz muita confusão. A Expofacic dura 11 dias e realiza-se numa área de sensivelmente 10 hectares centrais na cidade. Ora, naturalmente, esta área é extremamente valiosa e importante para a cidade mas, no entanto, encontra-se expectante durante 354 dias do anos pelos restantes 11. Quero dizer com isto que, acho importante repensar aquele espaço e o próprio modelo da Expofacic para que toda a área possa ser de usufruto público durante todo o ano. Vários projetos não aconteceram ou não avançam pelo sacrifício que causariam à Expofacic. Entendo o valor que esta feira tem para o Município de Cantanhede mas, na minha opinião, a cidade com continuidade urbana e bem resolvida durante todo o ano tem muito mais valor para que cá vive. Seria importante refletir sobre o futuro da feira e questionar alguns aspetos que hoje consideramos adquiridos, como a localização dos diversos setores. A verdade é que poderá estar na altura de tomar algumas decisões mais arrojadas que contribuam para o desenvolvimento de longo prazo. Quer da Expofacic, quer da cidade de Cantanhede. Possivelmente, e voltando à filosofia inicial, estará na altura de adotar uma postura Kaikaku (mudança radical).

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