Portugal ultrapassou a Espanha no número de incêndios florestais e área territorial ardida. Em média, em Portugal, há mais 35% de ocorrências e 20% de destruição por causa dos incêndios do que em Espanha, apesar da área agroflorestal ser 80% menor.
Os dados encontram-se num relatório organização World Wide Fund (WWF), sobre os fogos no noroeste ibérico, que apela aos políticos para deixarem de falar de máfias do fogo, porque segundo essa organização a máfia do fogo não existe.
Os dois países da península ibérica estão na mesma situação, quanto ao impacto dos fogos. Mas, segundo o relatório “O barril de pólvora do noroeste”, da WWF, a fatura mais negra cabe a Portugal: só no ano passado, a área queimada nacional aumentou cerca de cinco vezes, somando 440 mil hectares ardidos, “uma média de quase 400% mais que na última década”. Em Espanha, aumentou quase 200% em relação ao mesmo período.
O estudo, que foi apresentado esta quita-feira de manhã, em Lisboa, por um grupo de trabalho de portugueses e espanhóis, alerta que “ambos os países enfrentam a mesma emergência devido a esta nova vaga de grandes incêndios florestais, que se caracterizam por um comportamento volátil e que muitas vezes acontecem fora da época esperada”.
Portugal é o país europeu mais afetado por incêndios. Nos últimos 30 anos, é o país com maior taxa de ocorrências por área e onde os fogos foram de maiores dimensões.
As comparações com o resto do mundo são ainda mais penalizadoras para os portugueses: o país “é o primeiro da Europa e o quarto do mundo com a maior massa florestal perdida até ao momento no século XXI, devido em grande parte aos incêndios florestais que assolam o país todos os verões”.
A culpa não pode ser dada aos eucaliptos
Tendo em conta os incêndios no ano passado até 31 de outubro, 94% dos 16.981 pedidos de auxílio registaram-se a norte do Rio Tejo. Algo que, refere a organização não-governamental ambientalista, é recorrente e afeta maioritariamente os distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu.
Quanto às causas das chamas, a WWF começa por “desmistificar” algumas ideias feitas, entre elas a de que a maioria se deve a mão criminosa ou de que o eucalipto é uma árvore maldita.
“Conspiração incendiária, terrorismo ambiental ou máfias organizadas são expressões que se repetem recorrentemente quando há uma onda de incêndios como o que atingiu o noroeste ibérico em outubro de 2017, ou na Galiza em 2006”, lembram os peritos, que deixam uma mensagem para o poder: “Os responsáveis políticos devem ser muito cautelosos ao fazer esses tipos de declarações que confundem a opinião pública e não se adequam à realidade”.
“Pelo contrário, eles deveriam falar sobre o uso desregulado de fogo no Noroeste, o abandono rural, a falta de gestão florestal, o nulo planeamento territorial, que cercou as aldeias com quantidades crescentes de biomassa florestal, ou o investimento muito reduzido na prevenção real”, aponta-se.
Já o eucalipto – se a “extensa monocultura de eucaliptos que atravessa a cornija cantábrica (a norte de Lugo e da Corunha, as linhas costeiras das Astúrias e da Cantábria e os vales ocidentais da Biscaia) raramente arde”, porque motivo “os eucaliptos em Portugal, Pontevedra, Huelva ou Sevilha ardem repetidamente em incêndios muito perigosos”? Diz a WWF que tem tudo a ver com a organização ou, aliás, com a falta dela e de planeamento.
“A inflamabilidade de uma massa florestal não depende da espécie, mas de sua estrutura, isto é, da quantidade e forma em que a biomassa disponível é organizada. E isso é uma consequência direta da gestão dessas florestas. Assim, uma plantação de eucaliptos em produção não é tão inflamável quanto uma plantação abandonada”, lê-se no documento distribuído aos jornalistas, que aponta a necessidade de se “promover o planeamento florestal coletivo”.
Os incêndios não se apagam. Evitam-se!
Segundo a World Wide Fund, o custo da extinção de incêndios nos dois países da Ibéria “excede em muito os mil milhões de euros a cada ano”. “Hoje, a maior parte dos fundos alocados às florestas nos orçamentos regionais e nacionais estão destinados à extinção. Grandes Incêndios não é adquirir mais hidroaviões, mais camiões ou criar mais pontos de água. Os Grandes Incêndios não se extinguem com a água, mas com planeamento territorial e desenvolvimento rural”, critica o relatório.
Os caminhos para a solução nada trazem de novo ao que já se fala há muito, mas a WWF elenco-os em três pilares e sugere uma luta concertada entre os dois países: “uma prevenção estratégica do fogo a nível ibérico que revitalize o território e o torne menos vulnerável; medidas contra a impunidade, já que menos de 10% dos autores de fogo são identificados; e ação efetiva perante a problemática das alterações climáticas”.
Fonte: JN
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