Se tivéssemos um bolo-rei poderíamos dizer que saiu o brinde aos arguidos e a fava ao Ministério Público (MP).
Na prática, Carlos Alexandre era o amargo de boca que as defesas queriam evitar e Ivo Rosa o brinde que todos procuravam. E assim foi: o sorteio realizado esta sexta-feira ditou que o juiz da Madeira vai liderar a fase de instrução da Operação Marquês.
Quando foi conhecido o nome do juiz de instrução, os arguidos terão suspirado de alívio porque Carlos Alexandre, que liderou o inquérito da Operação Marquês, ficou finalmente fora de jogo. Por outro lado, Ivo Rosa já trouxe vários amargos de boca aos magistrados do MP.
O arquivamento de casos como TAP/Sonangol e a anulação de perícias da Polícia Judiciária (PJ) ou do estatuto de arguido de Manuel Pinho no caso das rendas da EDP são apenas alguns exemplos. No fim das contas, os procuradores acusam Ivo Rosa de arquivar processos fortes e ter tendência para absolver os arguidos. Ainda assim, o magistrado tem fama de ser cumpridor de prazos e célere nas sentenças. Seja como for, é Ivo Rosa que vai agora decidir o futuro dos arguidos, incluindo José Sócrates, e determinar quem segue para julgamento.
O juiz da Madeira
Natural da Madeira, Ivo Rosa nasceu a 17 de setembro de 1966. Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, mas foi advogado durante escassos meses. Em 1991 foi assessor jurídico da Câmara Municipal do Funchal e, nesse mesmo ano, embarcou para Lisboa para se tornar juiz pelo Centro de Estudos Judiciários aos 26 anos.
Em 2006 trabalhou em Timor (onde entrou em conflito com o Governo timorense e o Conselho Superior da Magistratura), e alguns anos mais tarde na Guiné-Bissau. No regresso a Portugal, tornou-se juiz-presidente das Varas Criminais de Lisboa e em 2015 chegou ao Tribunal Central de Instrução Criminal, terminando com a hegemonia de Carlos Alexandre no tribunal especial que apenas trata da instrução dos processos do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
Agora é o senhor que se segue na instrução da Operação Marquês, um dos casos mais mediáticos da justiça portuguesa.
O sorteio
O sorteio electrónico que fez a distribuição dos processos começou às 16.12h e demorou alguns minutos devido a complicações informáticas. O número do processo foi inserido no computador e entregue de forma aleatória a Ivo Rosa. O próprio magistrado testemunhou o processo e o resultado, por ser o juiz de serviço no Tribunal Central de Instrução Criminal esta sexta-feira.
A assistir estiveram ainda vários jornalistas e apenas uma advogada de defesa (Henrique Granadeiro). A maioria dos advogados que tinham pedido para comparecer acabou por não estar presente, nem o consultor técnico que a defesa de José Sócrates tinha solicitado.
Maria Miguel Cabo / TSF
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