Ir para a praia, tomar uma cerveja com os amigos, sair para dançar, ler um livro, fazer compras... para muita gente, essas são atividades extremamente prazerosas. Porém, para uma parcela cada vez maior da população, nada disso tem graça.
O que é anedonia?
Citada pela primeira vez em 1896 pelo psicólogo francês Théodule-Armand Ribot, a anedonia atinge, segundo o psiquiatra Luiz Scocca, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Americana de Psiquiatria (APA), cerca de 70% dos pacientes com depressão. E os números da doença são altíssimos. No mundo, ela afeta 322 milhões de pessoas. Já no Brasil, 11,5 milhões (ou 5,8% da população) - só na capital paulista, estima-se que 18% dos moradores já tiveram um episódio.
A anedonia é o sintoma nuclear da depressão. É um problema complicado e que varia de intensidade de acordo com a gravidade do transtorno. Isso significa que o paciente pode perder o prazer por uma coisa específica e que sempre gostou muito, como escutar música e comer, ou por todas.
Essa condição inibe os comportamentos saudáveis, fundamentais para uma vida plena e feliz. Com ela, a pessoa deixa de se relacionar com os outros, mantendo um isolando social, e passa a ter mais pensamentos negativos.
O que também ocorre é que ela se torna indiferente consigo mesma, não tendo apego por nada e nem ninguém. O indivíduo parece estar emocionalmente vazio ou "congelado", sem sofrer alterações de humor, independentemente do que aconteça ao seu redor. E nem sempre ele se dá conta disso - em muitos casos, são os familiares que observam e fazem o apontamento.
Tendo grande impacto na qualidade de vida, a anedonia ainda provoca uma sensação de desconexão com o mundo e, o que é pior, eleva o risco de suicídio, vide o ocorrido com Alice.
Causas
A anedonia nunca vem sozinha. Normalmente, é acompanhada de desânimo, cansaço, fadiga, apatia, diminuição de energia e dificuldade de concentração. E, apesar de ser o sintoma central para o diagnóstico da depressão mais severa, também pode acometer usuários de drogas e álcool, sobretudo durante as crises de abstinência, e quem sofre de esquizofrenia, neurastenia, Mal de Parkinson, câncer, estresse pós-traumático, distúrbios alimentares e transtornos de ansiedade.
Ao contrário do que muita gente pensa, ela não ocorre apenas em adultos, podendo se dar também em crianças e adolescentes, e é mais comum em mulheres. Mas o que causa exatamente esse problema?
É uma questão neurobiológica, e o que sabemos por enquanto é que está associada à diminuição da atividade no circuito de recompensa do cérebro. Seu surgimento também parece estar ligado ao aumento da atividade na região frontal do córtex pré-frontal, que, dentre outras funções, controla a inibição das respostas emocionais, e aos baixos níveis de dopamina, importante neurotransmissor responsável pelas sensações de bem-estar e prazer.
Tratamento
As depressões são heterogêneas e multifatoriais, por isso não existe um tratamento único. Fora que o que funciona para uma pessoa não necessariamente será bom para outra. No entanto, de maneira geral, o que propomos é o uso de fármacos, podendo ser antidepressivos, estabilizadores de humor e ansiolíticos, associados com a terapia.
É fundamental fazer terapia para lidar com a anedonia e a depressão. Não adianta só tomar o remédio se não tratar da causa, o que fez com que a pessoa chegasse a esse estado emocional de não ter prazer algum nas coisas que antes eram consideradas prazeirosas e até de viver.
Além disso, também é importante cuidar do sono e ter uma rígida manutenção da rotina, incluindo aí boa alimentação, atividade física constante e momentos de lazer. Junto a isso, é fundamental a colaboração da família e dos amigos.
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