sexta-feira, 19 de abril de 2019

Mundo | Jovem queimada viva na escola por denunciar assédio sexual

Nusrat Jahan Rafi, de apenas 19 anos, foi regada com combustível e queimada viva na escola que frequentava, no Bangladesh, depois de ter denunciado os abusos sexuais perpetuados pelo diretor do estabelecimento de ensino.
Rafi vivia numa pequena cidade a 160 km de Dhaka, a capital e maior cidade do Bangladesh. A jovem, de apenas 19 anos, estudava numa madraça, uma escola islâmica.
Segundo explica a BBC, no final de março, Rafi foi chamada ao gabinete do diretor que a terá tocado de forma inapropriada várias vezes. A jovem ainda conseguiu sair da sala antes da situação se tornar mais agressiva.
Depois do incidente, a estudante foi à polícia fazer queixa do que lhe tinha acontecido. O seu depoimento foi filmado pelas autoridades e acabou por ser publicado em alguns meios locais. Na sequência da denúncia, o diretor da escola foi despedido.
O que deveria ser uma mudança benéfica para a situação da jovem foi o início de um processo que terminou da forma mais trágica possível. Com o apoio de vários políticos locais, grupos de pessoas começaram a exigir a libertação do diretor e a ameaçar Rafi e a sua família.
No dia 6 de abril, onze depois do caso de assédio, Rafi teve que se deslocar à escola para fazer os testes do final de semestre. "Tentei levar a minha irmã à escola, mas não me deixaram entrar", disse, à BBC, Mahmudul Hasan Noman.
Depoimento antes de morrer entrega criminosos
De acordo com o depoimento da jovem, a que a BBC teve acesso, depois de ter sido deixada na escola pelo irmão, um estudante levou-a para uma sala onde foi pressionada a abdicar da queixa. Quando se recusou, foi incendiada.
Banaj Kumar Majumder, da polícia local, disse que os assassinos tinham como objetivo fazer o crime parecer um suicídio. O macabro plano falhou quando a jovem conseguiu fugir e ser resgatada.
"Um dos assassinos estava a segurar a cabeça dela com a mão e eles não conseguiram chegar combustível a essa parte do corpo. Foi por isso que não lhe queimaram a cabeça", explicou Majumder.
Quando a jovem chegou ao hospital tinha 80% do corpo queimado e os médicos tiveram que a levar para o Hospital Universitário de Dhaka. Na ambulância, e com medo de não sobreviver, gravou o depoimento no telemóvel do irmão. A jovem não conseguiu sobreviver e morreu no dia 10 de abril.
Comoção nacional
A notícia rapidamente se espalhou por todo o país motivando protestos em várias cidades. Depois da morte de Rafi, milhares de pessoas compareceram no funeral da jovem.
Desde o incidente, a polícia prendeu 15 pessoas, sete das quais diretamente envolvidas com o homicídio. O polícia que filmou o depoimento de Rafi foi também afastado do cargo.
Sheikh Hasina, primeira-ministra do Bangladesh, encontrou-se com a família de Rafii no funeral e prometeu que todos os envolvidos na morte da jovem seriam levados à Justiça. "Nenhum dos culpados vai escapar", disse.
De acordo com estatísticas não oficiais, em 2018 houve 940 registos de violação no país. No entanto, alguns investigadores acreditam que o número é superior.
JN
Fotos: DR

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