A Comissão multisectorial de inquérito a queda da ponte e condutas de transporte de água potável para Cidade e Província de Maputo concluiu que as estruturas colapsaram devido a “falta de manutenção preventiva”. O @Verdade apurou que contratualmente as manutenções das infra-estruturas de grande dimensão são da responsabilidade do FIPAG que desde 2010 nunca acedeu positivamente aos clamores da Águas da Região de Maputo, empresa que explora o sistema de distribuição do precioso líquido nos municípios de Maputo, Matola e Boane.
Na noite do passado dia 7 de Fevereiro colapsaram cinco tramos de uma ponte sobre o rio Umbelúzi, na região de Campoane, o que originou o desabamento de 150 metros de duas condutas adutoras de transporte de água potável a partir da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Umbelúzi até aos centros distribuidores existentes nos municípios de Boane, Matola e Maputo.
A capital de Moçambique enfrentou alguns dias de restrições do precioso líquido até a ponte, construída em 1986, e as condutas, que entraram em funcionamento dois anos depois, serem reparadas de emergência.
Composta pela Inspecção Geral das Obras Públicas, pelo Laboratório de Engenharia de Moçambique, engenheiros da Universidade Eduardo Mondlane e da Ordem, a Comissão notou que “as infra-estruturas de sustentação não estão em bom estado”.
Foi revelado a jornalistas nesta quinta-feira (19) que as estruturas de apoio das condutas na ponte, transversinas em treliça, “tem problemas de corrosão”.
As braçadeiras metálicas que fixavam as duas condutas a ponte tem “sinais evidentes de corrosão”, na conduta os pernos de fixação de desmontagem estão corroídos e até as ventosas, que servem para tirar o ar das condutas, “aparecem com problemas de corrosão”.
A Comissão notou também o estado de corrosão avançado de elementos de suporte das condutas “vê-se que a corrosão está a tomar conta dos elementos de suporte das condutas e naturalmente reduzindo a capacidade de resistência e do desempenho do elemento”.
“A Comissão chegou a conclusão que o estado de conservação geral da estrutura é mau” declarou o engenheiro Francisco Ricardo que em nome da Comissão recomendou “deve ser feito um plano de intervenção com urgência, devia ser planificada a necessidade de um projecto de reforço, reabilitação ou mesmo reconstrução”.
Há uma década que o FIPAG não inspecciona as infra-estruturas do sistema de água de Maputo, Matola e Boane
“A questão da falta de manutenção preventiva foi considerada como um assunto grave. Daí recomendar-se que, independentemente da intervenção a ser realizada, a entidade gestora deve desenvolver um plano de manutenção compreensivo e assegurar a sua implementação com o rigor necessário”, enfatizou o Ricardo que é engenheiro civil há mais de duas décadas.
Para a Comissão multissectorial não basta reabilitar apenas a secção da ponte e das condutas que ficaram danificadas em Campoane: “Esta reabilitação deve incluir uma análise profunda do estado da infraestrutura e a avaliação minuciosa da necessidade de construção de uma nova infraestrutura. Esta análise do estado da infraestrutura e a tomada de decisão sobre o tipo de intervenção a realizar é de carácter urgente, pois a probabilidade de ocorrência de um acidente idêntico é grande. Trabalho idêntico deve ser realizado para o atravessamento da conduta de 800mm, mas também ao longo de toda a conduta até aos centros distribuidores, especialmente nos locais onde o lançamento da conduta é à superfície”.
Entretanto o @Verdade apurou que a “manutenção preventiva” da ponte assim como das condutas, ao abrigo do Contrato de Cessão de Exploração existente entre o Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) e a empresa Águas da Região de Maputo, é da responsabilidade do FIPAG, tal como o é em todas infra-estruturas de grande dimensão dos diversos sistemas de captação, tratamento e distribuição de água em Moçambique.
O @Verdade sabe contratualmente a cada 4 anos o FIPAG e a empresa Águas da Região de Maputo deveriam realizar uma auditoria ao sistema de distribuição de água de Maputo (desde as infra-estrututas na Estação de Tratamento do Umbelúzi, bombas, adutoras, os centros de distribuição e as linhas de distribuição principais) e daí deveriam ser decididas as acções de mitigação dos problemas eventualmente detectados.
De acordo com Comissão multissectorial de inquérito uma auditoria foi feita em finais de 2019, a anterior aconteceu em 2011. O @Verdade sabe que durante uma década os gestores da Águas da Região de Maputo, em mais do que duas ocasiões, solicitaram ao Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água que a auditoria fosse realizada mas esta instituição que representa o Governo de Moçambique não acedeu.
Aliás o @Verdade apurou que a auditoria de 2019 só foi realizada porque o Estado moçambicano reassumiu a gestão da empresa Águas da Região de Maputo, em Março do ano passado, tendo demitido todo o Conselho de Administração e indicado para a gestão quadros do FIPAG.
Paradoxalmente o Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água, uma das instituições que mais fundos e créditos internos e externos recebe, não realiza auditorias às suas contas. Por outro lado o sector das obras públicas em Moçambique é considerado um dos mais corruptos.
Fonte: Jornal A Verdade,Moçambique
Nenhum comentário:
Postar um comentário