Os
investigadores portugueses Marcos
Gomes e João Peça,
do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de
Coimbra (CNC-UC), participaram num estudo internacional pioneiro,
publicado hoje na prestigiada revista Nature,
que aprofunda o nosso conhecimento sobre o tálamo - uma importante
região do cérebro.
Liderado
por investigadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology),
este estudo incidiu sobre o denominado “núcleo reticular do
tálamo”, uma zona que se pensa estar envolvida na cognição, no
processamento sensorial, na atenção e na regulação do sono.
Alterações neste núcleo «estão
associadas a perturbações neuropsiquiátricas e do
neurodesenvolvimento, tais como esquizofrenia, autismo e perturbação
de hiperatividade e défice de atenção (PHDA). Contudo, apesar da
sua importância, pouco se sabe ainda sobre as propriedades desta
região e as características dos neurónios que a compõem»,
explicam os dois coautores do artigo publicado na Nature.
Este
trabalho produziu, pela primeira vez, um atlas do núcleo reticular
do tálamo, onde se reúne as propriedades eletrofisiológicas e de
expressão genética de milhares de células individuais, permitindo
aos investigadores identificar «um
gradiente populacional e dois tipos de neurónios previamente
desconhecidos. Esses “novos” neurónios foram denominados Spp1+
e Ecel1+
e demonstraram ter um papel fundamental, mas distinto, na regulação
do sono»,
sublinham Marcos Gomes e João Peça.
A
contribuição da equipa da UC na investigação permitiu identificar
a organização tridimensional dos “novos” neurónios Spp1+
e Ecel1+,
o que levou a uma compreensão detalhada sobre este núcleo do
tálamo.
«Os
resultados desta investigação significam mais um passo importante
no processo de cartografar o cérebro dos mamíferos, e contribuem
para melhor perceber a arquitetura do tálamo»,
afirma João Peça, também docente do Departamento de Ciências da
Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC).
«Entre
outros aspetos, o nosso estudo demonstra uma organização em camadas
nas populações deste núcleo talâmico e identifica as propriedades
eletrofisiológicas e funcionais particulares de cada grupo
neuronal»,
acrescenta Marcos Gomes, aluno do Programa Doutoral em Biologia
Experimental e Biomedicina da UC.
As
abordagens desenvolvidas no âmbito deste trabalho permitiram a
«caracterização
funcional do circuito e dão pistas importantes na compreensão, não
só de doenças do sono, mas também de várias doenças do
neurodesenvolvimento. Isto porque, com o conhecimento das
particularidades únicas dos neurónios que compõem esta região do
cérebro, estão também abertas as portas ao desenho de estratégias
e terapias para restabelecer a sua normal função em processos de
doença»,
concluem os dois investigadores.
Cristina
Pinto
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