Há quem pague um preço demasiado elevado por lutar pela liberdade na Arábia Saudita. A luta pelo direito de as mulheres poderem conduzir um carro é um desses exemplos. Apesar de a proibição já ter sido suspensa, várias ativistas que defenderam alterações à lei continuam atrás das grades. Nassima al-Sada é uma delas.
O ano de 2018 ficou marcado por uma campanha de repressão contra defensoras de direitos humanos na Arábia Saudita. Em julho, Nassima al-Sada e outra ativista acabaram na prisão apenas pelo trabalho pacífico que desenvolveram em nome da liberdade.
Até então, conduzir era coisa de homens. Até então, o sistema de tutela masculina impossibilitava as mulheres de fazerem coisas simples que, no nosso dia-a-dia, nem questionamos. No entanto, as autoridades sauditas foram introduzindo mudanças, que fazem parte de um plano de abertura ao mundo e, em especial, aos negócios. Hoje, as mulheres já podem conduzir o seu próprio carro, obter um passaporte, viajar livremente ou registar o nascimento dos filhos. Só que há ainda um longo caminho a percorrer.
Nassima al-Sada esteve sempre na linha da frente desta luta. Pela liberdade dos outros, ficou sem a sua.
Na prisão, foi vítima de maus-tratos e esteve um ano em regime de confinamento solitário. A única ligação que consegue ter com o mundo exterior, já que foi proibida de receber visitas da família ou do advogado, é através de uma planta. Uma planta que cresce lá dentro, enquanto os filhos de Nassima al-Sada crescem lá fora.
A liberdade desta mãe, que é também uma incansável defensora dos direitos humanos, pode ser uma realidade. Por isso, a Amnistia Internacional apela à ação de todos porque as vozes das ativistas que foram silenciadas precisam de ser ouvidas por todo o mundo.
O simbolismo do G20
Este fim de semana, a Arábia Saudita organiza a cimeira do G20, que vai juntar os líderes das economias mais industrializadas do planeta. Na agenda do encontro, que decorre em formato virtual devido à pandemia de COVID-19, estão temas como a crise sanitária e económica que afeta todo o mundo.
A reunião é uma oportunidade para encontrar respostas e soluções neste período difícil, mas também não pode deixar de lado a situação dos direitos humanos na Arábia Saudita. Não seria justo ter Nassima al-Sada – que até tentou ser candidata às eleições municipais de 2015, mas foi proibida – a discutir, livremente e junto de políticos, as reformas que o país necessita de fazer?
Para as mulheres sauditas, o sistema de tutela masculina continua a restringir liberdades e a autonomia pessoal. Atualmente, ainda precisam de autorização para definir os estudos que querem fazer, se podem viver sozinhas ou receber determinados tratamentos médicos. Desafiar as proibições significa, em muitos casos, sanções.
Em certos espaços públicos, as mulheres não podem transitar livremente. A maioria das universidades, dos bancos e dos edifícios públicos ainda têm entradas diferenciadas. O mesmo acontece em praias, zonas de lazer e transportes públicos. A forma de vestir também é condicionada e a polícia religiosa garante que as mulheres estão vestidas apropriadamente.
A liberdade no casamento e divórcio é outro problema. O tutor masculino deve aprovar as relações e, por isso, os casamentos forçados são prática comum, bem como a falta de proteção em caso de abusos. Se sofrem maus-tratos, as mulheres podem ser denunciadas por desobediência pelo seu “guardião”.
Toda a vida, Nassima al-Sada lutou para mudar mentalidades. Agora, é a nossa vez de lutar por ela.
Fonte e Imagem: Amnistia Internacional
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