Cerca de duas dezenas de cabeleireiros manifestaram-se hoje frente à Assembleia da República para pedir a reabertura dos salões na primeira fase de desconfinamento e alertaram para o aumento da clandestinidade no setor.
Viemos pedir a reabertura o mais rapidamente possível, que seja já neste primeiro desconfinamento. No primeiro [confinamento] fomos os primeiros a abrir e demos o exemplo, não houve nenhum surto a nível nacional", disse Bruno Oliveira, profissional do setor e responsável pela organização do protesto, à Lusa.
Bruno Oliveira afirmou que se os cabeleireiros não forem autorizados a reabrir brevemente, o número de empresas a fechar portas definitivamente vai ser superior aos 20% registados durante o primeiro confinamento, no ano passado.
"Por conhecimento próprio, muita gente vai fechar já e vai começar a trabalhar na clandestinidade, sem descontar", alertou, acrescentando que a maior parte dos salões de cabeleireiro e estética são microempresas com uma ou duas pessoas, que "precisam de comer".
Segundo Bruno Oliveira, os apoios do Estado têm chegado "a conta gotas" e não são suficientes para fazer face às despesas, por isso há profissionais que têm continuado a trabalhar, fazendo serviço ao domicílio.
"A própria ministra da Saúde, a comunicação social havia de questioná-la, onde é que ela fez aquelas madeixas tão bonitas, acobreadas, só se ela tem formação na área. Só pode ter feito em casa e os próprios ministros têm o cabelo cortado, os jogadores da bola têm cortes que são profissionais que os fazem. [...] O nosso Presidente da República foi tomar posse com o cabelo cortadinho, eles não cortam muito para não parecer mal, mas nós somos profissionais, sabemos", apontou.
Os manifestantes instalaram várias cadeiras que levaram dos seus salões para a frente da Assembleia da República, que, segundo a organização, simbolizam a ausência de clientes. "Não há ninguém que se sente nelas pelo menos há 60 dias", lamentou Bruno Oliveira.
Valéria Sales, dona de dois salões de beleza fechados, disse que tem sobrevivido os últimos meses com os apoios disponibilizados e recorrendo às suas poupanças.
"Pedimos que voltemos a trabalhar, necessitamos de trabalhar, muitas colegas estão com depressão, muitas colegas estão desesperadas e isso é um ato muito cruel, porque a fome mata também", disse a cabeleireira.
Aquela profissional frisou que os cabeleireiros cumpriram as regras de higiene e segurança impostas para a reabertura depois do confinamento do ano passado e disse não conseguir "julgar" quem tem recorrido à clandestinidade para procurar "algum sustento".
"Acima de tudo eu peço que Deus toque no coração do senhor ministro, do senhor Presidente, que precisamos de trabalhar", sublinhou.
O Conselho de Ministros reúne-se hoje para aprovar um plano do Governo de desconfinamento do país, o qual será gradual, diferenciado em termos de abertura de atividades e flexível em função de indicadores de risco.
Este plano deverá apresentado pelo primeiro-ministro, António Costa, em conferência de imprensa, no final da reunião do Governo, após a Assembleia da Republicar votar a meio da tarde a proposta de decreto presidencial para a renovação do estado de emergência a partir de 17 de março.
Na quarta-feira, o ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira, no final de uma reunião da Concertação Social, admitiu que algumas áreas abram antes da Páscoa, embora adiantando que o seu executivo ainda não sabe quais, porque "quer decidir de forma segura e informada, com base nas auscultações que tem feito".
Lusa
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