segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Sete mortos no aeroporto de Cabul, alguns caíram de avião em voo

Pelo menos sete pessoas morreram hoje no aeroporto de Cabul quando tentavam fugir dos talibãs, incluindo várias que alegadamente caíram de um avião em voo, com testemunhas a admitirem troca de tiros entre norte-americanos e rebeldes.

Militares norte-americanos, que falaram sob condição de não serem identificados por não estarem autorizados a discutir a operação em curso, disseram à Associated Press (AP) que o caos provocou sete mortos, incluindo vários que caíram de um avião que tinha descolado.

Num vídeo que se tornou viral nas redes sociais vê-se o que parecem ser dois corpos a cair de um avião que tinha acabado de descolar do aeroporto de Cabul.

Num outro vídeo, centenas de pessoas estão a correr ao lado de um avião militar norte-americano em andamento na pista, com algumas delas a conseguirem agarrar-se ao aparelho.

Uma das pessoas que caíram do avião foi Fida Muhammad, um dentista de 22 anos da província de Cabul, segundo a agência EFE.

"Ele saiu hoje de casa para ir trabalhar, mas descobrimos horas depois que morreu quando caiu do avião", disse Ahmad, familiar da vítima.

Uma testemunha disse à EFE ter visto "três civis e um combatente talibã serem mortos num tiroteio entre as forças talibãs e norte-americanas", disse a agência EFE.

Segundo o relato de Mirwais Yusufi, o tiroteio foi desencadeado depois de um talibã ter ordenado a vários civis afegãos que abandonassem o aeroporto.

Quando recusaram obedecer à ordem, o talibã disparou contra eles, desencadeando uma resposta das forças norte-americanas, que abriram fogo sobre o rebelde, matando-o no local.

"Depois do tiroteio todos começaram a correr e depois vimos três civis serem mortos, não sei se foram mortos pelos soldados americanos ou pelos talibãs", acrescentou a testemunha citada pela EFE.

Após a queda de Cabul para os talibãs no domingo, milhares de pessoas correram para o aeroporto da capital afegã na esperança de conseguirem fugir do país, a maioria sem vistos, bilhetes de avião comerciais ou mesmo passaportes.

Embora se tenham concentrado na parte civil do aeroporto, milhares de pessoas invadiram as pistas e obrigaram as forças norte-americanas a enviar soldados para tentarem desimpedir as pistas da zona militar.

"Milhares de pessoas, homens, mulheres e crianças, passaram a noite dentro do aeroporto de Cabul tentando deixar o país, mas a situação tornou-se caótica pela manhã" após o tiroteio, disse Mirwais Yusufi.

Massouma Tajik, uma analista de dados de 22 anos, descreveu à AP cenas de pânico que testemunhou no aeroporto.

Depois de esperar seis horas, ouviu tiros, quando uma multidão de homens e mulheres tentava subir a bordo de um avião.

Tajik disse que as tropas norte-americanas pulverizaram gás e dispararam para o ar para dispersar a multidão depois de as pessoas terem escalado os muros e invadido as pistas.

A AP indicou que o tiroteio podia ser ouvido nas mensagens de voz enviados por Tajik.

Todos os voos comerciais do Aeroporto Internacional de Cabul foram suspensos, anunciou a Autoridade da Aviação Civil do Afeganistão.

Shafi Arifi, que tinha um bilhete para viajar para o Uzbequistão no domingo, não pôde embarcar porque o avião estava cheio de pessoas que tinham corrido através da pista e subido a bordo, sem polícia ou pessoal do aeroporto à vista.

"Não havia espaço para ficarmos de pé", disse a jovem de 24 anos à AP.

"As crianças choravam, as mulheres gritavam, os homens jovens e velhos estavam tão zangados e chateados, que ninguém se conseguia ouvir. Não havia oxigénio para respirar", acrescentou.

Depois de outra mulher desmaiar e ser levada para fora do avião, Arifi desistiu e regressou a casa.

Entre os que se apressaram a entrar no aeroporto encontram-se afegãos que trabalharam para as forças dos EUA e da NATO durante os últimos 20 anos, incluindo aqueles cujos pedidos de visto foram rejeitados.

Mas a maioria são pessoas comuns que foram para o aeroporto guiadas pela ideia de que os EUA e o Canadá, que estão a retirar o seu pessoal do país, iriam fazer o mesmo aos afegãos.

"Soube ontem [domingo] à noite que três aviões retiraram pessoas que não tinham passaporte ou visto, por isso vários dos meus amigos e eu viemos de manhã ao aeroporto e ficámos lá durante horas" antes de regressar a casa sem sucesso, disse à EFE Tamim Ansar, um afegão que também afirmou ter testemunhado a troca de tiros entre militares dos EUA e talibãs.

Lusa

Imagem: Jornal de Brasília 

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