Grupo francês aplica 33,3 milhões e cria 84 empregos numa fábrica de janelas de madeira. Tem como sócia a Caixiave, participada pela gigante Tryba, que está a fazer outros investimentos no Minho.
O projeto na área da carpintaria para construção chama-se Natwindo, trata-se de uma nova unidade de produção de janelas eficientes de madeira e promete criar 84 novos postos de trabalho em Vila Nova de Famalicão, num investimento que ascende a 33,3 milhões de euros e em que a portuguesa Caixiave terá uma “parte muito minoritária”.
João Ferreira Gomes, diretor comercial da produtora minhota que reclama a liderança ibérica em janelas e portas eficientes de PVC (policloreto de vinila), adianta ao ECO que esta nova fábrica será controlada por capitais franceses, mas “ainda não está exatamente definida a parte societária” dos sócios que vão viabilizar este projeto dedicado à exportação, sem data prevista para o arranque das obras.
A Natwindo vai receber um incentivo a fundo perdido do Portugal 2020 de quase 4,6 milhões de euros, de acordo com os dados consultados pelo ECO, e também já assinou um contrato fiscal de investimento com a AICEP que prevê um crédito fiscal máximo de três milhões de euros. No último Conselho de Ministros de 2021 foi aprovada pelo Governo a atribuição de um crédito a título de IRC, uma redução do IMI e do IMT, e ainda a isenção de imposto de selo.
Fundada em 1993, a Caixiave, que representou este consórcio investidor nestes contratos assinados com o Estado português, em janeiro de 2019 abriu o capital ao grupo francês Atrya, dono de nove fábricas na Europa e da marca Tryba, que passou a deter uma participação de 49% na empresa portuguesa de materiais de construção. Dirigida por Carlos Sá e pelo primo Artur Leite, emprega mais de 400 pessoas e acaba de fechar o exercício de 2021 com um volume de negócios a rondar os 43 milhões de euros, acima dos quase 30 milhões que tinham sido reportados em 2020.
“Eles andavam à procura de empresas parceiras em Portugal e nós andávamos à procura de um parceiro estratégico. Houve uma conjugação das duas vontades. Nós, portugueses, temos sempre um problema em ganhar dimensão, face ao mercado [interno] pequeno que temos; e estes grandes grupos têm mais disponibilidade financeira do que as empresas portuguesas”, contextualiza João Ferreira Gomes, responsável comercial e de marketing.
Nós temos sempre um problema em ganhar dimensão, face ao mercado [interno] pequeno que temos; e estes grandes grupos têm mais disponibilidade financeira do que as empresas portuguesas.
Foi “já com o apport financeiro” do grupo gaulês que a Caixiave avançou com a ampliação da fábrica de caixilharias de PVC, cujas obras estão a decorrer e devem estar concluídas no final deste ano, acrescentando 40% à atual capacidade de produção. E num terreno junto a este complexo fabril, na freguesia de Ribeirão, está a ser construída uma outra unidade especializada em janelas eficientes de alumínio, para abastecer o mercado ibérico. É da iniciativa da Tryba SA, cuja maioria (51%) do capital está nas mãos do grupo sediado na comuna de Gundershoffen, na região do Grande Leste.
Anunciado em maio de 2020 com um montante total de 50 milhões de euros, este último investimento inclui ainda uma nave para produzir janelas standardizadas de PVC para as grandes superfícies como o Leroy Merlin, e outra de vidros duplos para encurtar o tempo de resposta aos clientes. Teve luz verde para um apoio a fundo perdido de 9,57 milhões no PT2020 e benefícios fiscais no valor de 309 mil euros atribuídos pela Câmara famalicense, incluindo uma redução de 91% nas taxas municipais de licenciamento das operações urbanísticas, no IMT e no IMI.
Exportar por perto e mudar janelas em casa
Do volume de vendas total – e este setor dos materiais de construção quase não foi afetado pela pandemia de Covid-19, recorda João Ferreira Gomes, também presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes (ANFAJE) –, 35% foram realizadas no estrangeiro. Espanha e França são os principais mercados externos, pois, sendo um produto feito à medida e aplicado em obra, os clientes têm de estar em geografias próximas do local de fabrico.
Por outro lado, a Caixiave conta com o crescimento da procura no mercado doméstico, graças aos incentivos públicos para a melhoria da eficiência energética com a troca de janelas no âmbito de um programa do Fundo Ambiental e, em particular, às verbas destinadas a esta área que foram inscritas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e já começaram a ser distribuídas através de vários avisos. “Portugal tem de reforçar essa área. A seguir à Bulgária, é o país que tem as casas com pior conforto e pior desempenho térmico da Europa”, notou o gestor.
Segundo os cálculos da empresa minhota, o potencial de negócio é grande, uma vez que 29% dos edifícios em Portugal precisam de obras de reabilitação, 70% foram construídos sem requisitos de eficiência energética e apenas 6% dos fogos têm soluções de construção com requisitos de qualidade térmica e eficiência energética. O universo em causa ascende a 3,5 milhões de edifícios e 5,9 milhões de fogos, apenas no mercado interno.
Mas numa fase em que vários países, ao mesmo tempo, estão a programar investimentos tão avultados nesta área, este é mais um fator de pressão (a adicionar a outros, como o constrangimento logístico) para a escassez e para a escalada dos preços das matérias-primas, como o alumínio, o vidro, o PVC ou o aço. João Ferreira Gomes aponta o dedo à “especulação” e desabafa que “os grandes detentores de matérias-primas jogam com isso e os materiais de construção têm vindo a subir bastante para toda a gente e vão-se repercutir” no preço final.
António Larguesa e Mónica Silvares / ECO
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