Jornal “De Groene Amsterdammer” refere que os alegados casos terão começado ainda antes de Carlos Filipe Ximenes Belo ser nomeado bispo, na década de 1980. Primeiras denúncias terão surgido já em 2002, ano em que resignou.
O jornal holandês “De Groene Amsterdammer” publicou esta quarta-feira testemunhos de alegadas vítimas de abusos sexuais cometidos, quando eram menores, durante vários anos, pelo ex-administrador apostólico de Díli e Nobel da Paz, D. Carlos Ximenes Belo.
Na sua edição "online", o jornal explica ter ouvido várias vítimas e vinte pessoas com conhecimento do caso, incluindo "individualidades, membros do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e elementos da Igreja".
"Mais de metade das pessoas (ouvidas) conhecem pessoalmente uma vítima dos abusos e outros têm conhecimento do caso. O ‘De Groene Amsterdammer’ falou com outras vítimas que recusaram contar a sua história nos media", refere a jornalista Tjirske Lingsma.
"O Paulo e o Roberto", as duas alegadas vítimas entrevistadas para o artigo, "conhecem outras vítimas", refere o jornal, um dos principais semanários do país.
O jornal holandês refere que os alegados abusos terão começado ainda antes de Ximenes Belo ser nomeado bispo, quando era superior nos Salesianos de Dom Bosco, em Díli, na década de 1980.
Os timorenses citados no artigo referem alegados abusos cometidos na década de 1990. Hoje com 42 anos, Paulo, identificado como uma das vítimas, alega que quando ainda era menor foi alvo de abusos sexuais na casa de Ximenes Belo, a troco de dinheiro.
O jornal explica ainda que as primeiras investigações a este alegado abuso remontam a 2002, quando um timorense denunciou que o seu irmão era vítima de abusos.
Em novembro desse ano, Ximenes Belo anunciou a sua resignação do cargo, alegando, problemas de saúde e a necessidade de um longo período de recuperação.
"Não tenho conhecimento de algum inquérito contra Ximenes Belo"
A Renascença tentou contactar vários responsáveis da Igreja de Timor e o próprio D. Ximenes Belo, 74 anos, até agora sem sucesso.
Antes de ser nomeado bispo, D. Carlos Filipe Ximenes Belo era sacerdote salesiano. Quando deixou a diocese de Dili, passou a viver em Portugal. Ao que apurámos, neste momento, encontra-se a residir na região de Lisboa, mas já não numa casa salesiana.
Contactada pela Renascença, a Província Portuguesa dos Salesianos não quis comentar as notícias vindas agora a público, remetendo eventuais explicações para a Nunciatura Apostólica em Lisboa - a representação diplomática do Vaticano -, sublinhando que D. Ximenes já não pertence à congregação, o que acontece sempre nestas circunstâncias: um bispo deixa de dever obediência à instituição religiosa a que está ligado.
Já José Luis Guterres, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor, ouvido pela Renascença, assegura que nunca teve "conhecimento de que tenha havido algum inquérito ou alguma investigação da parte das autoridades, quer da procuradoria ou outros organismos da Igreja Católica" sobre a acusação que "estão a atribuir ao nosso querido bispo Ximenes Belo".
"Quem acusa deve apresentar provas. Aqui em Timor, eu não tenho conhecimento que tenha havido algum inquérito contra o bispo Ximenes Belo", reforça.
Também contactada pela Renascença, fonte judicial portuguesa que trabalhou no aparelho de justiça timorense assegura não ter conhecimento de qualquer inquérito judicial durante a primeira década do séc. XXI.
Anabela Góis, Ângela Roque, Marina Pimentel, Cristina Nascimento (RR)/Lusa
Imagem: RR
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