É inaugurada
esta quarta-feira, 9 de agosto, pelas 19h00, a intervenção
artística de Juan Domingues no antigo reservatório de água de
Cantanhede, edifício com 18 metros de altura construído em 1937.
Com
curadoria de Zet Gallery, a intervenção do artista visual surgiu na
sequência de um desafio que lhe foi lançado pela Câmara Municipal
de Cantanhede.
Intitulada
“Idem et Idem”,
a obra, ao invés do percurso natural dum curso de água, que flui da
montanha até ao oceano, faz um percurso ascensional, subindo a
“água” em harmonia com a arquitetura do edifício e a história
da região, contada de forma cronológica.
“Sendo
eu artista plástico, cantanhedense há mais de 30 anos, esta
narrativa acaba por surgir com alguma naturalidade e muita confiança
no que diz respeito ao tema. Desde criança que estas imagens sempre
foram muito nítidas e presentes. Há muita fundamentação e estudo
prévio para que consiga criar uma base pictórica, mas neste caso
foi muito simples, porque sabia muito facilmente onde e o que
procurar”, explica Juan
Domingues.
Na
base do reservatório, o artista ilustra as batalhas da Guerra da
Restauração que concederam a António Luís de Meneses o título de
Marquês de Marialva.
Segue-se
o pilar, onde se representam os gandareses, região identitária das
gafanhas que se estendem desde Aveiro até à Figueira da Foz. Tendo
como base literária o romance “Uma abelha na chuva”, de Carlos
de Oliveira, o artista espelha, de um modo folclórico, os habitantes
e as suas identidades, alicerçadas na persistência, sacrifício,
luta e, ao mesmo tempo, plenas de paradoxalidade.
Por
fim, chega-se ao topo, onde, através de um levantamento fotográfico,
Juan Domingues mostra as diversas atividades características das 14
freguesias do concelho de Cantanhede, que vão desde a arte xávega,
às varinas a vender na rua, passando pelo vendedor de ouro
ambulante.
Juan
Domingues diz que esta intervenção foi fisicamente “bastante
exigente”. “Tenho
de confiar bastante nos meus desenhos e na esquadria para conseguir
colocar a informação que pretendo à escala que quero na
superfície. Quando estou próximo da mesma, tudo me é abstrato.
Tudo é uma conciliação entre manchas e a paleta cromática”,
relatou, adiantando que “a
escala é assustadoramente gigante, o vento interfere, a chuva
interfere, o calor interfere e o número de horas em pé, a uma
altitude vertiginosa, também não é algo que se leve de bom ânimo”.
O
artista visual admite que o impacto visual da arte urbana ou street
art torna-a mais atrativa,
constatando que, de um modo geral, “são
poucas as pessoas que se desafiam aos museus e às galerias com a
mesma vontade com que se desafiam ao ar livre”.
“A
escala ajuda muito. Agigantar uma imagem, seja ela qual for, cria uma
afirmação de expressão bem mais imponente, coisa que se pode tomar
como por exemplo a pintura ‘Guernica’ de Pablo Picasso ou ‘Las
meninas’ de Diego Velazquez”,
sustenta, observando, ainda assim, que a arte urbana “é bem
mais efémera”, porquanto com
o passar dos anos degrada-se mais rapidamente do que a obra produzida
para galerias e museus.
Juan
Domingues diz ter hoje em dia “uma
maior vontade” de intervir em
locais de domínio público através da pintura cerâmica, pois o
azulejo “é um suporte nobre”
que potencia bem mais a obra.
BIOGRAFIA
Juan
Domingues, 41 anos, nasceu em Puerto Cabello, Venezuela, em 1981.
Atualmente, vive e trabalha em Cantanhede.
Licenciado
em Pintura pela Escola Universitária das Artes de Coimbra, a sua
obra fez parte de diversas exposições e concursos, incluindo duas
menções honrosas nos prémios Aveiro Jovem Criador e Prémio D.
Fernando II em Sintra, e destacado pela Artreview magazine e Showcase
London. Está também representado pela Drawing Dreams Foundation de
Berkley, Califórnia.
A
gestualidade, a conjugação cromática e os resíduos de tinta criam
força e densidade às suas obras de pintura e desenho.
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