Os grandes
incêndios florestais que têm assolado Portugal e o mundo mostram a
urgência de novas abordagens em segurança e construção. O Projeto
House Refuge, liderado pela Associação para o Desenvolvimento de
Aerodinâmica Industrial (ADAI) da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), surge como contributo
a esta necessidade, combinando ciência, tecnologia e práticas
construtivas para proteger vidas e propriedades em situações de
catástrofe.
Com as alterações
climáticas a intensificar a frequência e severidade dos incêndios,
as capacidades dos meios de proteção civil podem ser insuficientes
em cenários extremos. Assim, «é
essencial que a população adote medidas de autoproteção eficazes.
Este
projeto visa criar diretrizes que ajudam os cidadãos a transformar
as suas habitações em abrigos seguros, usando técnicas passivas,
como a gestão apropriada de combustíveis, boas práticas
construtivas e técnicas ativas, como sistemas de aspersão»,
explica Miguel Almeida, investigador principal do projeto.
As construções
em Portugal têm mostrado vulnerabilidades que, apesar de
corrigíveis, requerem intervenções planeadas. A equipa da ADAI
realizou, ao longo dos últimos anos, diversos estudos no âmbito
deste projeto, concluindo que as casas tradicionais, quando bem
concebidas e mantidas, podem servir como locais seguros em caso de
incêndio, desde que rodeadas por áreas de gestão de combustíveis
adequadas.
De acordo com o
especialista, «a
legislação atual exige uma faixa de segurança de 50 a 100 metros
em torno das habitações e aglomerados, respetivamente, mas estas
distâncias são, por vezes, inadequadas. O projeto propõe uma
abordagem mais flexível e cientificamente sustentada, adaptada à
topografia e perigosidade do local. Em áreas como encostas, por
exemplo, uma configuração em elipse pode oferecer uma proteção
mais eficaz do que o formato circular habitualmente aplicado»,
considera.
O projeto propõe
o uso mais frequente de técnicas ativas de autoproteção,
nomeadamente sistemas de aspersão ou sistemas mais inovadores, como
telas ignífugas. «Quando
a urbanização ou a proteção de valores ecológicos limita a
criação de faixas de segurança passivas com dimensões legalmente
exigidas ou efetivamente necessárias, os sistemas de aspersão de
água podem atuar como uma barreira adicional contra a progressão
das chamas, devendo servir como uma medida compensatória que permita
flexibilizar a necessidade de uma faixa tão larga»,
acredita Miguel Almeida.
O Projeto House
Refuge alcançou avanços significativos, incluindo a compilação de
legislação nacional e internacional no âmbito da proteção de
construções contra incêndios rurais, assim como a análise de
casos de estudo. Estes esforços visam informar e influenciar futuras
reformas legais e orientar melhores práticas construtivas.
Entre os
resultados obtidos até ao momento, destacam-se as recomendações
para legislação adaptada à realidade portuguesa e às
especificidades da interface urbano-florestal, a definição de
melhores práticas construtivas para mitigar riscos em áreas rurais,
e, ainda, a avaliação do mercado de seguros relativamente à
cobertura de risco de incêndio, evidenciando a necessidade de
reformas no setor.
«O
projeto House Refuge é um passo decisivo para que Portugal avance na
sua capacidade de enfrentar incêndios na interface urbano-florestal,
integrando componentes de proteção civil, sustentabilidade e
inovação tecnológica. Com uma abordagem multifacetada, o projeto
promete criar comunidades mais resilientes e preparadas para o
futuro»,
conclui o investigador da ADAI.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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