Prostitutas numa rua de Estrasburgo. AFP |
18 outubro 2011 SEGA SÓFIA
Movidas pela precariedade ou pela
pobreza, grande número de mulheres cedem ao aliciamento dos recrutadores que,
ao abrigo de cursos de formação ou de trabalho temporário, as atraem para as
redes de prostituição.
Petar Petrov
A maioria das campanhas de prevenção
contra o tráfico de seres humanos não surtiu efeitos palpáveis. O Parlamento europeu
chegou a declarar recentemente que todas as medidas tomadas pela União para
limitar as consequências deste flagelo eram ineficazes. Segundo dados
publicados pelo Conselho da Europa, esta é, portanto, uma das principais fontes
de financiamento do crime organizado. O “tráfico das brancas" é, além do
mais, o setor da economia subterrânea que tem conhecido nos últimos anos o
desenvolvimento mais exponencial. O tráfico incide principalmente sobre as
mulheres, que representam cerca de 80% das 800 mil pessoas que, em cada ano,
são vítimas deste tipo de negócio. Os países membros da União Europeia foram
várias vezes incitados a assumir as suas responsabilidades, ou seja, a ajudar
financeiramente as vítimas para que elas possam regressar às suas casas, ou a dar-lhes
proteção administrativa no caso de quererem permanecer em território da UE.
Estas mulheres também têm que ser convencidas do seu interesse em testemunhar
contra os seus carcereiros e, sempre que aplicável, é preciso garantir a sua
segurança contra eventuais represálias por parte destes.
Escravas brancas "colocadas"
em território britânico
Na prática, isto raramente acontece.
Tomemos o exemplo da Bulgária. De acordo com os dados da Comissão Nacional de
Luta contra o Tráfico de Seres Humanos, o número de vítimas em 2010 eleva-se a
500, ou seja, o dobro do ano anterior. Este ano, até abril, o número de vítimas
ascendia a 154, sendo 141 mulheres e 13 crianças. Esta é, obviamente, a parte
visível do icebergue – os casos de tráfico comprovados. Como poderemos
imaginar, a realidade é mais preocupante. Os países de risco para as búlgaras
são a Holanda, a Alemanha, a França, o Reino Unido, a Itália, o Chipre e a
Suécia. Este tráfico destina-se, na sua maioria, à exploração sexual mas
nota-se também um aumento das queixas de trabalho forçado. Soube-se que foram
presos há alguns dias dois búlgaros, residentes na Suécia, que tentavam atrair
compatriotas para este país aliciando-os com oportunidades de trabalho bem
remunerado e alojamento confortável. Na realidade, foram forçados a colher
fruta e a viver em tendas em plena floresta, os seus documentos foram
confiscados e nunca receberam ordenado. Mas os poucos casos de condenação pela
justiça não chegam para reverter a tendência. Numa operação policial há alguns
anos, também foram presos dois homens que tentavam passar mulheres da Bulgária
para a Grécia. Chegou-se à conclusão de que faziam a ronda das campanhas
búlgaras para recrutar novas raparigas, que eram obrigadas a prostituir-se em
Sófia ou na vizinha Grécia. Confiscavam-lhes mais de 50% dos seus rendimentos.
Condenados em primeira instância, em seguida foram absolvidos, pois no ano
passado voltámos a encontrar as suas fotografias na imprensa britânica, quando
tentavam "colocar" escravas brancas em território do Reino Unido.
Um bando de figurões que gere o tráfico
As autoridades também alertam para a
grande imaginação demonstrada agora pelos traficantes na angariação de vítimas
para as suas redes. Por exemplo, nos últimos tempos o seu método preferido
consiste em propor "cursos de formação no estrangeiro",
principalmente cursos de línguas. A violência física é cada vez menos popular,
em benefício das ameaças psicológicas e das pressões exercidas sobre a família
que fica para trás.
Na Bulgária, as principais causas do
desenvolvimento deste tipo de tráfico continuam a ser o analfabetismo, a
desvalorização dos princípios morais, o racismo e a descriminação étnica, a
pobreza, a economia exangue, o desemprego... O que poderá explicar esta mudança
estratégica por parte dos traficantes que, cada vez mais, se fazem passar por
intermediários de agências de trabalho.
Um fenómeno que poderá perdurar pois, em
tempo de crise, as pessoas procuram desesperadamente encontrar uma saída para
os problemas. As campanhas de sensibilização apenas conseguem aliviar um pouco
este triste cenário. O verdadeiro trabalho está nas mãos da polícia, tanto a
nível local como internacional. Afinal de contas, podemos perguntar-nos por que
razão as polícias europeias, com a sua enorme máquina repressiva, não conseguem
acabar com o bando de figurões que gerem este tráfico...
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