António Costa, que completou domingo um
ano como secretário-geral do PS e é considerado um hábil negociador político,
foi indigitado primeiro-ministro e formará Governo apoiado pela maioria de
esquerda no parlamento, depois de uma derrota eleitoral.
Eleito secretário-geral do PS sem
oposição em diretas, com cerca de 22700 votos, correspondentes a 96%, a 22 de
novembro de 2014, António Costa definiu desde o início do seu mandato como
objetivos estratégicos uma vitória com maioria absoluta nas legislativas, a
recusa de entendimentos com o Governo PSD/CDS e a rejeição do conceito de
"arco da governação", que exclui forças como o Bloco de Esquerda e o
PCP.
No seu primeiro ano de liderança, no
entanto, deparou-se com fatores adversos como os sucessivos episódios relativos
à prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates, a que Costa respondeu
defendendo uma rigorosa separação entre justiça e política, e um cerrar de
fileiras entre os partidos do Governo, PSD e CDS-PP, que se apresentaram às
legislativas de 04 de outubro unidos na coligação "Portugal à Frente"
(PaF).
Nas eleições legislativas, a coligação
PSD/CDS-PP venceu sem maioria absoluta com cerca de 38% dos votos, contra 32%
do PS. Apesar da derrota eleitoral, António Costa não se demitiu das funções de
secretário-geral.
Nas semanas seguintes, em vez de ser
alvo de uma vaga de contestação interna no PS, o líder socialista tornou-se
figura central da vida política ao envolver-se em negociações para a formação
de um novo Governo, quer com a coligação PSD/CDS, quer com o Bloco de Esquerda,
PCP e "Os Verdes".
Ao fim de duas reuniões, PS e coligação
PSD/CDS romperam as negociações. Três semanas depois dessa rutura com a
"direita", António Costa anunciou ter chegado a acordo com o Bloco de
Esquerda, PCP e PEV para a formação de um Governo de iniciativa socialista.
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
entre julho de 2007 e abril de 2015, António Costa deu o primeiro passo para
chegar à liderança do PS ao vencer o seu antecessor, António José Seguro, em
eleições primárias - as primeiras abertas a simpatizantes - realizadas em
setembro de 2014, sendo então designado candidato socialista a
primeiro-ministro.
Antes, tinha recusado suceder a José
Sócrates em junho de 2011, na sequência da derrota dos socialistas nas eleições
legislativas de junho desse ano, mas esteve à beira de se candidatar à
liderança do seu partido no início de 2013, acabando por recuar.
Apontado com frequência há mais de uma
década como potencial líder do PS, o ex-presidente da Câmara de Lisboa decidiu
entrar na corrida pela liderança depois das eleições europeias de maio de 2014,
argumentando que "à derrota histórica da coligação PSD/CDS não
correspondeu uma vitória do PS com idêntica dimensão".
"Uma vitória por poucochinho",
disse, numa crítica a António José Seguro.
Apesar de ter sido apoiado pelas
principais figuras históricas socialistas, caso dos ex-presidentes da República
Mário Soares e Jorge Sampaio, Costa teve de suportar três meses e meio de
intenso conflito aberto com os apoiantes de Seguro, período em relação ao qual
confessou publicamente ter aprendido "uma grande lição",
designadamente sobre manobras estatutárias e violência de debate.
Filho da jornalista Maria Antónia Palla
e do escritor e técnico de publicidade Orlando Costa, goês e militante do PCP,
António Luís Santos da Costa nasceu em Lisboa, a 17 de julho de 1961.
Aos dez anos, com o pseudónimo
"Babuch" (menino, em dialeto concani, de Goa), já escrevia críticas
de televisão para Século Ilustrado e conta que decidiu ser socialista aos 12
anos. Foi também com essa idade que a personagem de policiais Perry Mason o
"convenceu" a tornar-se advogado.
Aos 14 anos inscreveu-se na Juventude
Socialista (JS), estrutura em que iniciou uma atividade política sempre
acompanhada de perto pelo atual alto comissário das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR), António Guterres, ganhando especial notoriedade no
movimento académico e ao dinamizar a Convenção da Esquerda Democrática em 1985.
Licenciado em Ciências
Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito de Lisboa e com uma pós-graduação
em Estudos Europeus pela Universidade Católica, o político com quem Mário
Soares disse mais se identificar "enquanto jovem" esteve a partir de
meados da década de 80 ligado ao sampaísmo, do qual se distanciou apenas nos
governos de Guterres.
António Costa estagiou no escritório de
advogados de Jorge Sampaio, chegou à direção nacional do PS em 1986 pela sua
mão, integrando uma equipa chefiada por Vítor Constâncio, apoiou sempre Sampaio
para a liderança do partido, e foi o seu diretor de campanha nas presidenciais
de 1996.
Ministro dos Assuntos Parlamentares e da
Justiça nos dois governos liderados por Guterres, Costa continuou a ser um dos
principais rostos dos socialistas a partir de 2002, ficando à frente da bancada
socialista no parlamento, durante a liderança de Ferro Rodrigues.
Em 2004 candidatou-se ao Parlamento
Europeu em segundo lugar da lista do PS, numa eleição em que os socialistas
conseguiram maioria absoluta em mandatos, mas em que o cabeça de lista, o
antigo ministro das Finanças Sousa Franco, faleceu em plena campanha, após
incidentes entre socialistas na lota de Matosinhos.
Com José Sócrates como líder do primeiro
Governo socialista de maioria absoluta, Costa foi o "número dois"
desse executivo, desempenhando as funções de ministro de Estado e da
Administração Interna.
Benfiquista, agnóstico, casado e com
dois filhos, António Costa é definido como um político seguro de si,
irrequieto, persistente e temperamental.
Dá murros na mesa e eleva a voz nas
discussões mais acesas e é elogiado pela habilidade política e capacidade de
negociação.
Outros chamam-lhe "manobrador e
maquiavélico" e chegam a compará-lo ao russo Rasputine, pelo prazer que
lhe dão os jogos de bastidores, imagem que se acentua quando confessa a sua
admiração pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, de quem foi aluno.
António Costa aponta como modelos os
antigos governantes Churchill e Gorbatchov, "por terem introduzido grandes
e importantes mudanças no século XX", bem como o antigo-primeiro-ministro
francês Michel Rocard, este último "pela capacidade de renovação das
ideias socialistas".
Fonte JN
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