Dizem que a Justiça é cega, entendo que tem olhos para ver |
Vítor Pinto foi nomeado diretamente pela PGR. É um sinal que José Sócrates vai mesmo ser acusado pelo Ministério Público
Joana Marques Vidal nomeou por despacho Vítor Pinto, um magistrado com larga experiência em julgamentos, que já acompanhou casos como o Freeport ou o dos submarinos. Apesar de ainda não haver acusação contra José Sócrates e os outros 11 arguidos, a escolha direta de Joana Marques Vidal (os procuradores costumam ficar com os casos por sorteio e só depois da acusação) pode justificar-se com a complexidade e extensão do processo. “A intenção é que o procurador se vá inteirando do caso para não chegar ao julgamento em branco”, explica uma fonte judicial. Rosário Teixeira, o procurador responsável pela acusação, não irá acompanhar diretamente o julgamento.
Vítor Pinto tem 57 anos, nasceu em Moçambique e não é exatamente um magistrado comum. Depois de todos os arguidos do processo dos submarinos terem sido absolvidos por um coletivo de juízes presidido por Judite Fonseca, recorreu para o Tribunal da Relação em termos invulgarmente indignados. “Haja Deus!”, protestava o procurador, acusando o tribunal de “erro notório na apreciação da prova” e de só ter valorizado os depoimentos dos arguidos. Tanta indignação valeu-lhe de pouco, já que o Tribunal da Relação manteve as absolvições dos dez empresários portugueses e alemães acusados de lesarem o Estado português no negócio das contrapartidas pela compra de dois submarinos.
ACUSADOR PEDE ABSOLVIÇÃO
No julgamento do caso Freeport — em que José Sócrates foi alvo de suspeitas de corrupção, mas nunca foi acusado, ou sequer ouvido — os dois arguidos Charles Smith e Manuel Pedro, suspeitos de extorsão, foram igualmente absolvidos. Mas desta vez não se pode falar de uma derrota para Vítor Pinto, já que foi o próprio procurador a pedir a absolvição por considerar que não havia “provas suficientes” para condenar os empresários.
O último caso mediático em que Vítor Pinto esteve envolvido acabou por também ter um final pouco feliz para a acusação. Maria de Lurdes Rodrigues, a ex-ministra da Educação de um governo PS, foi acusada e condenada a uma pena de prisão suspensa por prevaricação. Mas esta semana a Relação de Lisboa deu razão a um recurso da ex-governante e absolveu-a e aos outros arguidos da prática de qualquer crime. Vítor Pinto foi o procurador do julgamento.
Esta nomeação direta da PGR não é propriamente nova e é até algo comum nos casos mais mediáticos ou complexos. José Aibéo, por exemplo, foi nomeado para acompanhar a investigação e o julgamento do processo Casa Pia, que terminou com a condenação a pesadas penas de prisão de quase todos os acusados.
Depois da absolvição dos arguidos do caso dos submarinos, Vítor Pinto foi elogiado pelos advogados pela postura “serena” que manteve durante o julgamento. Mas o magistrado não é mesmo um homem vulgar. No julgamento de Fernando Ruas, acusado de incitamento à violência por ter sugerido que se corresse à pedrada fiscais do Ministério do Ambiente, Vítor Pinto chamou “acólitos” aos presidentes de junta que defenderam Ruas. Houve ameaças de processo judicial, Ruas foi condenado a uma pena de multa e no final a Relação absolveu-o.
Fonte: expresso
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