Marcelo Rebelo de Sousa venceu sem surpresa à primeira volta as eleições presidenciais disputadas no domingo, beneficiando da sua opção pela autonomia partidária, e Maria de Belém foi a principal derrotada neste escrutínio, segundo os politólogos ouvidos pela Lusa.
"Claro que [a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa] não surpreendeu. Era previsível e há que dar parabéns às sondagens e à campanha mais viva", afirmou Adelino Maltês, professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade Técnica de Lisboa, considerando que o vencedor beneficiou da sua forte relação com a opinião pública.
"Esta votação revela que há aqui alguém que, apesar de vir de um partido [PSD], fez um percurso autónomo. Percebeu o que era a opinião pública e teve um investimento de longas dezenas de anos. Mostrou ambição e isto foi o objeto de uma luta política de vida. Essa ambição traduziu-se em resultados", realçou o politólogo.
Também António Costa Pinto, professor no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa (UL), apontou para o sucessso da estratégia adotada por Marcelo Rebelo de Sousa durante a campanha eleitoral.
"Parece não haver dúvida que Marcelo Rebelo de Sousa impôs um estilo diferente nestas eleições presidenciais, com uma campanha mais personalizada, com menos papel para os partidos políticos, e, evidentemente, com uma autonomia em relação à área do centro-direita bastante mais significativa do que no geral acontece", disse o especialista.
Costa Pinto considerou mesmo que "este pode ter sido um fator importante para explicar a elevada taxa de abstenção [51,16%] nestas eleições", já que as máquinas partidárias, sobretudo, do PSD, CDS-PP e PS, não estiveram tão mobilizadas como é costume no apoio aos candidatos.
"Claro que o indicador de notoriedade muito elevado [de Marcelo Rebelo de Sousa] jogou aqui a favor. Mas também jogou porque um dos seus grandes objetivos era fazer uma campanha eleitoral pouco marcada pelo espectro político de onde ele vinha", optando por "uma menor clivagem entre a esquerda e a direita", sublinhou.
E salientou: "Marcelo Rebelo de Sousa talvez seja, de todos os presidentes eleitos, aquele que é eleito com uma maior autonomia em relação aos partidos políticos".
Já Adelino Maltês atribuiu ainda a vitória expressiva ao grande envolvimento de Rebelo de Sousa nestas eleições.
"Houve uma vontade inequívoca e uma garra até ao último minuto de personalização do poder. Verificámos que havia uma espécie de cansaço do último estilo de Cavaco Silva, e Marcelo, subliminarmente, apresentou-se como uma espécie de anti-Cavaco em figura humana", frisou.
"O que eu acho impressionante é que, com esta votação, as televisões bem procuram gente na rua, mas nem num beco. Vê-se que isto é um clube reservado e não há um único sinal de entusiasmo popular", destacou o professor do ISCSP.
Olhando para os resultados dos candidatos que estavam no plano de apoios do PS, Adelino Maltês considerou que "surpresa é o exercício de tiro ao pé das esquerdas, com a consequência que se viu".
Segundo o professor do ISCSP, "é fácil dizer agora que [o fraco resultado de Maria de Belém] surpreende pela negativa. Mas, sobretudo, porque ocorreu durante a campanha. Portanto, há aqui um sinal [de] que os votantes estão atentos aos acontecimentos da campanha".
Quanto a António Sampaio da Nóvoa, Adelino Maltês considerou que "foi muito honesto quando reconheceu que isto tudo se extinguiu hoje [domingo]".
Isto, porque na opinião do politólogo, "não seria possível que alguém que se assumiu como o 'messias do tempo novo' fazer o tempo novo com 22% ou 23%. Era uma impossibilidade lógica e ele próprio reconheceu".
Por seu turno, Costa Pinto observou que "vale a pena pensar nestas duas candidaturas associadas ao PS e, sobretudo, no desastre eleitoral de Maria de Belém".
E associou-o a dois fatores: a ausência de apoio partidário e a sua identificação "com aquilo que para os portugueses é o pior dos políticos profissionais".
Já Sampaio da Nóvoa "beneficiou não só de uma campanha mais unitária, sob o ponto de vista de algum tipo de valores de esquerda, mas também do facto de ser independente".
Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito no domingo Presidente da República com 52% dos votos, correspondendo a cerca de 2,4 milhões de eleitores.
Sampaio da Nóvoa ficou em segundo lugar, com 22,89% (1.060.769 votos), Marisa Matias em terceiro, com 10,13% (469.307 votos), Maria de Belém a seguir, com 4,2% (196.582 votos), e Edgar Silva em quinto lugar, com 3,95% (182.905 votos).
Fonte e Foto: Lusa
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