segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Macroscópio – O dia seguinte

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Não houve surpresas, as sondagens acertaram, Marcelo foi eleito Presidente da República à primeira volta. Para além disso, Maria de Belém saiu humilhada, o PCP conheceu um dos seus piores desastres eleitorais e Marisa Matias conseguiu repetir nas Presidenciais o (bom) resultado do Bloco nas legislativas. Até aqui todos estarão de acordo. Mas quando passamos à reflexão sobre o significado destes resultados ou às previsões sobre como será o Presidente Marcelo, já as opiniões se dividem.

Não vou maçá-los com muitos detalhes sobre os resultados, vencedores e vencidos ou curiosidades da votação de ontem – vou directo aos textos de opinião, que organizei, desta vez, por órgãos de informação. Eis o que de mais interessante li na imprensa de hoje:

Observador:
  • Rui Ramos, “Marcelo pode, se quiser, ser um Presidente forte”: “Não sendo uma vitória da direita, porque não foi assim que o candidato se posicionou, é no entanto uma grande derrota das esquerdas, porque foi aí que os seus principais rivais se situaram. Há quinze anos que nenhum candidato das esquerdas passa a barreira dos 22% em eleições presidenciais.”
  • Miguel Pinheiro, “António Costa perdeu à direita – e à esquerda”: “Quando a aliança “das esquerdas” se fragilizar, o Presidente da República não arriscará um grama da sua popularidade para o segurar e defender. Enquanto Sampaio da Nóvoa arrancaria a própria pele antes de despedir o executivo do “tempo novo”, Marcelo Rebelo de Sousa convocará eleições assim que perceba que esse movimento não o coloca em perigo.”
  • Carlos Gaspar, “O preço da vitória”: “Na ausência de uma maioria parlamentar sólida e coerente, a crise vai dar ao Presidente da República um poder cada vez maior: nenhuma outra instituição democrática tem uma legitimidade e condições de estabilidade comparáveis.”
  • Helena Matos, “Qual é o poder de um homem só: todo ou nenhum?”: “Afinal, qual é o poder deste homem que na noite em que ganhou as presidenciais chegou a uma Faculdade de Direito em cujo exterior o esperavam pouco mais de uma dúzia de apoiantes e uma multidão de jornalistas? (…) Nem Passos nem Costa o sabem. Os portugueses também não. Quem sabe esperam que Marcelo presidente lhes explique isso. Se fosse na televisão funcionaria. A partir de Belém não se sabe.”
  • João Aguiar-Conraria, “Uma campanha alegre”: “Todos sabemos o que vamos ter agora na Presidência. É difícil alguém vir a sentir-se enganado. Vai ser uma presidência muito divertida. Espero que a RTP desafie o novo Presidente da República para um espaço semanal de comentário em horário nobre.”
  • David Dinis, “A política, D.M. (depois de Marcelo)”: “Marcelo com mais legitimidade que Costa. Costa com mais um problema - talvez dois, se contarmos com o PCP. O PSD não pode bater palmas. E o namoro Marcelo-Costa, dura quanto?”
  • Paulo Ferreira, “Um presidente com jeito de monarca”: “É provável que este seja o primeiro Presidente da República que a isso estava destinado desde pequenino. Se o estilo for para manter, vai ser um conciliador. É uma boa notícia para António Costa.”
  • Nuno Garoupa, “Um intervalo ou o regresso dos consensos?”:Amanhã a questão é simples – voltamos à crispação gerigonça/PàF ou evoluímos para os consensos ao centro defendidos pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa?
  • Alexandre Homem Cristo, 2016 igual a 2006: “António Costa, que não quis Maria de Belém e tolerou Sampaio da Nóvoa, pensa que ganhou com Marcelo – acha que o tem na mão e que este é a sua alma gémea política. Rapidamente se aperceberá do engano.”

Expresso:
  • José Gomes Ferreira, Quatro perguntas a Marcelo Rebelo de Sousa: “Vai deixar que se avolumem os sinais de uma eventual degradação da situação financeira da República sem questionar vigorosamente o Governo - este ou qualquer outro - se tal estiver a acontecer, até que a margem de autonomia e de soberania que foi duramente reconquistada nos últimos cinco anos seja novamente perdida?”
  • Henrique Monteiro, Sete coisas que eu sei sobre Marcelo(link para assinantes): “Não, não foi só a televisão. Se o simples facto de aparecer na televisão e dizer coisas tornasse alguém presidente, Judite de Sousa tinha muitas hipóteses, assim como José Alberto Carvalho, Rodrigo Guedes de Carvalho, Clara de Sousa ou José Rodrigues dos Santos. Podem dizer – mas esses não são políticos. Bom, há anos que vimos Pacheco Pereira. Acham que ganharia? Ou Lobo Xavier. Ou Pedro Marques Lopes, ou Marques Mendes. Não creio. Além da televisão, Marcelo passa (…) uma imagem de sensatez e alguma independência. Sabe explicar o difícil, tem fama de ser sério.”
  • Martim Silva, Dez lições para a vida a partir de 25 de janeiro ( e o adeus a Cavaco): “[Marcelo] Chega a Belém de mãos livres e com muito, muito poder. Ao contrário do que muitos pensam, não tenho dúvidas que Marcelo, que é um institucionalista, adoptará uma pose de Estado. E ajudará o atual governo. Pelo menos nos primeiros anos. O que não quer dizer que o “namoro” com Costa seja eterno…”
  • Daniel Oliveira, Marcelo é rei, Costa nas suas sete quintas e PCP mais nervoso: “Se Marcelo for interventivo, fizer cair governos e tentar fazer nascer outros, trairá o compromisso eleitoral de ser um presidente sem convicções e sem programa político. Marcelo quis ser eleito com base em nada e será difícil aceitar que ponha alguma coisa, depois dos votos contados, onde jurou que nada existiria.”

Público:
  • António Lobo Xavier, Um homem singular: “O PS é, sobre todos os pontos de vista, o grande derrotado, e revela uma tendência acelerada de desagregação de votos. Mas, curiosamente, poderá dizer-se também que António Costa, mais uma vez, perdendo, ganha.”
  • Vasco Pulido Valente,  A vitória da vacuidade:“Marcelo não disse nada e foi seguido com entusiasmo por toda a gente. O resultado acabou por ser a vitória da vacuidade. Daí a extraordinária abstenção do país, que se limitou a prolongar a repugnância por todo o exercício.”
  • Miguel Esteves Cardoso, Viva a Democracia!: “Marcelo Rebelo de Sousa será o Presidente da República mais inteligente, culto, simpático e engraçado que Portugal já teve. Será um sofrimento interpretar os silêncios de um conversador que nasceu para falar.”
  • Manuel Carvelho, Um regresso ao “tempo velho”: “O “tempo novo” que simboliza uma ruptura com o passado recente chumbou no primeiro teste e o país dos “lares, das misericórdias, dos clubes desportivos”, o país real e cansado da tensão e do dissídio impôs um breve regresso à normalidade.”

Diário de Notícias:
  • Viriato Soromenho Marques, Glória sem poder: “Olhando em frente, Marcelo enfrentará cinco anos sísmicos. A crise da zona euro (ZE) enrodilhou-se num labirinto de problemas sem solução aparente. A infelicidade dos refugiados não só ameaça destruir as frágeis democracias de leste (…), como paralisou Merkel, deixando a Europa ainda mais à deriva. A UE poderá partir-se, já este ano, com o brexit. Schengen choca contra novas fronteiras muradas. O medo cresce onde o terrorismo justifica o estado de emergência perpétuo, como em França.”
  • Alberto Gonçalves, A abençoada vitória do medo: “Somado à espécie de governo em funções, o prof. da Nóvoa representaria de facto o tempo novo da ladainha, um tempo em que o país permaneceria na Europa apenas por inevitabilidade geográfica, tornando-se essencialmente uma alegoria dissuasora. (…) Um tempo de exéquias. Perante isto, ganhou o medo, às vezes um óptimo conselheiro.”

Jornal de Notícias:
  • Francisco Assis, As qualidades políticas que vêm de longe(sem link, resumo aqui): “Quando passar o estado de ilusão que se instalou no Partido Socialista haverá muito para discutir e alguma coisa para mudar. O Bloco de Esquerda vai progredindo à custa de um discurso muito perigoso. Está transformado no mais populista dos partidos portugueses. É preciso que alguém o combata. Como é óbvio, esse combate político não pode ser levado a cabo por quem se deixou inocular por um vírus de idêntica natureza”.

Jornal de Negócios
  • Helena Garrido, As presidenciais de "Tino de Rans": “Sejam quais forem os efeitos no curto prazo, temos de antecipar as mudanças que nos estão a ser transmitidas por estas votações. A esquerda tradicional está esgotada e o Bloco tem condições para ocupar esse espaço, para conquistar eleitores quer ao PS como ao PCP. Os políticos sem outra carreira que não seja a política merecem cada vez menos simpatia dos eleitores, por muito que isso doa a quem construiu uma vida a servir o país como político.”

Rádio Renascença:
  • José Luis Ramos Pinheiro, O discurso da vitória, as reacções e (algumas) indigestões: “O discurso do Presidente da República eleito valeu a noite eleitoral. Pelos gestos (sem triunfalismos que a vitória em todos os distritos poderia induzir) e pelas palavras (o país à frente de tudo e de todos) Marcelo Rebelo de Sousa soube justificar a vitória nestas eleições presidenciais.”
  • Raquel Abecasis, Sete notas e uma conclusão das presidenciais mais enfadonhas de sempre: “O candidato, seguiu á risca os conselhos do comentador, fez tudo de acordo com as regras e alcançou o objectivo: ganhar à primeira volta e de forma muito mais folgada do que a primeira eleição de Cavaco em 2006 (50,54%).”

TSF:
  • Paulo Baldaia, O tempo novo só chegou agora: “Portugal é liderado por dois dos políticos mais experimentados nos bastidores, na intriga, na capacidade de criar factos políticos. Pode parecer que cumprem apenas o seu destino, mas a história diz-nos que foram eles a contrariar o que lhes estava destinado e só por isso são hoje primeiro-ministro e Presidente da República. O Bloco Central continua dominante.”

E aqui fica a síntese possível de que se escreveu depois de mais uma noite eleitoral. Sobre a mudança de Presidente, o próximo episódio será só a 9 de Março, quando Marcelo Rebelo de Sousa tomar posse. Até lá o mundo, e Portugal, continuarão a rolar. Tenham bom descanso, melhores leituras, que nos reencontramos aqui amanhã. De novo, e como sempre.

 
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