O Presidente da República fez um convite formal para o papa Francisco visitar Portugal, pretendendo aliar o centenário das aparições de Fátima à gratidão do estado português pelo reconhecimento pioneiro da sua independência.
O encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e o líder da Igreja Católica durou cerca de meia hora.
O presidente da República chegou ao Vaticano antes das 10h, tendo sido recebido pela guarda suíça no pátio interior, subindo depois ao terceiro andar, num percurso em que passou por diversos tetos com frescos do pintor renascentista Rafael.
No final, o presidente ofereceu ao papa um conjunto de seis casulas, desenhado pelo arquiteto português Álvaro Siza Vieira - paramentos religiosos de cores diferentes, adequados aos diferentes tempos litúrgicos, em verde, roxo, azul, vermelho, branco e rosa.
Marcelo Rebelo de Sousa ofereceu ainda um registo de Santo António, proveniente da sua coleção particular.
Depois do encontro, Marcelo contou aos jornalistas que o Papa se referiu “a Portugal e aos Portugueses com muito apreço, de um modo que eu diria quase carinhoso”, recordando que na sua infância conheceu muitos portugueses emigrantes na Argentina, “um povo trabalhador, humildem sério, fraternal e solidário”.
Marcelo Rebelo de Sousa fez “um balanço muito positivo” da sua primeira visita oficial enquanto Presidente da República desde que assumiu o cargo, há uma semana. “Ficou muito patente o modo como acompanha o que se passa em Portugal”, disse, facto que foi para si “muito significativo”.
O papa ofereceu os presentes reservados aos chefes de Estado, que consistiram, neste caso, em versões portuguesas da encíclica “Louvado sejas” e a exortação apostólica “Alegria do Evangelho”, os dois grandes documentos do pontificado de Francisco.
O papa ofereceu igualmente a Marcelo Rebelo de Sousa um medalhão do seu pontificado, que tem dois ramos de oliveira entrelaçados.
Após a audiência papal, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelo cardeal Pietro Parolin, o Secretário de Estado do Vaticano, equivalente a um primeiro-ministro.
Papa em Fátima
Antes do encontro, o Presidente da República anunciou que levou consigo “uma carta formal em nome da República Portuguesa a convidar Sua Santidade a visitar Portugal, a propósito do centenário das aparições de Fátima, em 2017, e espero encontrar no papa Francisco um acolhimento a este convite”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousaaos jornalistas, em Roma.
O Chefe de Estado declarou que, assim, a visita do papa juntaria “um acontecimento religioso a uma projeção que é ao mesmo tempo um reconhecimento da gratidão por aquilo que significou desde os primórdios da nacionalidade o apoio àquele estado independente que nascia e que teve no papado, antepassado da Santa Sé, o primeiro gesto de aceitação e de compreensão à escala de então do universo, que era sobretudo europeu”.
Depois do encontro, Marcelo não quis revelar se o convite foi aceite, mas disse estar feliz com a resposta.
“Não posso dizer nada quanto à posição do santo padre quanto ao convite mas posso dizer o meu estado de espírito. Só vos posso dizer que saí muito feliz da audiência“, afirmou.
Marcelo reiterou que o motivo de a sua primeira visita ser ao Vaticano, onde às 10h se encontrou com o papa Francisco, se deve ao facto de ter sido a primeira entidade a reconhecer Portugal como um estado independente e D. Afonso Henriques como rei.
A independência de Portugal e o título de rei a Afonso Henriques foram reconhecidos pelo papa Alexandre III em 1179.
Questionado sobre eventuais semelhanças entre o papa e ele próprio, o Presidente da República recusou comparar-se a Francisco, considerando que isso seria “realmente desproporcionado”, mas assumiu uma convergência no que considera ser o retomar do espírito do Concílio Vaticano II.
“O papa Francisco retoma muito da tradição do Concílio Vaticano II, que marcou a minha juventude”, sustentou Marcelo.
O Concílio Vaticano II representou uma mudança apreciável em muitos aspetos da vida da Igreja Católica, no ecumenismo, na abertura às outras religiões, na sensibilidade ao novo mundo, na preocupação com uma forma de celebração, de rito, que aproximasse a Igreja das pessoas”, acrescentou o presidente da República.
O concílio convocado pelo papa João XXIII e concluído por Paulo VI nos anos 1960revolucionou a Igreja Católica, num processo de abertura sem precedentes e que terminaria, por exemplo, com as missas celebradas em latim e de costas para os fiéis.
Sobre o papa Francisco ser uma personalidade de afetos, uma expressão que o próprio Marcelo usou para qualificar a campanha eleitoral que o levou à Presidência da República e a abordagem que privilegia, o Presidente disse que o líder da Igreja Católica é isso e mais.
“O papa Francisco além de ser uma personalidade dos afetos é uma personalidade da proximidade, do diálogo, da compreensão, da solidariedade com os mais pobres, explorados, oprimidos, e nesse sentido, até na simplicidade da sua vida, das suas palavras, num tempo de guerra, de injustiça, de confronto”, afirmou.
“Há de facto aqui um apelo que toca crentes e não crentes e crentes os mais variados, como se tem visto no encontro de Igrejas cristãs que há muito não se encontravam”, acrescentou.
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