Rui Peralta, Luanda
Durante a década de 1950 as Fundações Rockefeller e Ford iniciaram, através do financiamento de ONG´s e instituições de ensino internacionais, um processo de recrutamento de jovens quadros e estudantes universitários. Passaram, estas fundações a funcionarem como extensões do governo dos EUA, que na época derrubavam governos democraticamente eleitos na América Latina, no Irão e na Indonésia. Dois exemplos:
1) Na Indonésia, onde a Fundação Ford criou um curso de economia e gestão na Universidade da Indonésia, com um sistema de bolsas para os USA. Grande número destes estudantes participou no sangrento golpe de Estado de 1965, apoiado pela CIA, que depôs o presidente Sukarno e o seu governo progressista e levou ao poder o general Suharto que assentou o seu Poder apoiado em Washington e por cima dos cadáveres de centenas de milhares de comunistas indonésios.
2) No Chile, antes do golpe de 1973 - financiado e delineado pela CIA, que assassinou Salvador Allende e colocou no Poder, durante 17 anos, o general Pinochet e o seu bando de assassinos sociopáticos – jovens estudantes chilenos foram levados para a Universidade de Chicago para serem “formatados” em economia, ao cuidado de Milton Friedman e sob os auspícios da Fundação Rockfeller. Após a sua “formatação” os “Chicago Boys” do Chile foram conselheiros técnicos, consultores, secretários de Estado e ministros, sempre ao serviço da ditadura sanguinária.
Sob a égide destas fundações a educação tornou-se a terceira esfera de influência do imperialismo - depois da política externa e da macroeconomia interna – através da aplicação de milhões de dólares em instituições académicas e pedagógicas. Isto oferece á inteligência dos USA um conjunto inolvidável de conhecimento e permite á CIA recrutar estudantes e professores académicos em todas as universidades do mundo. Adeus ética académica.
Fundações empresariais dotadas por corporações são as maiores patrocinadoras das ciências sociais e artes, oferecendo cursos e bolsas de estudo em "estudos de desenvolvimento", "estudos de comunidade", "estudos culturais", "ciências do comportamento" e "direitos humanos”. Com a abertura de portas por parte das universidades norte-americanas aos estudantes estrangeiros centenas de milhares de estudantes, filhos das elites e das incipientes classes médias das economias periféricas aderiram. A Europa seguiu o mesmo esquema e hoje como resultado não existe, em África, uma família entre as classes médias altas e das elites politicas, militares e económicas, que não tenha um filho a estudar ou “formatado” nos USA ou na U.E. A partir das suas fileiras chegam alguns bons estudiosos e académicos, mas uma maioria de serviçais que assumem cargos como primeiros-ministros, ministros das Finanças, economistas, advogados de empresas, banqueiros e burocratas.
Gradualmente criaram uma ideologia abrangente – o pensamento único - que passou a dominar o discurso político e económico. Este processo foi sempre feito de forma despercebida, camuflada. Tornou-se a posição padrão, a maneira natural de ser, a normalidade e colonizou a vida. A filantropia empresarial é tão parte das nossas vidas como a cerveja e o pirão. Existem, actualmente, milhões de organizações sem fins lucrativos, a grande maioria ligadas por um esotérico labirinto financeiro às fundações maiores. É um sector "com activos no valor de quase 450 mil milhões de USD.
As três maiores? Pois… Fundação Bill Gates (21 mil milhões de dólares); Lilly Endowment (16 mil milhões); Fundação Ford (15 mil milhões). O lema? É simples e conhecido: “Venha a nós o vosso reino…”
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