A Europol destacou as “repetidas ameaças” do Daesh a Portugal e Espanha e considerou que ataques semelhantes aos de novembro, em Paris, podem ocorrer num “futuro próximo” na União Europeia.
No seu relatório anual sobre terrorismo na União Europeia (UE), divulgado esta quarta-feira, o serviço europeu de polícia referiu, no capítulo sobre terrorismo jihadista e o grupo extremista Estado Islâmico (EI), que a organização tem “repetidamente ameaçado a Península Ibérica e os membros da UE da coligação anti-EI nos seus vídeos de propaganda, fazendo referências específicas à Bélgica, França, Itália e Reino Unido“.
No parágrafo anterior, lê-se que os ataques de 13 de novembro, em Paris, que mataram 130 pessoas, introduziram uma tática para “causar mortes em massa“, ao combinar o uso de armas pequenas com dispositivos explosivos improvisados colocados em coletes suicidas.
“A forma como estes ataques foram preparados e perpetrados – planeados por repatriados, muito provavelmente a receber instruções da liderança do EI, incluindo o uso de recrutas locais para realizar os atentados – leva-nos à avaliação de que ataques semelhantes podem voltar a ser encenados na UE num futuro próximo”, refere o documento sobre a situação e tendência do terrorismo na União Europeia.
Entretanto, o Serviço de Informações de Segurança (SIS) confirmou ao Diário de Notícias que há ameaças do Daesh contra Portugal, mas no quadro geral da Península Ibérica.
O diretor do SIS, Neiva da Cruz , salienta que a “menção que o Daesh faz a Portugal tem sido, em regra, inserida no contexto da referência genérica de reivindicação do Al Andalus pela organização terrorista”.
Neiva da Cruz admite que houve uma situação em que a ameaça foi direta, quando se registou uma “menção ao nosso país através da apresentação, num vídeo de difusão da mensagem jihadista, dabandeira nacional inserida no conjunto de bandeiras de países que integram a coligação contra o Daesh”.
Não há provas que atacante de Nice pertença ao ISIS
A Europol comunicou também não haver qualquer prova de que o atacante de Nice (França) seja um membro do grupo extremista, e que não há prova de envolvimento do EI noutros recentes atentados.
Numa nota divulgada esta quarta-feira sobre os quatro ataques terroristas perpetrados no espaço de um mês (Orlando, EUA, Magnanville e Nice, França e Würzburg, Alemanha), a Europol sublinhou as “dificuldades operacionais em detetar e desmantelar ataques de atores solitários“.
“Apesar de o EI ter reivindicado os últimos ataques, nenhum dos quatro parece ter sido planeado, com apoio logístico, ou diretamente executado pelo EI”, destaca a Europol.
Segundo a organização, existem indícios que os atacantes de Orlando, Magnanville e Würzburg sejam apoiantes dos radicais, mas o “seu envolvimento real com o grupo não pode ser estabelecido”.
O relatório refere que, “além disso, não há nenhuma prova que sugira que o atacante de Nice se considerava membro do EI. Foi relatada a sua radicalização num muito curto espaço de tempo e o seu consumo de propaganda jihadista nos dias anteriores ao ataque”.
“No caso de Würzburg, as notícias são da existência de uma bandeira feita à mão no quarto do agressor”, lê-se na nota, pelo que a Europol concluiu que, apesar da reivindicação dos ataques, a “filiação no grupo não é clara”.
O serviço policial também destacou as palavras usadas nas mensagens do EI sobre os ataques, notando que a agência A’maq argumentou ter recebido informações de fonte não identificada de que os ataques foram realizados por ‘soldados do Califado” ou por um “combatente do EI”.
“Isto em contraste com as reivindicações claras do EI de responsabilidade no ataque de novembro de Paris e de março de Bruxelas, ao dizer que os atacantes eram membros enviados para realizar os atentados”, indicou a Europol, referindo haver ligações religiosas e ideológicas nos ataques de solitários, mas não podem ser excluídos eventuais problemas de saúde mental.
Na passada quinta-feira, um homem atirou um camião contra uma multidão, em Nice, provocando pelo menos 84 mortos, enquanto em Würzburg, na segunda-feira, um jovem feriu cinco pessoas, num comboio com um machado.
A 12 junho, em Orlando, um homem matou 49 pessoas numa discoteca e um dia depois, em Magnanville, foram assassinados dois polícias.
ZAP / Lusa
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