Investigadores norte-americanos descobriram que o sistema imunitário afeta diretamente – e até controla – o comportamento social, como o desejo de interagir com os outros.
No ano passado, a equipa de Jonathan Kipnis, da Universidade da Virgínia, nos EUA, descobriu uma nova série de vasos linfáticos que ligam o cérebro ao sistema imunitário – uma ligação que ninguém pensou anteriormente que existia. O estudo foi publicado na revista Nature.
A pesquisa voltou a chamar a atenção na semana passada, quando os cientistas anunciaram a descoberta de que o sistema imunitário poderia controlar o nosso comportamento social através destes vasos.
“Pensava-se que o cérebro e o sistema imunitário estavam isolados um do outro, e qualquer atividade imunitária no cérebro era vista como sinal de uma patologia. Agora, não só conseguimos mostrar como interagem de forma muito próxima, como alguns dos nossos comportamentos sociais evoluíram por causa da nossa resposta imunitária aos patogéneos”, explicou Jonathan Kipnis.
Os estudos recentes da equipa indicam que desligar uma molécula do sistema imunitário dos ratos pode ter um impacto significativo no comportamento dos animais, impedindo-os de socializar com outros ratos, o que sugere um possível papel do sistema imunitário nas perturbações sociais, como o autismo.
“É de loucos, mas podemos ser apenas campos de batalha multicelulares para duas forças ancestrais: patogénios e o sistema imunitário. Parte da nossa personalidade pode mesmo ser ditada pelo nosso sistema imunitário“, comentou o investigador.
O novo estudo foi publicado a 13 de julho na Nature.
Componente imunitário nas doenças neurológicas
O sistema linfático é composto por vasos que transportam glóbulos brancos e outras células do sistema imunitário por todo o corpo, fazendo a ligação entre os tecidos e a corrente sanguínea, e ajudando a remover células sanguíneas mortas e outros resíduos.
Durante décadas, os cientistas estavam convencidos de que o cérebro não possuía nenhum vaso linfático, não tendo assim uma ligação direta com o sistema imunitário – até que, no ano passado, os vasos linfáticos foram descobertos escondidos nas meninges – a camada de tecido que cobre o cérebro.
Os investigadores começaram por estudar meninges inteiras de ratos, em vez de cortá-las, como normalmente fazem.
Ao observá-las como um todo sob o microscópio, os cientistas notaram que havia células imunes espalhadas pela amostra em padrões de vasos. Mais testes revelaram que eram, de facto, vasos linfáticos.
A equipa injetou então corante nos ratos anestesiados para que pudessem identificar como é que os vasos transportavam fluidos e células imunitárias a partir do líquido cefalorraquidiano, ao longo das veias nos seios nasais e linfonodos cervicais, uma ligação direta entre o sistema imunitário e o cérebro.
A equipa também descobriu vasos semelhantes em autópsias de cérebros humanos, mas ainda ficou por demonstrar como é que são organizados e qual a sua função. Esta descoberta poderia ser a chave para o tratamento de uma ampla gama de doenças, da esquizofrenia ao Alzheimer.
“Na doença de Alzheimer, existem grandes acumulações de proteínas no cérebro”, explica Jonathan Kipnis. “Elas podem estar a acumular-se porque não estão a ser eficazmente removidas por esses vasos”.
“Acreditamos que para cada doença neurológica que tem um componente imunitário, estes vasos podem desempenhar um papel importante”, acrescentou Kipnis.
Enquanto mais estudos são necessários para melhor compreender como estes vasos funcionam, é importante a possibilidade de virmos a ter uma forma totalmente nova de abordar as doenças do sistema nervoso central.
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