O juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), disse acreditar que o querem afastar do cargo que ocupa, incluindo arguidos dos casos que tem em mãos, numa entrevista publicada hoje pelo jornal Expresso.
"Acredito que me queiram afastar de tudo, deste
sítio onde estou a trabalhar. Não estou a pensar em nenhuma em concreto, mas há
pessoas que gostariam de me ver longe daqui", disse em resposta a uma
pergunta dos jornalistas Rui Gustavo e Pedro Santos Guerreiro.
Questionado sobre se estava a falar de arguidos que
investiga, Carlos Alexandre respondeu: "Não sei. Há sempre interesses. Já
tive incidentes de recusa nos processos e não interpreto isso como uma
tentativa de afastamento".
À pergunta sobre se se sente "em risco",
respondeu: "Como já me foi avisado, tenho de me cuidar". A este
propósito, referiu ainda "uma fiscalização" da Autoridade Tributária
às suas contas, sobre que "um dia" falará em público, mas recusou "densificar".
O Expresso revela que a entrevista que hoje publica
foi realizada antes da transmissão pela SIC, a 08 de setembro, de uma outra
entrevista a Carlos Alexandre na sequência da qual a defesa do
ex-primeiro-ministro José Sócrates apresentou um pedido de recusa do juiz, que
é o responsável pelo processo da Operação Marquês, em que o antigo líder do
Governo é arguido.
Na entrevista ao Expresso, Carlos Alexandre volta a
sugerir que está sob escuta, afirmando que fala "sucintamente" ao
telefone, mas não pode falar "muito tranquilamente", porque as suas
palavras podem ser interpretadas por "pessoas que tenham acesso às
interceções, as autoridades formais de controlo ou outras".
Noutro ponto da entrevista, e recusando sempre falar
em concreto sobre a Operação Marquês, afirma que "em muitos processos há
uma grande dilação temporal entre a instauração do inquérito e o despacho
final", com "vários exemplos no DCIAP cuja investigação dura há mais
de cinco ou seis anos".
"Há ene processos que vão além do prazo normal e
por isso é que a lei prevê algumas circunstâncias excecionais", afirma,
acrescentando que foi criada uma legislação, precisamente quando José Sócrates
era primeiro-ministro, com "normas que estendiam o prazo de acesso ao
inquérito, por motivos julgados relevantes".
A Operação Marquês conta com
mais de uma dezena de arguidos, incluindo José Sócrates, que esteve preso
preventivamente mais de nove meses, e que está indiciado por fraude fiscal
qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito.
Lusa
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