LUSA | 16 Setembro 2016, 12:25 |
"'A verdade é esta', diz ele (Fernando Lima), 'eu agi sobre ordens superiores'. 'Eu fiz aquilo que me mandaram'. Isto é: foi ter com um jornalista, inventou uma história, segundo a qual estava a ser vigiado. O jornalista foi cúmplice dessa 'inventona' das escutas e fizeram disso um objectivo político", disse Sócrates, considerando que se tratou de uma tentativa para prejudicar o governo do PS em ano de eleições.
"Entre o Presidente da República e os jornalistas decidiram construir essa história com o objectivo de prejudicar-me, a mim pessoalmente, e impedir-me de ganhar as eleições, que acabei por ganhar em 2009", acrescenta Sócrates.
"O Presidente da República, Cavaco Silva organizou, planeou uma 'inventona' contra um governo com vista a prejudicá-lo e a deitá-lo abaixo a poucos meses das eleições, isto é o que se retira do livro", frisa o ex-primeiro-ministro do PS quando questionado sobre as memórias de Fernando Lima.
No livro "Na Sombra da Presidência -- Relato de 10 Anos em Belém", Fernando Lima refere não fez nada à revelia da hierarquia no que diz respeito ao caso sobre a vigilância noticiada pelo Público em 2009.
"Quando um certo dia, dei conta, a um jornalista do Público, da estranheza, na Presidência, sobre a presença de um adjunto do primeiro-ministro na comitiva de Cavaco Silva que se deslocou à Madeira, foi porque recebi uma indicação superior para o fazer" (página 146), recorda Lima no livro.
"Não fiz nada à revelia da minha hierarquia como nunca o fizera ao longo da minha vida na relação que, por dever de funções, mantinha com a comunicação social. O assunto era demasiado delicado para que eu avançasse sem mais nem menos", acrescenta Fernando Lima.
Sobre o mesmo assunto, Lima escreve ainda que na conversa com o jornalista do Público, "igual a tantas outras" que tivera no âmbito das funções que desempenhava, fez-lhe ver que, "por se tratar de uma situação inusitada que intrigara a comitiva que acompanhara o Presidente, tinha significado político.
A correspondência electrónica do jornalista do Público foi publicada pelo Diário de Notícias a 18 de Setembro de 2009 e três dias depois Fernando Lima era afastado da assessoria por Cavaco Silva.
No período que antecede este caso, Fernando Lima fala ainda da acção da "central de intoxicação socrática" em outras situações, sublinhando que aos socialistas não interessava "um poder forte em Belém e, muito menos, um Presidente que quisesse passar por impoluto".
Sobre as acusações de Lima publicadas no livro sobre o governo do PS, Sócrates recorreu à ironia.
"Talvez para manter alguma lucidez nisto possamos recorrer à ironia. Afinal de contas perguntarmos o que seis anos de sótão podem fazer à imaginação de um homem", disse Sócrates referindo-se ao período em que Fernando Lima permaneceu afastado das funções que exercia inicialmente na Presidência da República.
Fonte:jornaldenegocios
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