sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

AUMENTO DE CESARIANAS ESTÁ A AFECTAR A EVOLUÇÃO DO CORPO DAS MULHERES

 

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O uso cada vez mais recorrente das cesarianas nos partos está a afectar a evolução do corpo das mulheres. A conclusão é de um estudo austríaco que constata que estas cirurgias não permitem às mulheres adaptar-se ao crescente aumento do tamanho dos bebés.
A investigação, levada a cabo na Universidade de Viena, na Áustria, apurou que as mulheres não desenvolvem pélvis mais largas, de modo a adaptarem-se ao crescente aumento do tamanho dos recém-nascidos, por causa do uso recorrente de cesarianas nos partos.
Está em causa uma “evolução” que decorre do facto de os avanços da medicina não permitirem aquela que seria a selecção natural, conforme explica o líder da investigação, Philipp Mitteroecker, do Departamento de Biologia Teorética da Universidade de Viena, em declarações à BBC.
“As mulheres com uma pélvis muito estreita não sobreviveriam ao parto há cem anos. Agora sobrevivem e passam o seu código genético para uma pélvis estreita às suas filhas”, realça o cientista.
“Sem a intervenção médica moderna, tais problemas eram, muito frequentemente, letais e isto, de uma perspectiva evolucionária, é selecção”, acrescenta.
No estudo, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, atesta-se que “o uso regular de partos de cesariana, ao longo da última década, levou a um aumento evolucionário dos níveis da desproporção feto-pélvica de 10% a 20%“.
É o mesmo que dizer que, por causa das cesarianas, o corpo de algumas mulheres não consegue adaptar-se ao aumento de tamanho dos recém-nascidos, o que é também uma tendência moderna.
Os investigadores calculam que os casos em que o bebé não cabe no canal de nascimento aumentaram de 30 em mil em 1960 para 36 em mil hoje em dia. E a previsão é de que esta tendência continue a aumentar.

“Prova absoluta demorará centenas de anos”

Para o obstetra Diogo Ayres de Campos, professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, as conclusões deste estudo austríaco não são, contudo, definitivas, afirma ao Diário de Notícias.
“É uma teoria que já tem algum tempo. Várias pessoas o defenderam no passado, mas a prova absoluta demorará centenas de anos”, refere Ayres de Campos, considerando que é “natural que estejamos a seleccionar uma população com bacias mais estreitas” quando, “a nível global, há um aumento do peso médio dos bebés e dos outros diâmetros”.
O obstetra britânico Daghni Rajasingam, consultado pela BBC, refere, por seu lado, que é preciso também considerar outros dados da sociedade actual, como os casos de diabetes e de obesidadedurante a gravidez, que influenciam a necessidade de as mulheres recorrerem a cesarianas durante o parto.
A OMS tem alertado para o número elevado de cesarianas praticadas em todo o mundo.
Segundo o DN, dados de 2015, relativos a Portugal, mostram que no Serviço Nacional de Saúde há uma taxa de 28% de partos com cesariana, enquanto nos privados a média chega aos 66%, contra os 27,6% na média dos países da OCDE.
Em 2014, um estudo feito pela Universidade de Aveiro explicava o elevado número de cesarianas no privado com o factor económico, por serem mais caras do que os partos naturais, e no público com a intenção de “despachar” o processo perante a falta de profissionais.
SV, ZAP

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