A associação dos emigrantes lesados pelo BES disse hoje que estes se sentem "abandonados", esperando que também se encontre uma resolução para o seu caso, depois de segunda-feira ter sido anunciada uma solução para os lesados do papel comercial.
"Tem havido reuniões que nos levam a crer que há vontade de encontrar uma solução, sobretudo da parte do Governo", disse a vice-presidente da Associação Movimento Emigrantes Lesados Portugueses (AMEL), Helena Batista, à Lusa, referindo que os encontros têm acontecido com o advogado Diogo Lacerda Machado, mediador pelo lado do Governo, e também com representantes do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM).
Já o Novo Banco continua a recusar-se a participar nos encontros, disse.
"Só não conseguimos reunir-nos com o Novo Banco, o que é muito estranho. Não sei que poder têm para se recusarem a vir às negociações", considerou.
Helena Batista disse que espera que saia das negociações uma solução viável, que seja favorável aos emigrantes tal como a dos lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), que foi apresentada na segunda-feira na presença do primeiro-ministro, mas afirmou que para já não há qualquer indicação de que surja em breve um mecanismo que permita compensar as cerca de 2.000 famílias que não aceitaram a solução comercial proposta pelo Novo Banco ou que não receberam qualquer solução (devido à natureza dos produtos em que investiram).
"Faço um apelo ao Governo e ao Presidente da República para que se lembrem dos emigrantes", pediu a vice-presidente da AMELP, acrescentando que estão já a pensar em novas ações de luta, sendo que continuam a distribuir panfletos para que os portugueses que estão no estrangeiro não mandem mais remessas para os bancos em Portugal.
Segundo Helena Batista, estes emigrantes não foram gananciosos nem foram para produtos complexos por darem maior remuneração, mas escolheram pôr o dinheiro em Portugal por motivos emocionais.
"Venderam-nos [os produtos] na altura como depósitos para não residentes. Eu consegui 2,7% [de juro] e na altura era fácil nesses anos ter taxas mais altas no país em que residia, e se trouxe o dinheiro para Portugal foi para ajudar o país e agora vejo-me abandonada pelo meu país", disse Helena Baptista.
Após a resolução do Banco Espírito Santo (BES), em 04 de agosto de 2014, cerca de 8.000 clientes emigrantes do banco vieram reclamar um total de 728 milhões de euros, acusando o banco de ter aplicado o dinheiro em produtos arriscados sem o seu consentimento.
Para tentar minimizar as perdas, o Novo Banco (a instituição de transição que ficou com ativos do BES) propôs aos emigrantes uma solução comercial, que teve a aceitação de cerca de 6.000 clientes (80% do total) que tinham 500 milhões de euros em produtos de poupança.
No entanto, houve 2.000 clientes que não aceitaram a solução por considerarem que não era justa e não se adequava ao seu perfil, sendo que o Novo Banco também não fez qualquer proposta aos clientes dos produtos EG Premium e Euro Aforro10, argumentando que não era possível devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos por estes produtos, sendo assim a única alternativa a reclamação do dinheiro em tribunal.
A vice-presidente da AMELP voltou hoje a dizer que a solução apresentada pelo Novo Banco foi negativa para os clientes.
"Ainda ontem [segunda-feira] uma pessoa me ligou a dizer que só ontem recebeu uma carta e percebeu o que assinou. Durante seis anos não podem mexer em nada, se mexem para o negócio. Ao fim de seis anos podem ir ao mercado vender aquilo [as obrigações], mas ninguém quer comprar se não têm cupão e só tem maturidade em 2049 e 2051", contou.
Segundo Helena Baptista, o que agora pode ajudar estes clientes é "apenas a vontade política".
A AMELP é constituída por mais de 400 associados, sobretudo trabalhadores emigrantes portugueses, e já protagonizou vários protestos em Paris, França, e em cidades portuguesas com o objetivo de conseguirem reaver as poupanças.
Lusa
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