domingo, 11 de junho de 2017

Porque o movimento antivacina ameaça a saúde mundial

Porque o movimento antivacina ameaça a saúde mundial
A ignorância parece ser algo que caracteriza a humanidade. Tal e qual Carl Sagan disse certa vez: - "Vivemos em uma sociedade completamente dependente da ciência e da tecnologia, em que quase ninguém sabe sobre ciência e tecnologia". E temos mais um exemplo: infelizmente o movimento estúpido (muito estúpido mesmo) de anti-vacinação chegou ao Brasil. Um bando de ineptos espalham mentiras a respeito das vacinas, que levam muitos pais a não vacinar seus filhos. Como consequência disso muitas doenças que já estavam sob controle começam a voltar.

Porque o movimento antivacina ameaça a saúde mundial
Tudo começou em 1998, quando o médico inglês Andrew Wakefield (seu diploma já foi caçado) inventou que a vacina tríplice viral podia causar autismo, algo que ninguém mais conseguiu reproduzir, pois o estudo em questão era uma fraude. Isto, e a intervenção de outros personagens populares cognitivamente limitados, fez com que nos últimos anos muitos pais tenham optado por não vacinar seus filhos, com terríveis consequências, como é possível desapreciar nesse mapa.

Eu tenho uma conhecida esotérica, com fartos recursos financeiros, que decidiu não dar as vacinas de reforço aos seus filhos porque leu em algum lugar da internet que estas vacinas só iriam criar gerações, cada vez mais, com menos imunidade. O que esta "iluminada" não se lembra é de raciocinar com base na imunidade coletiva, porque dessa maneira algumas doenças que já foram praticamente erradicas podem voltar.

Uma criança bem nutrida, plena de cuidados e atenções e vivendo em um lar confortável pode não sofrer com a doença, mas pode sim ser a ponte para que o filho da empregada, em uma idade precoce antes da recomendada para a vacina, padeça com ela.
A vacina é um dos maiores êxitos científicos da história da humanidade
Porque o movimento antivacina ameaça a saúde mundial
As vacinas são um dos pilares básicos entre os quais se assenta a medicina científica e a previdência atuais. E ainda que desde nossa visão ocidental marcada pelo ideal de progresso e superação tendemos a pensar que os avanços são sempre irreversíveis, muito desgraçadamente encontramos uma encruzilhada na qual os efeitos destas admiráveis invenções estejam se revertendo por causa de pessoas como a que citei acima, com o conseguinte perigo de voltarmos a um passado não tão remoto em que as epidemias assolavam o mundo.

É evidente que o grande êxito científico da invenção das vacinas permitiu a erradicação ou o controle de perigosos agentes patogênicos, que assolaram a nossa espécie desde nossa alvorada como sociedades neolíticas e salvando a vida de milhares de milhões de pessoas.

Ademais a distribuição de muitas delas a nível mundial, administradas inclusive aos habitantes dos lugares mais remotos e inacessíveis do globo, independentemente do poder aquisitivo de cada cidadão ou a riqueza de cada nação, é uma das maiores mostras de altruísmo que podemos presumir como espécie, dada a uma escassa colaboração entre diferentes grupos de humanos, isolados habitualmente por um monte de barreiras artificiais (língua, raça, religião, política, etc.) que nos impedem entender que é maior o que nos une do que o que nos separa.
A suspeição sem sentido
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Pois bem, todo este incrível esforço médico-sanitário a nível global está agora em suspeita porque em pleno século XXI uma coalizão inacreditavelmente heterogênea -fundamentalistas religiosos, usuários de medicamentos holísticos, seitas new wave, pseudomédicos, conspiranoicos, homeopatas e até o pessoal da cura espiritual-, tanto pela origem quanto pelos métodos, mas absolutamente uniforme quanto a sua ignorância e sua irracionalidade, decidiu em seu particular critério que as vacinas são desnecessárias e perigosas.

Com base nessa premissa acreditam que cada cidadão pode, por si só, questionar as toneladas de dados científicos existentes e ter a liberdade para decidir se vacina seus filhos ou se, pelo contrário, trata essas graves doenças com o método curativo de sua escolha.

Temos aqui então a democracia direta levada ao mundo sanitário, onde a opinião de qualquer charlatão deve ser levada em conta e respeitada, em igualdade de condições com a medicina científica.
Número de surtos atuais comparáveis aos de décadas passadas
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Assim, nos últimos anos, longe de diminuir, o número de surtos epidêmicos de doenças que têm uma simples e barata prevenção, estão aumentando exponencialmente tal e qual mostra este mapa-múndi.

O mais assustador é o chamativo aumento de surtos em quase todos os países desenvolvidos do chamado primeiro mundo. Só para que se tenha uma ideia, o número de casos de sarampo em países como a França ou o Reino Unido mostra níveis dos anos 90 do século passado ou os de coqueluche nos EUA se encontram na atualidade no mesmo nível que no início da década de 80.
O que Darwin acharia disso tudo?
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Darwin escreveu um livro em memória de seu avô, intitulado "Meu avô Erasmus", onde o naturalista lembra que este defendeu o uso da vacina contra a varíola, de Edward Jenner, e ajudou os habitantes de seu povoado contra a epidemia desta terrível doença, mas já naquela época tinham pessoas contrárias a seu uso. Em um determinado parágrafo -que curiosamente não foi publicado no original pois os editores da época acharam muito agressivo- Charles Darwin investe contra este idiotas:
"Se esses intolerantes que agora se opõem à vacinação tivessem em conta notícias como as dadas mais acima a respeito da anterior firmeza e terrível natureza maligna da varíola, talvez desconfiassem de seus próprios julgamentos; mas é provável que sejam muito ignorantes para se darem conta de sua própria ignorância.

Parece que sempre existiram pessoas cuja mente está tão transtornada que se oporia a qualquer prática, apesar da importância de seus benefícios e da certeza dos dados relativos a ela e por melhor confirmadas que estejam suas teorias."
Em resumo, a total rasura cognitiva aliada a uma errônea aplicação dos conceitos de liberdade de expressão e de democracia em temas científicos de profundas repercussões sanitárias pode colocar em risco uma das maiores conquistas médicas e científicas que conseguimos como espécie e, o que é pior, expor nova e irresponsavelmente a população a perigosos patogênicos que já pareciam esquecidos.
Fonte: I fucking Love Science/mdig.com.br

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