O aumento dos índices de criminalidade transformou o Rio de Janeiro de "cidade maravilhosa" num lugar cada vez mais parecido com uma zona de guerra, onde a população aplaude a presença do exército para pacificar as ruas.
Na última sexta-feira, o Governo do Brasil formalizou, por meio de um decreto presidencial, o envio de 10 mil elementos militares e policiais para a capital carioca com objetivo de conter o avanço da violência.
Em entrevista à Lusa, Ana Carolina Chaves, publicitária, de 34 anos que mora no Rio há mais de 10 anos, contou que a população da cidade está refém da violência.
"Temos que assumir que estamos em uma situação de guerra e precisamos de uma intervenção do Estado", disse.
Vivendo em Botafogo, um bairro da zona sul onde os crimes não eram tão frequentes, Ana Carolina Chaves revelou que nos últimos meses presenciou um tiroteio ao lado da sua casa e soube de um incidente assustador com um amigo do trabalho, que foi baleado durante um assalto.
"Também vi diversos arrastões [roubos em sequência] indo de casa para o trabalho dentro de um túnel que fica no caminho. Ando apreensiva e com medo porque a violência não tem dia ou hora para acontecer aqui", frisou.
O Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, órgão que regista as ocorrências lavradas nas delegacias da polícia civil, informou que o registo total de roubos no estado cresceu 14% nos seis primeiros meses do ano frente o mesmo período de 2016.
O total das ocorrências de roubos registados nas delegacias passou de 97.064 para 110.747 casos.
Este não o único problema que está a afetar a rotina dos moradores. Depois de anos em ligeira queda, os tiroteios tornaram-se novamente um perigo real para os cariocas.
A contabilista Letícia Ramos, de 23 anos, vive perto de uma favela onde acontecem pelo menos dois incidentes por semana.
"Os tiroteios entraram de novo na nossa rotina e tornaram-se quase uma coisa normal. Tenho medo, mas como moradora do Rio [de Janeiro] comecei a achar isto quase normal. O ambiente da cidade nos forçou a achar isto normal", frisou.
Um levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em conjunto com a aplicação Fogo Cruzado indicou que aconteceram pelo menos 3.829 tiroteios entre julho de 2016 e julho de 2017 na capital carioca.
Vivendo ao lado de uma das centenas de "zona de tiro" ativas na cidade, onde elementos de grupos rivais lutam entre si ou contra a polícia, Letícia Ramos também é favorável a presença do exército.
"Sou a favor da vinda das forças armadas. Não sei isto vai solucionar o problema da violência, mas temos que usar os recursos que estão nas nossas mãos e a ajuda do exército é o que temos agora", explicou.
Já o economista, Cristian de Souza, de 42 anos, mostrou-se mais tranquilo sobre o aumento da criminalidade no Rio e Janeiro.
"Moro na cidade há 16 anos, nunca fui assaltado nem vi acontecer nenhum crime. Não tenho medo e mantenho uma rotina normal. O que percebi de diferente nos últimos meses é que o policiamento está bem menor nas ruas", disse.
O economista disse que a única coisa que o amedronta é a possibilidade de sofrer um 'sequestro relâmpago' (prática em que o criminoso fica com a vítima para forçá-la a levantar dinheiro nas caixas ATM ou fazer compras).
Segundo o ISP, os 'sequestros relâmpagos' tiveram um aumento de apenas 3% no primeiro semestre do ano em comparação com o mesmo período de 2017, passando, respetivamente, de 37 ocorrências para 40 casos registados.
Cristian de Souza também concorda com a presença do exército nas ruas.
"Acho boa esta iniciativa do exército atuar no Rio já que a presença ostensiva de policias deve inibir a ação daqueles que querem cometer crimes", concluiu.
Fonte: Lusa
Foto: - Márcia Foletto / Agência O Globo
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