O Orçamento do Estado para 2018 vai ser aprovado. Só não se sabe em que termos. Vai ser aprovado porque o Bloco de Esquerda e o PCP não podem correr o risco de tirar o tapete ao Governo e criar uma crise política que desembocaria numa perda de votos.
Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt04 de setembro de 2017 às 23:03 |
E, consequência desta primeira premissa, será viabilizado, porque na balança dos prós e contras esta é a solução que garante aos dois partidos um papel interventivo na definição das políticas económicas e cedências da parte do Governo, que noutro contexto seriam impossíveis.
O Governo, por seu turno, terá de dar uso aos malabares e não os deixar cair durante este período de negociação, para não perturbar os seus parceiros à esquerda, mas também para não incomodar a Comissão Europeia, justificadamente ciosa na manutenção dos equilíbrios orçamentais.
Quanto à oposição, irá tentar criar brechas na fina parede da geringonça, pondo em evidência as suas contradições ideológicas existentes, por exemplo, na forma como cada um dos partidos olha para a União Europeia.
Ou seja, as cartas estão quase todas marcadas. Quase, porque as eleições autárquicas constituem o joker que pode favorecer ou prejudicar os partidos durante este percurso. Um resultado fraco do PS coloca-o mais vulnerável às exigências do Bloco e do PCP, um resultado débil do PSD corrói a liderança do partido e retira-lhe legitimidade na sua acção crítica. E isto acontecerá, por muito que os partidos apregoem o contrário, esgrimindo as especificidades das autárquicas.
Subtraindo isto, sobra o essencial. A admissão de que a manta é curta e é preciso fazer mais para aumentar as suas dimensões. A começar pelo equilíbrio das contas públicas e a redução da despesa do Estado, a qual só se obtém através do conceito que parece arrepiar o primeiro-ministro, o das reformas estruturais. Sem esquecer, claro está, medidas indutoras do investimento que amenizem a incontornável periferia de Portugal face à União Europeia
António Costa tem aproveitado a evolução positiva da economia e a melhoria dos índices de confiança para advogar a validade da sua estratégia. O que também faz parte do jogo político. O que falta a este Governo (como faltou a anteriores, por circunstâncias diversas) é a capacidade de dar o salto e pensar além da legislatura. Portugal sempre usou uma manta curta e isso já valeu três pedidos de ajuda externa e doses cavalares de austeridade. A saída da crise e a folga orçamental não significam que a dita cuja ficou maior, mas tão-só que os políticos acalorados acham (mal) que não vamos precisar dela.
Fonte: Jornal de Negócios
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