quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Editorial | Uma cidade inquinada

Há momentos que dou comigo a pensar em que cidade passei a viver, pois tenho o dever de a conhecer minimamente bem, tendo em conta que cá vivo há mais de 30 anos.

Na universidade, não sei se Aveiro lhe confere o devido reconhecimento, estudaram os meus dois filhos, tendo aproveitado as oportunidades que lhe foram oferecidas, colocando hoje os seus conhecimentos científicos ao serviço de países como a Espanha e França, tendo em conta que no seu de origem não passavam da frustração que iam sendo “vítimas” de emprego em emprego, sem perspectivas de futuro. É o País que temos, e o que merecemos, pois aos políticos não lhes assiste uma visão de futuro mais arrojada, que permita os portugueses terem melhor qualidade de vida.

Detesto os bajuladores, hipócritas, os bufos que vão lentamente surgindo nesta cidade, pensando eles que não dão nas vistas. De snobismo está o mundo cheio, fazer algo para a imagem, para a reportagem, para não dizer que já anda no ar um cheiro "nauseabundo". Servem-se de todos os meios e expedientes para prestar vassalagem, atingir os objectivos, nem que para isso deitem no caixote do lixo os valores cívicos e éticos que todos devíamos preservar e defender a todo o custo. Autênticos "podres" da sociedade contemporânea. À distância dos tais ainda é pouco. Vidas sem glória, se é que a têm, é efémera, ainda que se vangloriem uns aos outros.

O que se pode esperar de uma sociedade doente e desviante? Gosto particularmente deste trecho bíblico. “ (…) pelos frutos se conhece a qualidade da árvore”, porque não do pomar também? É certo que as pessoas transportam consigo todos os dias problemas de toda a ordem, ainda assim, preocupam-se mais com os dos outros do com os seus próprios.

Defendem os estudiosos do comportamento humano, que o homem é eminentemente um animal social, o pior é quando se transforma num inconveniente para o próximo, num sujeito inquinado.

Existe um mosquito que me  diz aos ouvidos: “meu caro, não um perfeito só que seja, todos temos as nossas imperfeições e com elas um dia qualquer nos vão acompanhar até à última morada neste mundo moribundo”. Não podia estar mais de acordo.

Uma coisa é assistir-nos a consciência que não somos prefeitos, erramos com frequência e menos damos conta, outra é assistir-nos a noção evidente dos passos que damos com propósitos bem programados, para infernizar a vida daqueles com quem convivemos todos os dias, ou, de vez em quando, mesmo com uma palmadinha nas costas, um caloroso aperto de mão, querendo assim passar uma mensagem de amizade, confidente no decorrer do diálogo que se vai seguir.

Há também por ai uma espécie de penetras em tudo o que cheira a cerimónias, dando ar da sua graça, com uma postura de emproados, peito cheio de importância, ainda que sejam chutados para canto, mas, estão presentes, para numa próxima oportunidade propagar boatos, maledicência, arruinar vidas alheias. É repugnante.

Infelizmente conheço alguns (não tão poucos quanto isso), dos tais convém distanciar-nos. Amigos desinteressados, genuínos, confidentes nos tempos que correm, escasseiam, senão mesmo em fase de extinção. Por essa razão e outras de menor relevo não correspondo aos convites que me são dirigidos para cerimónias diversas. Diz-me com quem andas… dir-te-ei quem és.

J. Carlos

Director 

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