O texto de hoje versa sobre algumas considerações a serem feitas sobre o diagnóstico e de como a palavra (geralmente do médico) influencia no mesmo. Iremos ainda pensar em como este diagnóstico influencia na vida (de uma forma geral) do indivíduo e ainda como este em alguns casos sela o futuro deste.
Pensar em um diagnóstico, dar um nome para o que sinto que até o momento, o inominável (aquele que não tem nome, aquele vago por natureza) para nós seres humanos ao mesmo tempo que é reconfortante (eu tenho isto ou aquilo) é angustiante (eu tenho isto), a palavra vem e entra como um véu que permite a nós enxergamos o que tem por de trás do nome, mas muitas vezes preferimos não o ver pelo fator angústia, olhar por trás da palavra nos traz angústia, sofrimento, medo; talvez até agora, tenha ficado um pouco confuso ao leitor, mas irei explicar o que escrevi nas linhas acima.
Digamos que um indivíduo se encaminha para o hospital se queixando de graves dores de cabeça que o acometem, este suposto indivíduo já foi ao hospital se queixando das mesmas dores, mas que após tomar alguns medicamentos, o quadro volta a se estabilizar sem a necessidades de exames posteriores, mas o indivíduo após tomar a medicação, ainda se queixa da mesma situação e o médico pede para que seja feita uma ressonância magnética, bem como toda série de exames afim de descartar possíveis causas mais sérias, após os exames, o médico descobre um tumor localizado no cérebro, mas que não oferece grandes riscos a sua saúde por se tratar de um tumor de pequenas proporções e ser benigno.
É neste momento que entra o meu pensamento e iremos dissecá-lo, pois bem, primeiramente, queria deixar claro de que esta situação descrita acima é somente um exemplo, uma situação fictícia para ilustrar o que quero e pretendo dizer; na situação acima, o indivíduo foi ao hospital (centros de saúde, que promovem saúde por excelência) afim de um remédio, algo que lhe aliviasse a dor de cabeça, mas diferente da situação inicial, um outro indivíduo, teoricamente dotado de mais conhecimento, saber, realizou os exames para afastar possíveis diagnósticos mais graves e descobriu-se então o tumor, ou seja, o indivíduo deixa de ser A dor de cabeça, para se tornar O tumor em um processo de desidentificação, no qual abordei com vocês no texto passado.
A palavra tumor para nós remete a muito mais do que a palavra quer dizer (um conjunto de vocais, consoantes, etc), a palavra e sua importância nos remete a uma série de questões, inclusive a morte; veja bem, a palavra em si, falada a esmo, não nos acomete, mas a medida em que determinamos e delimitamos a palavra a algum, a um ser humano, é ai que ele vem com uma série de significados e significações.
Existe também um outro fator no qual eu não posso deixar que passe em branco, a palavra vinda de um médico tem um peso enorme sobre o indivíduo e tem um peso inclusive de lei, de imperativo, de delimitação, por um processo no qual já comentei, mas que vale repetir, o ser humano não é um ser de identificação, com todas as suas questões ou não referentes a sua vida biopsicosocial, que existe, que é portador de um registro geral, de um CPF, etc, o ser humano É a doença, e como doença, como um diagnóstico, tem de ser tratado e curado; a palavra de um médico (e aqui eu retorno a questão do médico justamente para exemplificar esta relação, mas que poderia ser qualquer uma outra pessoa), a medida em que o médico tem a lei e é a lei, o indivíduo fica preso ao diagnóstico e ao poder da palavra médica, muitas vezes, não conseguindo sair do mesmo.
Para concluir, penso que o indivíduo portador de suas necessidades, não deve ficar preso a um diagnóstico ou CID, e muito menos a um outro, a voz do outro, a palavra do outro, o outro me modifica sim, mas a que medida e a qual preço? Observo que muitas vezes ficamos presos, grudados ao imperativo médico e porque não do outro, mas penso eu, é realmente necessário, é preciso ficarmos presos ao diagnóstico, a questão do outro? Talvez em uma primeira instância ou para sempre, somos seres submetidos ao olhar do outro.
Este olhar me subjuga e muitas vezes dita o que devo ou não fazer, como devo agir ou pensar, este olhar pode ter um peso muito grande a ponto de não conseguirmos nos desvincular, mas também posso encarar como somente um olhar diferente do meu; ao meu modo de pensar, o outro pode ter um olhar de desaprovação, mas eu (o que importa) tenho um olhar de aprovação perante a determinadas situações, mas lanço na verdade uma questão, o que importa a final sou eu, o meu olhar ou o olhar de aprovação do outro como no caso um médico ou alguém que venha me dizer como eu devo me sentir ou me comportar.
Caio Estan
CRP: 06/108528
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