Geoffrey Leonard Cheschire [foto] foi um dos homens mais destacados de sua geração. Militar audaz e admirado na Segunda Guerra Mundial, ele se tornou o mais jovem capitão de grupo da Royal Air Force e um dos pilotos dessa guerra mais altamente condecorados. Entre as honras recebidas, está a Cruz da Vitoria — a mais alta condecoração concedida em toda a Comunidade Britânica por bravura em combate. Ateu, ele se converteu à fé católica e fundou várias obras de caridade.
O capitão Leonard Cheschire, Barão Cheschire desde 1991, nasceu no dia 7 de setembro de 1917 em Chester, no Reino Unido, oriundo de uma família acomodada e de alto nível intelectual. Seu pai, Geoffrey Chevalier Cheschire, era importante jurista que contribuiu de forma notável para a renovação do direito mercantil britânico.
Graduado em jurisprudência pela Universidade de Oxford em 1939, certa vez Leonardo apostou uma cerveja com um amigo, de que seria capaz de caminhar até Paris (excetuando-se o Canal da Mancha) somente com alguns centavos no bolso. E ganhou a aposta. Outra vez, em 1936, em visita à Alemanha, quis assistir a um comício de Hitler, e escandalizou a muitos por não querer fazer a saudação nazista.
Quando a Segunda Guerra Mundial se aproximava, a RAF (Royal Air Force) recorreu aos campos universitários, para formar pilotos fora de seus quadros. Cheschire alistou-se no esquadrão de sua escola, qualificando-se logo como piloto na Força de Voluntários da Reserva da RAF, em abril de 1937. Promovido três anos depois a oficial aviador no Esquadrão 102, ele participou da Batalha da Inglaterra quando a RAF, em inferioridade numérica diante dos incessantes bombardeios da Luftwaffe, soube aproveitar-se dos erros do inimigo para impedir a invasão do país.
Após bombardear as instalações alemãs perto de Hamburgo, a perícia demonstrada por Cheschire ao voltar à sua base com um avião inteiramente avariado, mereceu-lhe a Ordem do Serviço Distinguido. Ele a receberia em três outras ocasiões, além da Cruz do Serviço de Voo.
Promovido a líder de esquadrão, ordenou a realização de diversas melhorias no Esquadrão 76 da RAF, sob o seu comando, a fim de levantar o moral da unidade. Inspirava tal confiança em seus subordinados, que eles exclamavam: “Somos os pardais de Cheschire”.
Depois de muitos atos de bravura e heroísmo, em julho de 1944 Cheschire recebeu a máxima distinção militar britânica — a Cruz da Vitória —, “pela valentia e determinação de um chefe excepcional”. Ele cumpriu ao todo 102 missões de voo, e sua liderança no mítico Esquadrão 617 — um dos que arrasava as rampas de lançamento dos famosos misseis V1 e V2 alemães — tornou-o uma legenda.
Em junho de 1941 ele se apaixonou por uma atriz americana mais velha do que ele 21 anos, com quem se casou. Como ambos eram ateus, o casamento foi só no civil. Isto deu ensejo a que mais tarde, com o fracasso dessa união e sua conversão à Religião católica, ele se casasse em abril de 1959 na catedral católica de Bombaim (Índia) com Sue Ryder [ao lado foto do casal], também uma convertida ao catolicismo. Eles tiveram dois filhos.
Embora em sua infância Cheschire pertencesse à Igreja da Inglaterra, ele se tornara ateu na juventude. Em 1945, durante uma conversa em um clube de Londres, ele chegou a afirmar que era um absurdo crer na existência de Deus. Alegava que foi o homem quem O inventou para explicar a voz de sua consciência.
Em sua 103ª missão, Cheschire foi como observador ao bombardeamento nuclear de Hiroshima. A violência que presenciou com a bomba atômica levou-o a ter duvidas sobre o futuro da civilização. Queria então fazer algo por ela. Por isso, pouco depois, embora sendo o capitão mais novo da RAF, decidiu abandonar o serviço ativo, alegando razões médicas.
Cheschire começou então a dedicar-se a obras filantrópicas, auxiliando especialmente os ex-combatentes que se encontravam em necessidade. Isso desfechou na criação das Casas VIP, acrônimo do latim Vade in Pace, residências que ajudariam antigos combatentes a começar uma nova vida. Ele foi auxiliado nessa inciativa por Joan Botting, viúva de outro piloto.
Considerando que suas obras ficariam sem sentido se não as amparasse um ideal mais elevado, com a ajuda dessa viúva começou a investigar muitas religiões, entre elas os Adventistas do Sétimo Dia, os Metodistas, a Alta Igreja Anglicana, à procura de uma resposta. Mas não encontrou nelas nenhuma resposta que o convencesse.
Foi então que um ex-combatente da Segunda Guerra lhe pediu um local para morar, enquanto se restabelecia de uma cirurgia. Ao saber que o doente tinha um câncer terminal, Cheschire dedicou-se a ele. E vindo depois a falecer, cuidou de seu funeral. Esse ato de caridade lhe abriu o caminho para a fé, pois nessa ocasião conheceu o livro Um Senhor, uma Fé, escrito por um ex-pastor anglicano convertido ao catolicismo, que afirmava: “Eu não pude resistir à reivindicação da Igreja Católica de ser a única verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para guardar e ensinar a verdade. Só Ela possui a autoridade e a unidade necessárias para essa vocação divina”. Ao ler essas palavras, Cheschire procurou instruir-se na Religião católica, sendo nela recebido na vigília de Natal de 1948.
Ao ingressar na Igreja católica, Cheschire encontrou o sentido para suas obras. Fiel a Jesus Cristo, dedicou os 44 anos seguintes de sua vida a tornar mais suportável a existência daqueles que sofriam alguma deficiência. Daí surgiu a maior estrutura assistencial britânica para deficientes, excetuando o serviço de saúde publica.
Tornado barão de Cheschire em 1991, Leonardo Cheschire faleceu no dia 31 de julho do ano seguinte, aos 74 anos de idade, vendo sua obra irradiar-se por 50 países.
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