Dizem os órgãos de comunicação social que o governo pretende tirar os Bombeiros Voluntários das frentes de combate e incêndios.
Ora lógico está que quem escreve um artigo destes e provavelmente que diz que pretende tomar uma medida destas deve entender tanto de incêndios florestais como eu da teoria da relatividade.
Ao longo dos últimos anos todos nós (cidadãos) percebemos que o sucesso do combate aos incêndios assenta em três pilares centrais, o primeiro relativo à prevenção estrutural, o segundo referente à vigilância, deteção e fiscalização e o terceiro respeitante ao combate, rescaldo e vigilância pós-incêndio.
Bem sabemos que o primeiro pilar nunca chegou a ser construído, e um telhado assente em dois pilares qualquer engenheiro ou arquiteto entende que é instável.
Somos um país de elites, criadas pelo atual primeiro ministro em 2006, um mundo de forças presentes num teatro de operações, cheios de patentes e diferentes missões mas apenas com um objetivo, o salvamento de vidas humanas e a preservação das florestas e dos bens.
No entanto bem sabemos (e acho que os portugueses também o sabem) quem são a força musculada da proteção civil, em maior número, com maior disponibilidade, com maior experiência e lógico está com menores custos, porque apesar de serem subsidiados estão em permanência 24 horas por dia para responder aos primeiros alertas por um preço a rondar o 1,90 € por hora, sem direito a refeições quando não estão em combate.
Após estas forças que integram o DECIF e as famosas fases há, e é importante que se sublinhe, um conjunto de pessoas (profissionais de outras áreas) que abandonam tudo para de forma voluntária e desinteressada para muscularem ainda mais o combate a incêndios.
Acreditem, e já que gostam tanto de usar o exemplo espanhol, nunca haverá tanta gente para combater incêndios como há hoje com o atual modelo.
Profissionalizar? Sim, acabem com as equipas de intervenção permanente em horário comercial de segunda a sexta e transformem-nas em equipas de resposta rápida 24 horas por dia, o socorro em todas as vertentes das missões dos Bombeiros vão agradecer!
Investir dinheiro no combate? Errado em certa parte. É preciso sim investir em formação, em condições de segurança, em melhores equipamentos de combate e na inovação.
Quem esteve nos incêndios de Pedrogão ou nos que aconteceram no domingo negro de 15 de outubro percebe que nenhuma força terrestre, seja em que quantidade for ou de que força de combate vier poderia fazer algo contra a violência das chamas empurradas pelo vento com combustível alto, floresta desordenada e populações que insistem que o mato deve entrar pelas janelas das habitações.
No entanto eu vi faixas de contenção limpas sem qualquer eficiência, terrenos lavrados em que os pequenos pedaços de erva arderam, entre outros tantos exemplos que ilustram que além do primeiro pilar da DFCI falhar à largos anos por não ter uma eficiente estratégia mostram que há alterações climáticas que irão tornar os incêndios cada vez mais violentos e não se esqueçam: enquanto houver combustível e condições climatéricas adversas misturadas com ignições propositadas ou não nada irá parar os incêndios no combate.
A zona Centro, que será uma das zonas em Portugal com mais voluntários, viu-se no dia 15 de outubro sem capacidade de responder a todas as solicitações das populações, nenhuma estratégia funcionava. A velocidade a que os incêndios passavam de concelho para concelho tornavam impossível a sua extinção Nenhum modelo assente em profissionalismo conseguiria meter tantos meios operacionais nestes teatros de operações como o atual modelo.
O 3º pilar funciona, da-se ao luxo de forças de combate que só trabalham nos incêndios e não intercedem se quer nas intempéries do inverno. Na minha opinião este pilar carece de uniformização numa só força, em torno daqueles que estão presentes pelas populações 365 dias por ano e focar os investimentos (que agora são despesa) em combate aéreo permanente e musculado, inserido na triangulação da primeira intervenção e capaz de resolver os incêndios logo à nascença.
Os incêndios de hoje ou se apagam nos primeiros 60 minutos ou então o caso complica-se.
A sua extinção após este período depende de muitos fatores, mas os mais importantes são sem dúvida as características do terreno, a vegetação e principalmente das condições climatéricas e o número de ignições que ocorrem em simultâneo, o problema não está definitivamente no combate.
Quem o diz que o problema está no combate está à procura de populismo barato e de medidas que apenas visam o sustento da máquina do fogo que lucra com todas estas tragédias.
Alguém me sabe dizer o que acontece ao valor da madeira quando a madeira não queimada se torna mais escassa?
Qual é o preço a pagar por este novo investimento em mais uma força?
Como diria Henrique Pereira dos Santos no Jornal Público: antes cabras que aviões!
Ricardo Correia – Presidente da Associação Bombeiros para Sempre
A fotografia que ilustra o artigo é da casa de um familiar do autor, que apesar de estar empenhado no combate a este incêndio não pode ajudar a salvar o que em parte também era seu.
Fonte: BPS
Nenhum comentário:
Postar um comentário