David Dinis, Director
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Bom dia!
Melhor começar com olhos postos nas ilhas:
O furacão Ophelia está a caminho dos Açores. Assim que acordei li um texto assim no Quartz: "Formou-se num sítio pouco habitual, virou-se para uma direcção pouco habitual, tem uma força pouco habitual para um furacão naquela zona, nesta época do ano". Esta é a primeira vez num século que se formam 10 furacões no Atlântico no mesmo ano. O Ophelia vai passar perto do arquipélago, já tendo passado para força 2, a mais de 160 kms/h, como explicamos aqui.
Donald Trump usou um truque para tramar o Obamacare (ou, se quiserem, as pessoas que precisam dele). Sem conseguir que o Congresso aprovasse uma nova lei, o Presidente usou uma ordem executiva para encorajar seguros de saúde baratos e pouco regulados e deu indicação para cortar subsídios às seguradoras que usem o seguro público criado por Barack Obama. É ao que podemos chamar um truque barato, de grande eficácia.
E já agora que falamos em truques: até o Pokemon Go terá sido utilizado pela Rússia para influenciar as eleições norte-americanas. Uma campanha com ligação à Rússia, mas que pertence ao movimento Black Lives Matter, utilizou o jogo que apaixonou milhões de pessoas para aprofundar as tensões raciais na América pré-eleitoral, descobriu a CNN. É caso para dizer: cuidado com o que joga.
Noutro jogo, na Taça de Portugal, o resultado foi menos perigoso: o Sporting primeiro foi sério e depois deixou a festa para o Oleiros, conta o Marco Vaza. Lá golos, houve muitos.
No Público de hoje
Vamos ao jornal do dia, que tem muito para ler (e importante):
Na Operação Marquês há uma história importante na nossa manchete:a acusação chamou seis ministros de Sócrates a depor contra o ex-PM - incluindo uma actual ministra. Há outro detalhe da investigação que vale a pena ler, onde se conta quanto cobrou o amigo de Sócrates por o ter deixado usar as contas bancárias. E ainda aqueles detalhes sobre o dia em que a mãe de Sócrates ficou "depenadinha"(a forma que a Ana Henriques encontrou de nos chamar a atenção para a forma codificada como os arguidos falavam uns com os outros).
Mas também temos que falar sobre Pedrógão. A avaliação independente sobre a tragédia saiu ontem, mostrando como o combate ao fogo se fez sem meios aéreos nas horas decisivas, ou como um comandante resolveu interromper o registo da 'caixa negra' dos eventos - apenas alguns exemplos dos muitos erros da Protecção Civil, num relatório que não poupa quase ninguém. Por lá, sabemos melhor como morreram as 64 pessoas, vemos finalmente ideias para que isto tudo não se repita. Com tudo isto, é o Governo que fica em xeque - explico eu no Editorial do dia.
Em paralelo, a Maria Lopes dá-nos conta de outra notícia importante: a esquerda voltou a unir-se e as indemnizações a Pedrógão só virão se o Estado for responsável.
O outro tema do dia é o Orçamento - que o Governo fechou depois de 14 horas (!) de reunião. Estas são as novidades mais importantes: o IRS só baixa nos dois últimos escalões com o fim da sobretaxa; vai haver um vale para mobilidade com cheque até 2750 euros; vai haver um imposto sobre o sal das bolachas e batatas fritas; o aumento das pensões será diferenciado (aqui mostramos como); as carreiras também (basta entrar para perceber). Se preferir ou lhe for mais fácil consultar de outra forma, eis o texto de síntese: o que pode mudar na sua vida em 2018.
Já agora, breves notas sobre o PSD: Ferreira Leite saiu em apoio de Rio,Relvas saiu em apoio a Santana. Quanto ao próprio Santana, recrutou um 'passista' para director de campanha. Como é de duelos que falamos, a Sofia Rodrigues escreveu-nos este "Dois homens, um destino: uma comparação possível entre Rio e Santana".
Pôr leituras em dia
Quando conseguir parar um bocadinho, estes textos são mesmo um "must read":
1. A entrevista a Daniel Bessa, que é uma surpresa. Pelo murro no estômago de nos falar de uma estratégia alternativa para o próximo Orçamento: "Com este crescimento eu teria, no mínimo, um défice zero". Pela forma como fala dos nossos políticos - sobretudo de Passos Coelho e Rui Rio. E também sobre a troika: "A intervenção externa não foi um falhanço", disse o economista ao Vítor Costa e Manuel Carvalho. Em dia de Orçamento, nada mal para nos pôr a pensar.
2. Outra entrevista, diferente, sobre saúde sexual. É ao primeiro presidente português da Associação Mundial de Saúde Sexual, Pedro Nobre, e fala-nos de uma tema difícil - e importante -. Lanço-o por aqui: "Deveria haver um consenso generalizado, quanto a reconhecer e aceitar que há pessoas que nascem com um corpo com o qual não se identificam. Depois, é preciso reconhecer que isso causa sofrimento". A questão da transexualidade, aqui conversada com a Susana Pinheiro. Que deve ser complementada com esta conversa da Amanda Ribeiro com Leandrinha Du Art, uma mulher, “trans”, a mudar o mundo sobre rodas.
3. Sobre o escândalo de abuso sexual que abala o cinema americano, leia mesmo este texto da Joana Amaral Cardoso. Tenho que lhe deixar o início: "O legado de Harvey Weinstein era para ser Pulp Fiction. Mas o legado de Harvey Weinstein vai ser (também) uma história de violência sexual, sistémica e de género. Durante décadas foi o porta-estandarte do cinema independente americano e também, denunciam agora dezenas de mulheres, de abusos mantidos em segredo. Agora, porque o momento é outro. Há um Presidente que acha que pode 'grab them by the pussy', há os casos Bill Cosby ou Fox News, há um contexto". Eis, portanto,a anatomia da queda de Harvey Weinstein. E também a análise do Jorge Mourinha, mostrando como esta indústria nunca foi tão liberal como se pinta.
4. E, falando em cinema, passe os olhos pelo ípsilon. O nosso suplemento das sextas-feiras traz-nos de volta os homens que inventaram o cinema três vezes, os Lumière, com a pedagogia e doçura de Thierry Frémaux, em Lumière! A Aventura Começa, que deixou o Vasco Câmara de olhar lavado. Por ali há mais cinema, com a vida e a morte na vida de Kiarostami, mas também uma exposição dedicada a Ana Hattherly - que nos mostra como o barroco é muito hot (expressão da Isabel Salema). Há mais lá por dentro, é só folhear e descobrir (e não há nada mais hot do que isso).
Hoje na agenda
É dia da entrega do Orçamento do Estado, mas também da ERSE fixar os cortes nas rendas de energia. Já de manhã, a ministra da Administração Interna vai responder aos deputados sobre Pedrógão Grande. Por coincidência, é também dia de um exercício público da Protecção Civil, chamado A Terra Treme, que nos promete tirar da cadeira porque é uma simulação de um sismo. Falando nisso (em termos figurados), José Sócrates dá uma entrevista à RTP pelas 21h00, a primeira desde a acusação. Pouco antes disso, Marcelo estará no concerto de encerramento do centenário do milagre de Fátima.
Assim fecho, rezando também para que tenhamos todos um belíssimo fim-de-semana (mesmo que trabalhando, como será o caso aqui). Como diz o Sérgio C. Andrade, no ípsilon a propósito dos Lumière, "é mesmo a vida, uma ilusão esplêndida!".
Dia feliz, bom fim-de-semana!
Até já!
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