A cena pode parecer clássica: o pai (ou a mãe) é permissivo com os filhos. Ao mesmo tempo a mãe (ou o pai) tenta, isolada, impor limites e direcionar a educação das crianças. Parece comum? Apesar de todos nós presenciarmos em algum momento essa cena, esse tipo de comportamento é desaconselhado e não tem nada de inofensivo. Pais que se desautorizam na frente dos filhos acabam criando pequenos manipuladores.
Isso porque a criança, que não é nem um pouco tola, aprende a moldar os pais de acordo com os próprios desejos – principalmente se observa discordâncias entre o casal. Se ela sabe que a mãe é mais branda, por exemplo, é para ela que os pedidos mais complicados serão direcionados, como dormir fora de casa ou ir a uma festinha.
Dessa maneira, não há como cobrar dos pequenos qualquer respeito por autoridade ou obediência, já que ela aprende que valores como esses não têm importância dentro de casa.
Pais que fazem isso tiram a autoridade um do outro, perante a criança. Ela entende que uma hora deve obedecer ao pai, depois à mãe. Assim, a criança vive em função do que é bom para ela, manipulando os adultos. Mas o filho precisa de limites. Cabe aos adultos cuidar disso, para que as crianças se sintam seguras e possam confiar naquelas pessoas que estão com elas.
“Vamos conversar”
Discordâncias sempre vão existir, bem como pontos de vista diferentes entre os casais. Mesmo assim, dá para chegar a um consenso quando ambos aceitam conversar sobre os pontos que têm relação com a educação dos filhos. Esse é um planejamento que precisa existir antes mesmo do nascimento da criança, para que tudo esteja muito claro.
Se não restam dúvidas entre o casal sobre o melhor direcionamento para os pequenos, não sobra nenhuma brecha para que eles se aproveitem dos atritos entre os adultos. Quando isso acontecer, porém, é importante estar preparado e evitar um “escândalo” na frente das crianças, mesmo que o parceiro tenha desautorizado alguma regra importante.
Conflitos de opiniões
Na primeira divergência, o casal deve conversar sobre o ocorrido. Mas feito longe das crianças, de modo que elas não percebam que há uma discordância entre os pais. Se o pai deixou o filho assistir à televisão um pouco mais, apesar da mãe ter negado, não é ali que eles devem conversar. É preciso esperar a tempestade passar e a criança estar ocupada com outra coisa. Do contrário, essa briga vai enfraquecendo a admiração que os filhos têm pelos pais. Além disso, eles entendem que não precisam respeitar a orientação de um ou do outro.
É assim, na base do acerto e do erro que as regras vão sendo estipuladas e acertadas pelos pais. Se a criança trouxer à tona um tema que ainda não foi discutido – e combinado – entre os adultos, a dica é jogar com sinceridade e não dar uma resposta certeira. Na dúvida, vale dizer que não sabe se pode autorizar o pedido e afirmar que irá conversar com o cônjuge a respeito. Isso mostra para a criança que existe um acordo anterior entre os pais, que não será quebrado por ela.
Sempre é possível encontrar um ponto de equilíbrio, mesmo que os pais discordem sobre as regras mais banais. Existe a possibilidade de que um dos lados seja um pouco mais tolerante e permissivo em relação às regras para tentar suprir a ausência dentro de casa ou o pouco contato com os filhos. Nesse caso, cabe conversar sobre outros meios de trabalhar essa lacuna, sem precisar autorizar todos os desejos dos pequenos.
O casal precisa se dispor a entender porque um foi contra e o outro a favor de alguma vontade dos filhos. E muitas vezes, durante uma conversa, o outro lado vai fazer mais sentido. Ser contra não é estar errado. Por isso é importante ouvir as razões do parceiro. E outra, é sempre muito mais fácil você ser permissivo. No não existe muito mais aprendizado do que no sim.
Segurança e bem-estar
Limite é algo fundamental para o bom desenvolvimento das crianças. Se elas aprendem a lidar com o “não” dos pais e sua consequente frustração já nos primeiros anos de vida, fica mais fácil amadurecer e aprender que nem tudo acontece exatamente como nós desejamos, e que não há nenhum problema nisso.
Esse tipo de equilíbrio entre os pais ajuda a criar filhos muito mais seguros, que vão se transformar em adultos com um maior autocontrole e maturidade, também. Traz uma série de vantagens. As crianças conseguem se gerir muito melhor no futuro se esse trabalho for feito anteriormente pelos pais. Não precisa ser algo extremamente rígido, mas é importante que não haja nenhuma transgressão no que for combinado entre os pais, sobre o que a criança pode ou não fazer.
Veja algumas situações do cotidiano em que os pais se desautorizam:
- Sair com os amigos: esse é um tópico que deve ser discutido e combinado pelos pais, para evitar que a criança saia escondido ou peça autorização para o pai mais permissivo.
- Presentes: o que ela pode ganhar e em quais situações? Combinar isso, em vez de simplesmente dar um presente e passar por cima da decisão do parceiro, evita que a criança tenha um lado “preferido”
- Comer fora de hora: alguns casais disputam o afeto dos filhos e liberam tudo, inclusive guloseimas fora de hora. Tudo deve ser bem regrado, inclusive a alimentação das crianças, para o bem da saúde delas.
- Dormir mais tarde: os filhos precisam de uma rotina, e isso inclui ter hora para dormir e para acordar. Se o pai autorizar que a criança durma mais tarde, deixe para conversar a respeito das regras no dia seguinte.
- Ver televisão: esse é outro tópico banal do cotidiano, mas que muitos pais passam por cima da decisão do outro. Se a desautorização acontecer, os pais devem conversar longe da criança.
- Dormir fora: se a criança sabe que um dos pais é mais permissivo e autoriza tudo, é para ele que os pedidos mais complicados serão direcionados, como dormir fora pela primeira vez. Isso não deixa de ser uma manipulação da criança
- Ficar no tablet ou no PC: esse é outro ponto que pode parecer simples, mas que deve estar acordado entre os pais. Definir todas essas regras ajuda a criança a crescer com mais segurança, confiando nos adultos que cuidam dela.
- Jogar videogame: um dos pais autoriza e participa da brincadeira, fazendo com que o outro - que define tempo certo para a atividade - fique com o papel de chato e “mandão”.
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