Segundo Aristóteles, viver em sociedade é tanto uma necessidade do homem quanto uma garantia fundamental para a existência da humanidade tal como conhecemos hoje. Se somos marcados por este traço social que nos instiga a desenvolver relações interpessoais com indivíduos, participar de grupos sociais e almejar o convívio humano, por que ainda temos dificuldade de pedir ajuda quando precisamos?
Segundo a psicóloga social Heidi Grant, a resposta para esse bloqueio está no medo da rejeição, sentimento que está enraizado na psicologia evolucionista.
Em seu livro Reinforcements (sem tradução para o português), Grant explica que buscar por suporte ou apoio a outrem é tão desconfortável que pode até trazer sensações físicas de mal estar.
Quem conseguiu identificar essa relação muito bem foi o psicólogo Stanley Milgram (pesquisador que ficou famoso por um experimento de obediência e autoridade em 1961, conhecido por Experimento de Milgram). Em um de seus testes, o estudioso estimulou algum de seus alunos – que serviam como voluntários – a irem aos metrôs e pedir para sentar em assentos que já estavam tomados por outras pessoas. Esse pedido fazia com que muitos dos participantes se sentissem traumatizados. “Eu fiquei com medo de vomitar”, disse um deles ao jornal The New York Times.
O próprio Milgram decidiu praticar o ato e analisar suas sensações. Porém, assim como seus alunos, o psicólogo congelou no momento de pedir pelo assento:
“As palavras pareciam estar alojadas na minha traqueia e simplesmente não saiam para fora”, contou em entrevista.
Após diferentes tentativas sem sucesso, quando, por fim, ouviu de um indivíduo que poderia sentar no banco dele, o desconforto foi ainda maior.
“Ao pegar o banco do homem, eu fiquei arrebatado com a necessidade de ter que me comportar como se de fato eu precisasse me sentar. Afundei minha cabeça em meus joelhos e senti meu rosto ficar pálido. Eu não estava atuando. Eu estava realmente sentindo como se fosse perecer”, relembra.
De acordo com Grant, essa sensação ruim pode ser explicada com base no comportamento social que foi implantado em nosso cérebro durante a evolução humana.
Assim como outros primatas, os seres humanos são animais sociais inerentes que necessitam do suporte de sua família e tribo para sobreviver. Como forma de garantir esse apoio, nós desenvolvemos respostas psicológicas (semelhantes à dor) que são sinalizadas quando corremos risco de ser expulsos de nosso círculo social. Ou seja, esses traços podem surgir quando nos sentimos a ameaça de perder nossa posição social, tememos ser excluídos pela tribo e também quando nos amedrontamos com uma possível incerteza ou rejeição.
Isso quer dizer que quando nos sentimos desprezados, criamos um grande sofrimento dentro de nós – e esse é um sinal de que precisamos alterar nosso comportamento para ser aceito no núcleo social mais uma vez. Pedir ajuda nesses momentos em que estamos para baixo nos deixa expostos a inúmeras ameaças sociais, e é daí que vem o desconforto.
Segundo a psicóloga, a busca por apoio pode indicar fraqueza, vir acompanhada da sensação de diminuição de status e até servir como um convite para o outro conhecer nossos traços desprezíveis – tudo abre espaço para uma possível rejeição social.
“É de se esperar, portanto, que evitemos pedir ajuda como se isso fosse um pecado”, afirma Grant.
Todavia, essa barreira que criamos é muito negativa. Conforme estudo realizado na Universidade de Cornell (Nova York), é muito raro que um pedido de ajuda venha acompanhado de quaisquer um dos cenários negativos apresentados acima. Na pesquisa, em 14 mil casos realizados em que voluntários pediam ajuda a estranhos, eles tiveram o dobro de chance de serem auxiliados do que eles imaginavam. Ou seja, é muito mais fácil conseguir ajuda do que pedir.
Com informações de The New York Times e Quartz.
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