J. Carlos * |
Vamos
lá reflectir um pouco neste tema. As duas grandes seduções para
muitos. A primeira pode alcançar-se num momento feliz. Ou até num
instante de fatalidade.
Uma
acção que dê brado, um acto que desperte entusiasmo público, um
escrito de agrado geral, um pequeno nada que chame atenção das
turbas, ou até mesmo um crime, que revolte a alma popular, qualquer
deles pode tornar um homem célebre, da noite para de manhã, e
bastantes conseguem essa espécie de celebridade.
A
glória, essa mais lenta, mais solene, mais majestosa, só se
conquista com a consagração universal, e esta, geralmente, só
depois da morte.
Às
gerações futuras pertence, pois, conferi-la, mas raros são os
bafejados por ela. Por isso a celebridade pode beneficiar, em vida, o
seu eleito, enquanto a glória deixará morrer ao abandono a sua
vítima.
A
primeira é susceptível de perder-se com a facilidade e a
celebridade com que se alcança, ao passo que a segunda poderá
perdurar pelos séculos e pelas gerações, mas já sem proveito
algum para a pessoa gloriosa. Qual das duas é a preferível? Os
espíritos ligeiros preferirão a primeira , mas as almas graves e
profundas, amarão a última.
A
celebridade é feita de fogos de vista, irisados e ruidoso; a glória
é forjada em bronze e tem ressonâncias de tempestade.
Os
que sabem olhar para o presente, são os homens práticos,
triunfadores na hora que passa; os que encaram o futuro são os
idealistas e sonhadores, imolados aos caprichos do destino.
O
ruído dos primeiros passará como o vento; o silêncio dos
segundos poderá vir a ressoar pelo mundo, longamente e sem fim.
A
glória é uma gentil donzela que a muitos seduz, mas que a poucos se
entrega.
Quem
lê a imprensa diária, principalmente as revistas da fofoquice
depara-se com celebridades sem conta a viverem uma glória
passageira, de aparências, sempre presentes nos manjares, com cargas
de snobismo doentio. Assim vai esta sociedade, este mundo.
*Director
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