sexta-feira, 2 de novembro de 2018

À Lupa | A celebridade e a glória

J. Carlos *

Vamos lá reflectir um pouco neste tema. As duas grandes seduções para muitos. A primeira pode alcançar-se num momento feliz. Ou até num instante de fatalidade.
Uma acção que dê brado, um acto que desperte entusiasmo público, um escrito de agrado geral, um pequeno nada que chame atenção das turbas, ou até mesmo um crime, que revolte a alma popular, qualquer deles pode tornar um homem célebre, da noite para de manhã, e bastantes conseguem essa espécie de celebridade.
A glória, essa mais lenta, mais solene, mais majestosa, só se conquista com a consagração universal, e esta, geralmente, só depois da morte.
Às gerações futuras pertence, pois, conferi-la, mas raros são os bafejados por ela. Por isso a celebridade pode beneficiar, em vida, o seu eleito, enquanto a glória deixará morrer ao abandono a sua vítima.
A primeira é susceptível de perder-se com a facilidade e a celebridade com que se alcança, ao passo que a segunda poderá perdurar pelos séculos e pelas gerações, mas já sem proveito algum para a pessoa gloriosa. Qual das duas é a preferível? Os espíritos ligeiros preferirão a primeira , mas as almas graves e profundas, amarão a última.
A celebridade é feita de fogos de vista, irisados e ruidoso; a glória é forjada em bronze e tem ressonâncias de tempestade.
Os que sabem olhar para o presente, são os homens práticos, triunfadores na hora que passa; os que encaram o futuro são os idealistas e sonhadores, imolados aos caprichos do destino.
O ruído dos primeiros passará como o vento; o silêncio dos segundos poderá vir a ressoar pelo mundo, longamente e sem fim.
A glória é uma gentil donzela que a muitos seduz, mas que a poucos se entrega.
Quem lê a imprensa diária, principalmente as revistas da fofoquice depara-se com celebridades sem conta a viverem uma glória passageira, de aparências, sempre presentes nos manjares, com cargas de snobismo doentio. Assim vai esta sociedade, este mundo.


*Director


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