terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

EPHEMERA REGRESSA A TORRES VEDRAS PARA EXPOSIÇÃO SOBRE A CENSURA


O arquivo histórico Ephemera de José Pacheco Pereira voltou a Torres Vedras e mais concretamente à Biblioteca Municipal para desta vez abordar a temática da censura durante o Estado Novo.

Corte-se… é o nome da exposição que está patente neste espaço desde sábado, dia 23 de fevereiro, na qual estão “expostos diversos materiais que integram um vasto arquivo de recortes e despachos da censura, originais, relativos a jornais e livros, incluindo alguns exemplares de livros que durante o Estado Novo foram proibidos ou parcialmente censurados pelo tão conhecido lápis azul”. A vertente iconográfica não ficou de fora nesta mostra com alguns cartazes alusivos à temática respetiva. Corte-se… integra ainda um documentário sobre o tema da censura durante o Estado Novo que inclui uma visita à parte do Arquivo Ephemera que contém vasto material sobre o mesmo.

Presente na inauguração desta exposição esteve a vice-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Laura Rodrigues, que referiu a propósito da mesma, a “importância de resgatar a nossa História” até porque “ainda é difícil olhar para a nossa História recente”. Agradeceu ainda a José Pacheco Pereira as evidências por ele trazidas por meio desta mostra, as quais contribuirão certamente para se criar ”um futuro melhor”.

Na sua intervenção, este historiador e político afirmou que “as pessoas não têm a noção da eficácia da censura, que foi o melhor instrumento do Estado Novo”, sendo que não existe nenhum país na Europa em que a censura tenha durado tanto tempo ininterruptamente. Pacheco Pereira acrescentou que ele próprio teve a experiência concreta da censura porque até 74 todos os seus livros foram censurados. Segundo o proprietário do Arquivo Ephemera “um dos falsos mitos é o de que a censura não era inteligente”, explicando que esta não se restringiu ao domínio da política em si, mas abarcou também outros domínios, nomeadamente no que diz respeito aos valores da autoridade em geral, valores sociais conservadores, hierarquias sociais, de uma forma geral, a tudo o que poderia colocar em causa a ideologia e a estabilidade do regime. Também segundo José Pacheco Pereira, a censura, que se prolongou por três gerações, criou uma “cultura do consenso”, ensinando a “não divergir”, gerou uma cultura “abafada, claustrofóbica”. “Quando se levantou a tampa saiu tudo cá para fora, mas a mentalidade não mudou”, na sua opinião. O historiador, também na ocasião, confidenciou que o espólio que constitui a exposição esteve quase a ser vendido para os Estados Unidos, tendo a sua aquisição para a coleção Ephemera representado um investimento financeiro significativo.

Embora pequena, esta é a maior exposição sobre a censura já realizada em Portugal, tendo já passado, na mesma dimensão, por Condeixa e Óbidos e, num formato mais alargado, por Lamego. O Barreiro será a próxima paragem de Corte-se…, que pode ser visitada até 23 de março em Torres Vedras.

Recorde-se que há cerca de um ano o Arquivo Ephemera proporcionara na Biblioteca Municipal de Torres Vedras a exposição A Propaganda nas Eleições Presidenciais dos EUA – 2016 e, sensivelmente um ano antes, no Edifício dos Paços do Concelho de Torres Vedras, uma mostra dedicada à LUAR.

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