O
relógio da torre da Câmara Municipal de Cantanhede vai estar
inativo durante os próximos três meses, tendo sido já retirado
para ser sujeito a uma reparação profunda, nas condições
adjudicadas pela autarquia. O restauro está a ser realizado por Luís
Cousinha, neto do relojoeiro que o instalou, presumivelmente em 1958,
operação que não deverá ficar concluída antes de 90 dias, devido
sobretudo à quantidade de peças que é necessário consertar ou
substituir.
Segundo
aquele especialista, o relógio não é especialmente complexo, mas
está gasto e bastante degradado, o que torna a reparação mais
demorada. O processo incidirá na “retificação
dos mecanismos que podem aproveitar-se e na substituição de outros
por novos, mas estes feitos em materiais mais resistentes, em bronze,
aço e outras ligas metálicas”. Além
disso, “o sistema será todo
polido e serão colocados novos mostradores, em acrílico, e também
novos ponteiros, estes em alumínio”.
Luís
Cousinha refere que “sistemas
deste tipo já não se fabricam desde o final da década de 1970, mas
garante que o relógio da torre da Câmara Municipal de Cantanhede
ficará como novo com o restauro que está a realizar, um restauro
que vai muito para além das
pequenas reparações realizadas nos anos 1960 e 1980 do século
passado”.
Herdeiro
de uma forte tradição familiar em relojoaria, Luís Cousinha lembra
que foi o seu avô que instalou esse sistema mecânico, provavelmente
durante o ano de 1958, conforme pode depreender-se da data da carta
que o então presidente da autarquia, Dr. Lino Cardoso Oliveira,
enviou a Manuel Francisco Cousinha, gerente de “A Boa Construtora”,
com sede em Almada, a informar que o executivo camarário, na reunião
de 14 de dezembro de 1957, “deliberou concordar com o fornecimento
do relógio, nas condições apresentadas”.
Na
missiva remetida ao relojoeiro poucos dias depois, a 27 de dezembro,
o presidente da Câmara Municipal rogava-lhe que diligenciasse “no
sentido de dar o necessário andamento, de modo a assegurar a
colocação do relógio, com a maior brevidade possível”, o que
faz supor que teria sido efetivamente instalado durante o ano de
1958.
Nascido
no fim do século XIX, no lugar de Sobral Magro, freguesia de
Pomares, concelho de Arganil, e falecido em Almada em 1962, Manuel
Francisco Cousinha é apontado como o introdutor em Portugal da
técnica de relojoaria mecânica de torre da era moderna.
Inventor
do relógio carrilhão-eletrónico, este relojoeiro mecânico deixou
um importante legado que ainda hoje é a base da manutenção e
reparação de dezenas de relógios de torre mecânicos existentes em
igrejas e edifícios públicos. Esse legado teve continuidade no seu
genro, José de Vasconcelos Forra, pai de Luís Cousinha, que
entretanto tem garantido a sua preservação, mantendo a atividade da
empresa familiar.
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