segunda-feira, 3 de junho de 2019

Morreu Agustina Bessa-Luís

A escritora Agustina Bessa-Luís morreu esta segunda-feira aos 96 anos.
Resultado de imagem para Morreu Agustina Bessa-Luís
SAPO 24
Agustina Bessa-Luís morreu hoje, no Porto, aos 96 anos, disse à Lusa fonte da família. O funeral realiza-se terça-feira, na Invicta, disse a mesma fonte.
Um comunicado será emitido hoje, pelas 15:00, através do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís, segundo a família da escritora.
A escritora, de seu nome completo Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís, nasceu em Vila Meã, Amarante, em 1922, mas passou parte da sua juventude, entre os 12 e os 18 anos, na Régua. Na sua biografia no site do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís, lê-se "que desde criança que se manifestou o gosto por escrever histórias e pela leitura começando pelos livros da biblioteca do avô materno", Lourenço Guedes Ferreira. Tendo sido através deste que tomou contacto com alguns dos melhores escritores franceses e ingleses "que lhe despertaram a arte narrativa".
A autora possui mais de 50 títulos publicados, entre romances, contos, peças de teatro, biografias romanceadas, crónicas de viagem, ensaios e livros infantis. Estreou-se como romancista em 1948, com a novela "Mundo Fechado", seguindo-se a obra "Contos Impopularesescritos entre 1951-1953.
É em 1953, com o romance "A Sibila", ao qual foi atribuído o prémio Delfim Guimarães e Prémio Eça de Queiroz, no ano seguinte, que Agustina Bessa-Luís é reconhecida como uma das vozes mais importantes na ficção portuguesa contemporânea.
A relação com a região do Douro, onde passou durante largas temporadas da sua infância e adolescência, marcaram fortemente a obra da escritora.
A sua bibliografia inclui títulos como "Os Incuráveis", “A Muralha”, "Ternos Guerreiros", "O Sermão do Fogo", "A Dança das Espadas", "As Pessoas Felizes", "Santo António", "O Concerto dos Flamengos", "Ternos Guerreiros", "A Dança das Espadas", "As Pessoas Felizes", "Crónica do Cruzado Osb", "A Brusca", "Aquário e sagitário", "Doidos e Amantes", e os três volumes de "O Princípio da Incerteza", entre outros.
O último romance que publicou, "A Ronda da Noite", saiu em setembro de 2006.
Muitas das obras de Agustina estão traduzidas em diferentes idiomas, e algumas adaptadas ao cinema, nomeadamente por Manoel de Oliveira.
A primeira adaptação de Manoel de Oliveira de um romance de Agustina foi "Francisca", inspirado em "Fanny Owen" (1980). Seguiu-se "Vale Abraão" (1991/1992); "O Convento", inspirado nas "Terras do Risco" (1995); "Party" (1996); cujos diálogos foram integralmente escritos por Agustina; "Inquietude" (1998) inspirado no conto "A Mãe de um Rio" (1981); "O Princípio da Incerteza" (2001); "O Espelho Mágico", adaptado do romance "A Alma dos Ricos" (2005).
Na comunicação social Agustina Bessa-Luís, de 1978 a 1979, fez crónicas matinais na RDP/Antena 1, que foram reunidas no volume "Crónica da Manhã" (2015), e colaborou também na RTP, nomeadamente no programa, por si idealizado, "Ela por Ela" (2005), em que conversava com a jornalista Maria João Seixas.
Foi agraciada com inúmeros prémios, como o Prémio Eça de Queirós (1954), Prémio Nacional de Novelística (1967), Prémio D. Diniz (1981) Grande Prémio Romance e Novela (1983 e 2001), Prémio Camões (2004).
Eduardo Prado Coelho, que foi um dos jurados do Prémio Camões, definiu-a como "uma extraordinária cronista com sentido de humor e uma visão original e, por vezes, desconcertante da literatura".
O escritor Vasco Graça Moura (1942-2014), que fez parte do mesmo júri, considerou-a "uma escritora universal".
Sobre Agustina, o ensaísta Eduardo Lourenço afirmou que é "incomparável" e é a "grande senhora das letras portuguesas", em declarações à Lusa, no final da cerimónia da entrega do Prémio Eduardo Lourenço à autora, há pouco mais de três anos.
Foi igualmente distinguida com a Ordem de Santiago da Espada (1980) e Officier de l’Ordre des Arts e des Lettres, atribuído pelo governo francês (1989).
Entre 1990 e 1993 assumiu a direcção do Teatro Nacional de D. Maria II (Lisboa) e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. Era ainda membro da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris) e da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Letras).
Depois de um AVC, em 2006, Agustina afastou-se da vida pública. "A minha avó percebeu que alguma coisa se passava com a saúde e entendeu que queria sair da vida pública. Foi uma vontade dela, em primeiro lugar. Uma vontade de parar e de descansar — também se queixava bastante de cansaço nessa altura", contou Lourença Baldaque, neta de Agustina, ao SAPO24 num artigo publicado em abril deste ano.
A Relógio D'Água assumiu a publicação da autora em 2017, tendo reeditado muitas das suas obras, com prefácios escritos pelos seus pares. Antes, foi editada pela Guimarães Editores desde 1954.
2018, “Ano da Agustina”, terminou com a atribuição do doutoramento 'Honoris Causa' à escritora, em Vila Real, a primeira mulher a ser distinguida com este título honorífico pela UTAD. “É sempre muito bom ver que a Agustina continua a ser homenageada, reconhecida e querida no seu país”, afirmou Mónica Baldaque, que representou a mãe na cerimónia que decorreu no 'campus' da academia transmontana.
Ao longo de 2018 foram realizadas várias iniciativas, como exposições, palestras, ciclos de cinema, colóquios, bem como atividades nas escolas "para estimular os alunos a trabalhar, a ler e a interpretar Agustina Bessa-Luís". “Há ainda muito trabalho para fazer, trabalho que não é só com Agustina, é um trabalho de educação, de preparação dos alunos e dos professores. Há muito, muito a fazer para preparar as novas gerações para lerem, para interiorizarem aquilo que leem e para utilizarem toda essa bagagem que devem adquirir ao longo do seu tempo de estudo”, disse Mónica Baldaque.
Madremedia

Nenhum comentário:

Postar um comentário