Em primeiro lugar manifesto a minha solidariedade aos municípios vizinhos de Mação, Vila de Rei e Sertã pelo atentado ambiental que sofreram e que terá impactos que todos nós vamos sentir, nos concelhos mais próximos, mas também em todo o país. Ainda que seja uma floresta que na sua maioria está desordenada, é ela que, entre tantos outros benefícios, nos permite fazer o resgate de carbono, a emissão de oxigénio, a contenção de solos e manutenção de humidade e água, a estrutura de paisagem, contribuindo para manter o equilíbrio ambiental, apesar de ainda não ser reconhecido o papel do interior do país a este nível, nem dos proprietários florestais serem ressarcidos por essa qualificação ambiental prestadora de serviços a todos.
Em segundo lugar manifesto desta forma e publicamente o orgulho de ter o conjunto de homens e mulheres que compõem o corpo ativo dos Bombeiros Voluntários de Proença-a-Nova, pois foram inexcedíveis nos esforços que fizeram para não só impedir que o incêndio entrasse no concelho de Proença-a-Nova, mas também pelo trabalho empenhado em ajudar as povoações em risco do concelho vizinho de Mação. Estiveram em Moita Ricome, na Chaveira, Chaveirinha e Casais de São Bento, só para nomear algumas. Também agradeço aos sapadores da Associação de Produtores Florestais e à Brigada de Vigilância da União de Freguesias de Proença-a-Nova e Peral que, após ter sido solicitado o seu apoio, de imediato disseram presente. Os meus agradecimentos ainda para o responsável pela Proteção Civil do Município de Proença-a-Nova, Daniel Farinha, que acompanhou permanentemente todas as operações no terreno e mobilização de meios, o operador da máquina de rastos do Município que foi incansável, bem como todos quantos se disponibilizaram voluntariamente para apoiar.
Foi graças a estes esforços conjuntos, e de todo o dispositivo no terreno, que conseguimos evitar que as chamas entrassem no concelho, apesar da forte e constante ameaça a que vamos continuar a estar sujeitos, tendo em conta as altas temperaturas previstas, os baixos níveis de água, o vento imprevisível e os motivos poucos claros de quem quer ver a floresta portuguesa reduzida a cinzas.
Acompanhei de perto a evolução do incêndio, infelizmente num cenário que me remete para há dois anos quando, precisamente a 23 de julho, começava um incêndio de grandes proporções que seria responsável pela queima de mais de sete mil hectares de floresta apenas no nosso concelho. Somos resilientes, é verdade, mas também já estamos saturados destes ciclos de fogo que arrasam tudo por onde passam e que levantam sempre as mesmas questões: de quem é a culpa? Dos proprietários, das autarquias, do Estado, do negócio do fogo? Deve-se investir mais na prevenção ou no combate?
Parece-me claro que enquanto os proprietários não forem ressarcidos pela biodiversidade que poderão gerar serão privilegiadas as culturas de mais rápido rendimento, como é legítimo. Se houver lugar ao pagamento de dividendos por se ter uma floresta cuidada, (bio)diversa, com plantas autóctones, com planos de gestão adequados e realistas, estou em crer que todos os proprietários se empenharão em mudar o cenário das imensas manchas contínuas de espécies mais propensas a arderem. Não quero com isto dizer que não haverá lugar para o pinheiro e o eucalipto, mas terão de estar confinadas a áreas que deverão ser caracterizadas em Planos Municipais Florestais. Até porque o pinheiro poderá ser utilizado para uma atividade com muito potencial: a resinagem – que contribui não apenas para a valorização desta espécie, como também para a proteção da floresta porque um pinhal resinado é um pinhal limpo.
Compete-nos a todos apontar soluções – e não o dedo -, tendo sempre em consideração que todos somos agentes de proteção civil e, mais do que nunca, temos que estar vigilantes para impedir que o que resta deste verão e início do outono não nos traga mais momentos de aflição como os que foram vividos nos últimos dias. É com o empenho de todos e contrariando comportamentos de risco que, individualmente, prestamos um serviço para o coletivo.
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