que firmou a terra e toda a sua vegetação, que dá respiração a seus habitantes, e o sopro vital àqueles que pisam o solo: […]
‘Eu sou o Senhor, esse é meu nome, a ninguém cederei minha glória, nem a ídolos minha honra. […]
“Tal como um herói, o Senhor avança; como um guerreiro, ele desperta seu ardor; lança seu grito de guerra, como um herói que afronta seus inimigos.
Muito tempo guardei o silêncio, permaneci mudo e me contive.
Mas agora grito, como mulher nas dores do parto; minha respiração se precipita.
Vou devastar montanhas e colinas, secar toda a vegetação, transformar os cursos de água em terras áridas, e fazer secar os tanques. […]
“Retrocederão, cheios de vergonha, aqueles que se fiam nos ídolos, e que dizem às estátuas fundidas: ‘Sois nosso Deus’[…]
“Quem então entregou Jacó aos saqueadores, Israel aos depredadores?
Não é o Senhor contra quem pecamos, cujas vias não quiseram seguir,
nem respeitar suas ordens.“Então, despejou sobre eles sua cólera,
e as violências da guerra; esta os envolveu de chamas
sem que se apercebessem, e os consumiu sem que dessem atenção” (Is 42, 5-25).
* * *
“Existe no coração da Virgem Maria algo além do Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo? Também nós queremos ter em nossos corações apenas um nome: o de Jesus, como a Santíssima Virgem.”
A trágica parábola deste pontificado avança com uma sucessão ininterrupta de melodramas. Não há dia que passe sem que do mais alto trono o Sumo Pontífice proceda ao desmantelamento da Sé de Pedro, usando e abusando da autoridade suprema não para confessar, mas para negar; não para confirmar, mas para enganar; não para unir, mas para dividir; não para construir, mas para demolir.
Heresias materiais, heresias formais, idolatria, superficialidades de todos os tipos: o Sumo Pontífice Bergoglio não deixa de humilhar teimosamente a mais alta autoridade da Igreja, “desmitificando” o papado — como talvez dissesse seu ilustre camarada Karl Rahner. Sua ação visa violar o Depósito Sagrado [da fé] e mutilar a Face Católica da Esposa de Cristo, dizendo e fazendo, com dissimulações e mentiras, com aqueles gestos flagrantes, de espontaneidade ostensiva, mas meticulosamente pensados e planejados, por meio dos quais ele se exalta, em uma contínua auto celebração narcísica, enquanto é humilhada a figura do Romano Pontífice, obscurecidaa do Doce Cristo na Terra.
Sua ação se serve da improvisação magisterial, daquele magistério “sem notas”, líquido, traiçoeiro como areia movediça, não somente nas grandes altitudes [das entrevistas de imprensa aéreas], à mercê de jornalistas de todo o mundo, naqueles espaços etéreos que podem patentear um delírio patológico de onipotência ilusória, mas até mesmo no contexto das funções [litúrgicas] mais solenes que devem inspirar tremor sagrado e respeito reverente.
Por ocasião da comemoração de Nossa Senhora de Guadalupe, o Papa Bergoglio deu vazão mais uma vez à sua evidente aversão mariana, a qual evoca aquela da Serpente na história da Queda e o Proto evangelho que profetiza a inimizade radical posta por Deus entre a Mulher e a Serpente, e a hostilidade declarada desta última, que tentará até o fim dos tempos fazer ciladas ao calcanhar da Mulher e triunfar sobre Ela e sua posteridade. A do Pontífice foi uma agressão manifesta às sublimes prerrogativas e atributos que fazem da Imaculada Mãe de Deus o complemento feminino do mistério do Verbo Encarnado, intimamente associada a Ele na economia da Redenção.
Depois de tê-la rebaixado a “vizinha da casa ao lado”, ou a migrante em fuga, ou a simples leiga com os defeitos e as crises de qualquer mulher marcada pelo pecado, ou ainda a mera discípula, que obviamente não tem nada a nos ensinar; depois de tê-la banalizado e dessacralizado como as feministas que estão ganhando espaço na Alemanha com seu movimento “Maria 2.0”, com o objetivo de modernizar a Madonna para torná-la um simulacro, à imagem e semelhança delas, o Papa Bergoglio assanhou-se ainda mais contra a Augusta Rainha e Imaculada Mãe de Deus, que “se mestiçou com a humanidade […] e mestiçou o próprio Deus”. Com um par de gracejos, ele feriu o coração do dogma mariano e do dogma cristológico associado a esse.
Os dogmas marianos são o selo afixado às verdades católicas de nossa fé, definidas nos Concílios de Nicéia, Éfeso e Calcedônia; eles são o baluarte inquebrável contra as heresias cristológicas e contra o desencadear furioso das Portas do Inferno. Quem os “hibridiza” e profana mostra que está do lado do Inimigo. Atacar Maria é atacar o próprio Cristo; atacar a Mãe é levantar-se contra o Filho e rebelar-se contra o próprio mistério da Santíssima Trindade. A Imaculada Theotokos [Mãe de Deus], “terrível como exércitos e bandeiras em ordem de batalha” – acies ordinata – lutará para salvar a Igreja e destruirá o exército do Inimigo solto das correntes que Lhe declarou guerra, e todas as pachamamas demoníacas retornarão com ele definitivamente ao inferno.
O Papa Bergoglio parece não conter mais sua aversão à Imaculada, nem pode ocultá-la sob essa aparatosa e ostensiva devoção quando está sob os holofotes das câmeras, enquanto na realidade está sumindo da celebração solene da Assunção e da recitação do Rosário com os fiéis, que enchiam o Pátio de San Damaso e a galeria superior da Basílica de São Pedro no tempo de S.S. João Paulo II e do Papa Bento XVI.
O Papa Bergoglio usa a pachamama para derrotar o Guadalupana. A entronização desse ídolo da Amazônia no Altar da Confissão em São Pedro não passou de uma declaração de guerra contra a Imperatriz e Padroeira de todas as Américas, que com sua aparição a Juan Diego destruiu ídolos demoníacos e conquistou para Cristo e para a adoração ao “Verdadeiro e Único Deus” os índios, graças à sua mediação materna. E isso não é uma lenda [como escreveu recentemente o Vatican News]!
Poucas semanas após o encerramento do evento sinodal que patenteou a investidura da pachamama no coração do catolicismo, descobrimos que o desastre conciliar do Novus Ordo Missae passa por uma modernização adicional, incluindo a introdução do “orvalho” [na nova tradução italiana] do cânon eucarístico, em vez da menção explícita ao Espírito Santo, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Este é mais um passo rumo à regressão a uma versão naturalista e imanentista do culto católico, a um Novissimus Ordo panteísta e idólatra. O “Orvalho” – uma entidade presente no “lugar teológico” dos trópicos amazônicos, como nós aprendemos com os Padres sinodais –, figura como o novo princípio imanente de fertilização da Terra, que a “transubstancia” em um Todo panteisticamente interconectado ao qual devemos homens assimilar-se e submeter-se para maior glória da pachamama [foto abaixo]. E eis-nos de volta às trevas de um novo paganismo, globalista e ecotribal, com seus demônios e suas perversões. Com esta enésima adulteração litúrgica, a Revelação divina decai da plenitude [da explicitação] para o arcaísmo; da identidade hipostática do Espírito Santo desliza-se para a evanescência simbólica e metafórica do orvalho, que a gnose maçônica adotou já faz tempo.
Voltemos, porém, por um momento às estatuetas idólatras de rara feiura, e à declaração do Papa Bergoglio no dia seguinte à retirada delas da igreja da Traspontina e de seu afogamento no Tibre. Também desta vez, as palavras do Papa têm o mau odor de uma mentira colossal: ele nos fez acreditar que as figuras foram prontamente exumadas das águas imundas graças à intervenção dos carabinieri. Fica-se atônito que uma trupe do Vatican News coordenada por Tornielli e [pelo Pe.] Spadaro da Civiltà Cattolica, com repórteres e cinegrafistas da imprensa cortesã, não tenham filmado a façanha dos mergulhadores e capturado o resgate das pachamamas. O fato de uma operação tão espetacular não ter sequer chamado a atenção de um transeunte, equipado com um telefone celular para filmar e depois relançar o scoop nas redes sociais, também é bastante inverossímil. Ficamos tentados a dirigir essa pergunta à pessoa que fez a declaração. Certamente, ainda desta vez, ele nos responderia com seu eloquente silêncio.
Há mais de seis anos que vamos sendo envenenados por um falso magistério, uma espécie de síntese extrema de todas as formulações conciliares ambíguas e dos erros pós-conciliares que se espalharam sem interrupção e sem que a maioria de nós se desse conta. Sim, porque o Vaticano II abriu não apenas a Caixa de Pandora, mas também a Janela de Overton [das posições “politicamente corretas” aceitas pela maioria], e o fez de maneira tão gradual que não percebemos a adulteração introduzida, a verdadeira natureza das reformas, suas dramáticas consequências, e sem que sequer nos viesse a suspeita de quem é que estava realmente dirigindo aquela gigantesca operação subversiva que o cardeal modernista Suenens chamou de “1789 [ou seja, a Revolução Francesa] da Igreja Católica”.
Assim, no decurso das últimas décadas, o Corpo Místico vem sendo lentamente drenado de seu sangue vital através de uma hemorragia irrefreável: o sagrado Depósito da Fé gradualmente dilapidado; os Dogmas desnaturados; o Culto secularizado e gradualmente profanado; a Moral sabotada; o Sacerdócio envilecido; o Sacrifício eucarístico protestantizado e transformado em um banquete de confraternização…
Agora a Igreja está esmorecida, coberta por metástases, devastada. O povo de Deus, analfabeto e privado de sua fé, tateia nas trevas do caos e da divisão. Nas últimas décadas, os inimigos de Deus transformaram progressivamente em terra devastada dois mil anos de Tradição. Com uma aceleração sem precedentes — graças à carga subversiva deste pontificado, apoiada pelo poderoso aparelhamento jesuíta —, um golpe de graça mortal está sendo assestado contra a Igreja.
Com o Papa Bergoglio — como com todos os modernistas — é impossível buscar clareza, pois a marca distintiva da heresia modernista é precisamente a dissimulação. Mestres do erro e especialistas na arte do engano, “trabalham para fazer universalmente aceitar o que é ambíguo, apresentando-o de seu lado inofensivo, que servirá como passaporte para introduzir o lado tóxico, que no início era mantido oculto” (P. Matteo Liberatore, SI). Assim, a mentira repetida obstinadamente e obsessivamente acaba se tornando “verdade” e aceita pela maioria.
Tipicamente modernista também é a tática de afirmar o que se deseja destruir, usando termos vagos e imprecisos, promovendo o erro sem nunca formulá-lo claramente. É exatamente isso que o Papa Bergoglio faz, com seu amorfismo dissolvente dos Mistérios da Fé, com a imprecisão doutrinária que lhe é própria, através da qual ele “mestiça” e destrói os dogmas mais sagrados, como fez com os dogmas marianos da Mãe Sempre Virgem de Deus.
O resultado dessa arbitrariedade é o que temos agora sob os nossos olhos: uma Igreja Católica que não é mais católica; um recipiente esvaziado do seu conteúdo autêntico e cheio de produtos reciclados.
O advento do Anticristo é inevitável, faz parte do epílogo da História da Salvação. Mas sabemos que é o prelúdio do triunfo universal de Cristo e de sua gloriosa Esposa. Aqueles dentre nós que não se deixaram enganar por esses inimigos da Igreja enfeudados no corpo eclesial devem unir-se e formar uma frente comum contra o Maligno, que apesar de há muito derrotado ainda é capaz de prejudicar e provocar a eterna perdição de multidões, mas cuja cabeça a Virgem, nossa Capitã, esmagará definitivamente.
Agora é a nossa vez. Sem mal-entendidos, sem nos deixarmos expulsar desta Igreja da qual somos filhos legítimos e na qual temos o sacrossanto direito de nos sentirmos em casa, sem que a horda odiosa dos inimigos de Cristo nos faça sentirmos marginalizados, cismáticos e excomungados.
É a nossa vez! O triunfo do Imaculado Coração de Maria — Corredentora e Medianeira de todas as graças — passa por seus “pequenos”, certamente frágeis e, além do mais, pecadores, mas de sinal absolutamente contrário ao dos membros do exército do Inimigo. “Pequenos” consagrados sem limites à Virgem Imaculada como seu calcanhar, a parte mais humilhada e desprezada, mais odiada pelo inferno, mas que junto com Ela esmagará a cabeça do Monstro infernal.
São Luís Maria Grignion de Montfort se perguntou: “Mas quando ocorrerá esse triunfo? Somente Deus o sabe.” Nossa tarefa consiste em vigiar e orar, como recomendado ardentemente por Santa Catarina de Siena: “Ai! Eu morro e não posso morrer. Não adormeceis mais com negligência; valei-vos do que é possível no tempo presente. Confortai-vos no doce Jesus Cristo. Mergulhai-vos no Sangue de Cristo crucificado, colocai-vos na cruz com o Cristo crucificado, escondei-vos nas feridas de Cristo crucificado, banhai-vos no sangue de Cristo crucificado” (Carta 16).
A Igreja está envolta nas trevas do modernismo, mas a vitória pertence a Nosso Senhor e a sua Esposa. Queremos continuar a professar a fé perene da Igreja diante dos rugidos do mal que a assedia. Queremos velar com Ela e com Jesus neste novo Getsêmani do fim dos tempos; rezar e fazer penitência em reparação pelas muitas ofensas que lhes são infligidas.
+ Carlo Maria Viganò
Arcebispo. tit. de Ulpiana – Núncio Apostólico
19 de dezembro de 2019
ABIM
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