Encontro, que reuniu centenas de docentes e responsáveis de agrupamentos no Centro de Artes de Águeda, apontou os desafios por que as escolas estão a passar
A inovação em Educação foi o tema central de um encontro que decorreu na sexta-feira, dia 24, no Centro de Artes de Águeda (CAA), organizado pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), no âmbito do Programa Educ@RA (Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar na Região de Aveiro).
Na sessão de abertura da conferência, Jorge Almeida, Presidente da Câmara de Águeda, salientou que o Concelho tem-se “afirmado no panorama nacional”, sendo “um dos 14 municípios-piloto no aproximar a educação, precursor da atual descentralização de competências, e estando hoje no pelotão da frente no que à gestão municipal de educação diz respeito”.
Defendendo que a escola e a Autarquia falam a mesma linguagem, o Edil lembrou alguns projetos protagonizados pela Câmara de Águeda, como o Águeda Educação +, “com a introdução de tecnologias de informação em contexto de salas de aula”, um projeto que já envolveu mais de 900 alunos, de vários ciclos de ensino e que, “à data do seu lançamento, se assumiu como o maior a nível nacional, sendo hoje uma referência para todos os outros municípios que adotaram ou se encontram a adotar estas mesmas medidas”.
Jorge Almeida destacou ainda o “Águeda Living Lab, o espaço de experimentação viva dos 8 aos 80 anos, aberto ao público em geral, onde a ciência e programação são tornadas em algo muito acessível”.
“A educação não-formal é um aspeto fulcral quando falamos do sucesso escolar e, como tal, temos de apresentar soluções diferentes para alunos com diferentes necessidades”, sublinhou o Presidente da Câmara de Águeda, que exemplificou com o projeto VOGUI, que “aposta em soluções diferenciadas para públicos diferenciados” e que está em fase de implementação nas escolas do Município. “Acompanhar os nossos jovens na escolha do seu futuro, atraindo para as profissões mais necessárias para o nosso concelho, trabalhando as suas capacidades é o caminho que queremos percorrer”, disse ainda Jorge Almeida.
Construção de novos centros educativos e o seu apetrechamento com novas tecnologias; o apoio às escolas no seu processo de auto-avaliação; o apoio direto aos alunos, de que é exemplo a disponibilização de terapia da fala; o apoio psicológico; o contacto com a arte e a cultura, o apoio social, são áreas em que o Município de Águeda aposta na setor da Educação.
Ribau Esteves, Presidente da CIRA, frisou, no seu discurso, o investimento e a coesão política do grupo de municípios que compõem a Comunidade Intermunicipal, fatores que a tem distinguido ao longo dos seus 30 anos de existência.
Sobre o Educ@RA, que cumpre o segundo ano letivo e está dotado de um orçamento de quatro milhões de euros, o responsável salientou que o programa está a entrar numa nova fase, dando cumprimento aos projetos de “natureza e ambiência municipal”. Ainda por concretizar está, explica, o Observatório, cujo concurso está aberto. É “uma peça importante que vem para ficar” e que permitirá “observar melhor o que estamos a fazer na área da educação e em outras áreas com impacto mais ou menos direto”, como o ensino profissional, orientando a “formação para poder responder de forma mais adequada ao que são as necessidades de hoje e perspetivar o melhor possível aquelas que vão ser as necessidades do futuro próximo”.
Ainda no âmbito do Educ@RA, vão ser lançados, nas próximas semanas, três concursos: professor inovador CIRA, escola inovadora CIRA e concurso anual steam.
Considerando que os municípios são “um parceiro importante e antigo [do Ministério] na área da educação”, Ribau Esteves abordou a descentralização de competências, afirmando-se defensor desta política e apontando os exemplos de Águeda e Oliveira do Bairro, que já têm contratos de execução formalizados, bem como os dois anos em que Ílhavo também o fez.
“Estamos numa fase de alguma mudança”, disse Cristina Oliveira, Delegada Regional de Educação da Região Centro, sobre a reestruturação de competências na área da educação, defendendo que este processo delega, para as autarquias, “competências administrativas, burocráticas, financeiras”, que permitem libertar os diretores/as “de uma carga burocrática imensa” e de “uma série de processos administrativos pesados” para se poderem dedicar “àquilo que é verdadeiramente importante na escola, as práticas pedagógicas”, esfera onde os Municípios “não têm qualquer intenção de entrar”.
Considerando que inovação e tecnologia são fatores dos quais não se pode fugir, a responsável frisa que o papel do professor será sempre útil, imprescindível. “Podemos ter toda a informação em todos os meios tecnológicos, mas há uma coisa que uma máquina jamais saberá ensinar, que é saber pensar, reflectir, ter espírito crítico, saber trabalhar em equipa, ter uma sensibilidade estética”, disse, defendendo que “nada pode substituir um professor”.
Cristina Oliveira advogou que “a educação para os valores nunca assumiu uma importância tão grande no contexto da educação como agora”. Disciplinas como a ética, a filosofia, o português, a história “são áreas que levam os alunos a refletir, a pensar, a desenvolverem aquilo que hoje é muito valorizado no sector empresarial, as ‘softskills’ e isso não se aprende com uma máquina”.
Uma forma diferente de ensinar é a abordagem de José Pacheco, educador e pedagogo, idealizador da Escola da Ponte e indutor de mais de 100 projetos de uma nova educação no Brasil. Disse, perante uma plateia constituída por docentes, que “a avaliação não é classificação”; sendo antes “construída com base em evidências de aprendizagem”.
A inovação – tema proposto na conferência de sexta-feira – prende-se, segundo José Pacheco, ao paradigma de aprendizagem ou da comunicação e não ao da instrução. “O que está a acontecer é que se está a pôr na sala de aula computadores, como se isso fosse importante; vamos continuar a enfeitar a escola com projetinhos e não saímos disto”, criticou, defendendo “escolas de excelência académica e de inclusão social, com planos de inovação”.
Numa toada mais prática, foram apresentados alguns projetos diferentes em curso na região. Lara Martins deu a conhecer as “Mentes incríveis”, que explora o lado emocional e de construção de vínculos com as crianças, onde “educação é relação”. “Precisamos de ser crianças grandes quando trabalhamos com elas; se queremos ajudar crianças, precisamos de nos aproximar da linguagem da infância e de ver o mundos pelos olhos da criança”, apontou a mentora do projeto, que centra atenções nas pessoas, mais do que o tipo de modelo, tipo de escola ou instituição. “As escolas são as pessoas, são os valores das pessoas”, frisou, avançando que, no âmbito do projeto, está a ser elaborado um manual de educação criativa e terapêutica, que demonstra os fundamentos, recursos, estratégias e dinâmicas desenvolvidas no “Mentes incríveis”.
Ana Moutas, coordenadora do Centro de Juventude de Águeda, apresentou o projeto VOGUI. Centrado na educação não-formal, este projeto da Câmara Municipal de Águeda trabalha três grandes aspetos: o auto-conceito (o que cada um é e vale), a adaptabilidade (encontrar soluções) e o conhecimento do contexto profissional real.
Está a ser aplicado em todas as escolas do 3.º Ciclo e Secundário do Município de Águeda, sendo que todos os alunos do 9.º ano frequentam o VOGUI, em sessões quinzenais. O 12.º ano é opcional, sendo, por isso, sujeito a inscrição. Para além disso, nas escolas do Concelho funciona ainda o grupo NEET, constituído por jovens que não trabalham, não estudam e que, entretanto, se perderam nos seus objetivos de vida, sendo objetivo do VOGUI recuperá-los.
Trata-se de um projeto que começou há um ano, com preparação e reuniões para definição de estratégias. A fase de implementação, que iniciou em setembro do ano passado, decorrerá até agosto de 2021, dividindo-se em dois anos letivos. Nas referidas sessões quinzenais, são trabalhadas todas as competências pessoais e sociais dos alunos. O projeto prevê ainda uma fase de testemunhos, onde profissionais das mais variadas profissões falarão com os jovens para que estes possam saber o que é trabalhar naquelas profissões; haverá ainda visitas às empresas, mostrando o tecido empresarial; e ainda a possibilidade de fazer “jobshadowing”, ou seja, que os jovens possam fazer de “sombra” durante um dia com um profissional para saberem o que exatamente corresponde fazer determinado trabalho. Previsto no projeto está também a realização de uma feira vocacional, com características inovadoras, que a seu tempo será divulgada.
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