quinta-feira, 19 de março de 2020

“Usem estatística disponível para mostrar que a pandemia não é tão severa e pode ser contida”, médico do CDC da China

Foto de Adérito Caldeira
Um grupo de médicos chineses envolvidos no combate ao covid-19, que dizem “estar agora a ver uma luz no fundo do túnel”, partilharam nesta quarta-feira (18) a sua experiência com as autoridades de saúde e migração de todos os países africanos. Respondendo a uma pergunta do director do Serviço de Assistência Médica de Moçambique, país que ainda não tem nenhum doente infectado pelo novo coronavírus, o colega na China recomendou “usem a informação estatística disponível para mostrar que a pandemia não é tão severa como parece e pode ser contida”.

Quase três meses após o início do surto de Covid-19 os médicos chineses afirmaram em vídeo-conferência “estar agora a ver uma luz no fundo do túnel”. Nesta terça-feira (17) a China, que já foi o epicentro do novo coronavírus mas viu esta semana os casos no mundo ultrapassarem os seus, registou somente 13 novas infecções, 12 deles de pessoas vindas do estrangeiro. Esta única transmissão local é um sinal de mais uma batalha vencida num país onde no mês passado chegou a registar mais de 5 mil novas infecções por dia. O número de mortes, até o final de terça-feira, na China continental era de 3.237, apenas onze a mais do que o dia anterior.

Mas antes de pararem para descansar os profissionais de saúde chineses estão a partilhar a sua experiência com o mundo. Há equipas de médicos a trabalhar na Europa, que se tornou no novo epicentro do covid-19, e começaram a acompanhar mais de perto o alastramento da pandemia pelo continente africano. Usando as novas tecnologias explicaram como reconhecer os casos suspeitos, indicaram detalhadamente as profilaxias e prescrições que usaram e resultaram no tratamento, sem esquecer de alertar para aquelas medicações que não funcionaram.

De acordo com os médicos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês) da China para detectar se uma pessoa está infectada pelo novo coronavírus, e ao contrário de outras pandemia gripais, “num estado de infecção inicial se a amostra não é suficientemente bem recolhida o resultado pode ser negativo, por isso sugerimos realizar por duas vezes o teste, alguma vezes até propusemos realizar mais do que duas vezes”.

“Tem sido debatida a questão dos pacientes assintomáticos (que estão infectados mas sem sintomas), os dados que temos disponíveis mostram que são cerca de 1 por cento”, disseram os médicos chineses que deixaram como recomendação para os seus colegas africanos: “tenham em atenção desde o início os cuidados com os profissionais de saúde, nós, priorizem-se a vocês próprios”.

“O número de doentes que tiveram alta (hospitalar) é muito alto e a mortalidade é baixa”

Na Itália, onde residem pelo menos 500 moçambicanos e que registou um cumulativo de 35.713 casos do novo coronavírus com 2.978 óbitos, o presidente da Escola Superior de Médicos-cirurgiões e Dentistas da província de Varese, na região da Lombardia, morreu na passada quarta-feira (11) depois de contrair a covid-19 enquanto trabalhava para a curar.

“Roberto Stella foi o exemplo da capacidade e do trabalho duro dos médicos de família. A sua morte representa o clamor de todos os colegas que ainda hoje não estão equipados com a proteção individual necessária ", disse o secretário da federação, Silvestro Scotti.

Intervindo na vídeo-conferência a partir de Maputo o director do Serviço Nacional de Assistência Médica, Dr. Ussene Isse, perguntou aos colegas na China o que aconselham para lidar com a actual situação de Moçambique que não tem nenhum doente infectado e nem sequer casos suspeitos mas entre a classe média alta está a aumentar o pânico principalmente influenciado por boatos disseminados nas redes sociais. Existem cada vez mais cidadãos em Maputo a trabalharem em casa e várias escolas privadas preparam-se para encerrar as suas aulas.

“É muito importante mobilizar toda a população para responder a pandemia do coronavírus, o conhecimento adquirido é importante pois trata-se de uma doença nova e as pessoas têm medo e fogem dela. Sugiro que usem a informação estatística disponível para mostrar que a pandemia não é tão severa como parece e pode ser contida. Assim que uma pessoa é diagnosticada e recebe tratamento pode recuperar-se, o número de doentes que tiveram alta (hospitalar) é muito alto e a mortalidade é baixa, em 80 por cento dos casos o Covid-19 manifestou-se de forma leve e moderada, só 20 por cento foram casos graves”, declarou o médico do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China.

No entanto os médicos chineses alertaram que é também fundamental “detectar os doentes cedo, reportar rapidamente, isolar imediatamente e iniciar urgentemente o tratamento”.

O Dr. Ussene Isse ainda perguntou se a medicina alternativa chinesa está a ser usado para o tratamento do Covid-19. “Usamos a medicina tradicional chinesa em cerca 70 por cento dos nossos pacientes, a nossa medicina tem servido para tratar casos de influenza e outras gripes normais e é também efectiva para acalmar a febre mas não conheço as plantas específica e será preciso consultar os nossos ervanários”, explicaram os médicos do CDC da China.

Entretanto a pandemia continua a espalhar-se pelo nosso continente que já tem cerca de 600 infectados e 16 óbitos. A Zâmbia, a Gâmbia e o Djibouti confirmaram nesta quarta-feira os seus primeiros casos.

Na Zâmbia, que tem uma fronteira de aproximadamente 400 quilómetros com Moçambique, na província de Tete, os dois primeiros casos de infecção por covid-19 são um casal que esteve de férias em França.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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