Portugal vai recrutar 12 mil voluntários para aferir, com uma amostra representativa da população, a prevalência da infeção respiratória covid-19 no país, um estudo que arranca hoje envolvendo várias entidades parceiras.
O estudo, que começa na prática com o recrutamento de participantes com várias idades e de 102 concelhos do país, incluindo ilhas, será conduzido pelo Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes da Universidade de Lisboa, sendo financiado em dois milhões de euros pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e pelo grupo Jerónimo Martins, refere um comunicado divulgado pelos promotores.
Os testes serológicos (recolha de uma amostra de sangue que permite detetar anticorpos para o coronavírus que provoca a doença covid-19) serão feitos, sem custos para os voluntários, até 07 de outubro em 314 postos de colheita do Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa, empresa parceira, e cobrem todos os distritos.
Os resultados do estudo, apresentado como "o primeiro painel serológico para a covid-19 de cobertura nacional alargada", são esperados no fim de outubro e permitem "dotar Portugal, e também a comunidade científica, da mais completa avaliação já realizada sobre a prevalência da infeção no país".
Em declarações à Lusa, o imunologista do IMM e investigador-principal do estudo, Bruno Silva-Santos, disse que o número de voluntários pretendido, mais amplo face a outros trabalhos, confere "robustez" ao rastreio da "seroprevalência da população portuguesa".
O painel serológico será constituído decorridos seis meses sobre o início da pandemia em Portugal, após um período de confinamento e outro de desconfinamento e depois das férias do verão, em que as pessoas "estiveram mais expostas ao exterior" e ao relacionamento com familiares, assinalou o investigador.
A amostra tem por base três grupos etários (menores de 18 anos, entre os 18 e os 54 anos e 55 ou mais anos, com estes dois últimos grupos a representarem 81% do universo de voluntários) e a densidade populacional das regiões (baixa, média e elevada).
A definição e caracterização da amostra contou com o contributo de especialistas da Pordata, base de dados organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, à qual está agregada o IMM.
Aos participantes do painel será realizado um inquérito médico para se perceber, nomeadamente, a percentagem de pessoas que têm doenças crónicas, são assintomáticas à covid-19 e estão vacinadas contra a gripe ou a tuberculose (esta última vacina parece dar alguma proteção ao organismo contra a doença covid-19, pelo menos na forma mais severa, de acordo com estudos científicos).
As pessoas podem registar-se como voluntárias no endereço http://www.painelcovid19.pt ou contactar a linha de apoio telefónico 808 100 062 (entre as 09:00 e as 18:00).
Bruno Silva-Santos adiantou que, a partir dos resultados obtidos com o primeiro painel serológico, será feito um novo estudo com um subgrupo destes voluntários, entre 2.000 a 2.400 pessoas, para acompanhar a evolução da taxa de seropositividade (presença de anticorpos para o coronavírus da covid-19 no soro sanguíneo) durante um ano e estimar a imunidade de grupo desenvolvida.
Apenas 2,9% da população portuguesa tem anticorpos contra o SARS-CoV-2, um valor estimado no primeiro inquérito serológico do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que decorreu entre 21 de maio e 08 de julho e envolveu 2.301 voluntários com idade superior a 1 ano, distribuídos pelo continente, Madeira e Açores.
A percentagem calculada é considerada inferior à necessária para se atingir imunidade de grupo.
A imunidade de grupo é o estado de proteção de uma população contra uma doença infetocontagiosa, que limita a sua disseminação.
Quando não é adquirida artificialmente através da vacinação em massa, a imunidade de grupo é conseguida, de modo natural, depois de uma parte significativa da população ter sido infetada.
Lusa
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